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Três gerentes da Caixa Asset, responsável pela gestão dos fundos de investimento da Caixa Econômica Federal, foram remanejados dos cargos após emitirem um parecer contrário à compra de R$ 500 milhões em letras financeiras (um título de dívida) do Banco Master.
Segundo uma fonte ligada à instituição, que conversou com a Gazeta do Povo em caráter reservado, o negócio foi considerado de risco e suspeito por envolver um banco sem liquidez no mercado, e concentrar praticamente todo o montante disponível da Caixa Asset para investimento em um único ativo, quando o normal seria distribuir o valor em diversos.
Ainda segundo a fonte da Caixa, que foi para outra área recentemente, os gerentes foram afastados de seus cargos pelo "Teams", aplicativo corporativo da Microsoft usado por muitas empresas, e tiveram que comunicar pessoalmente o ocorrido aos colegas, que questionaram as trocas, pelo "perfil técnico e capacidade" dos gerentes que consideraram o negócio duvidoso.
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Um parecer sigiloso, revelado pelo jornal O Globo, mostrou que a equipe de renda fixa da Caixa Asset teria desaconselhado a operação, considerada “atípica” e “arriscada” pelo valor, prazo e rating do banco - avaliação que mostra o risco de crédito de uma empresa ou país. O conceito é atribuído por agências especializadas para indicar a saúde financeira a potenciais credores ou investidores.
No documento a que o jornal teve acesso, os técnicos diziam que a gestora nunca teria aplicado um volume tão grande, num prazo tão longo (10 anos), em instituição de perfil semelhante ao do Banco Master, e por isso classificaram o negócio como "arriscado".
Após o parecer, o investimento foi retirado de pauta, mas culminou com a perda dos cargos dos gerentes responsáveis pelo parecer: o de Renda Fixa, Daniel Gacio; e o de Renda Variável, Maurício Vendruscolo. Segundo empregados da área, outro gerente, em férias, também vai perder o cargo no retorno ao trabalho.
A medida foi justificada como uma reformulação interna na área. O remanejamento dos gerentes provocou indignação entre os funcionários, os quais, segundo fontes, teriam encarado a situação como uma "retaliação".
Procurada pela Gazeta do Povo, a Caixa enviou nota em que diz que "a CAIXA Asset tem total autonomia e governança para suas tomadas de decisão", e que analisa oportunidades de alocação de recursos, alinhada com as práticas de mercado, e ainda que as operações em curso são sigilosas e ocorrem de acordo com a estratégia da empresa.
Sobre uma eventual retaliação, a Caixa nega que a prática tenha ocorrido, e afirma que realiza periodicamente avaliação do time de gestores, e que não faz parte da política da empresa nenhum tipo de retaliação, sendo que as substituições se dão com critério exclusivamente profissional.
Já o Banco Master publicou em seu site, depois da repercussão em torno do negócio, que o relatório da área técnica da Caixa Asset sobre o investimento foi produzido "sem o devido conhecimento das informações corretas sobre a instituição".
“O banco se encontra no melhor momento de sua história, com resultados muito positivos de desempenho financeiro. As letras financeiras lançadas neste ano já somam R$ 2,5 bilhões, e está no pipeline um volume superior a R$ 13 bilhões”, diz ainda a nota.
Após troca, funcionários receberam e-mail sobre aprovação de diretor-presidente em futuras indicações
Logo depois que circulou a notícia do remanejamento dos gerentes da área técnica que classificaram a operação com o Banco Master como arriscada, funcionários receberam um e-mail, ao qual a Gazeta do Povo teve acesso, onde o diretor-presidente da Caixa Asset, Pablo Sarmento, comunicava que a partir de 03 de julho todas as nomeações para funções gratificadas, técnicas e gerencias deveriam ser submetidas, por meio das diretorias, a sua aprovação prévia, o que causou estranheza em muitos empregados da instituição.
Uma fonte ouvida pela Gazeta - que trabalha na Caixa há muitos anos, disse que, na prática, a medida dificulta a logística na movimentação de cargos simples, como, por exemplo, secretárias, que agora devem passar pela aprovação do presidente. A anuência prévia do presidente, que tem uma função abrangente, para todo e qualquer tipo de cargo, provocou desconfiança entre os funcionários, que alegam que a medida não faz sentido, e pode indicar algum tipo de "carta marcada" para nomeações.
Pablo Sarmento assumiu a Caixa Asset em dezembro do ano passado, mas é funcionário de carreira com mais de 18 anos na Caixa Econômica Federal, e já atuou em diversas áreas, desde a comercial até a habitacional.
Embora circule a informação de que teria sido indicado do PL, o líder do partido na Câmara, Altineu Côrtez, negou à Gazeta do Povo que isso tenha ocorrido. Sarmento "não tem nada a ver com a gente", afirmou.
Segundo o deputado federal, a história foi inventada no ano passado, quando diversos cargos da Caixa estavam na mira do presidente da Câmara, Arthur Lira, para distribuí-los entre o Centrão e outros partidos, como o Partido Liberal. "Quiseram me derrubar, e inventaram isso", garantiu o parlamentar fluminense.
Girão cobra explicações sobre gerentes da Caixa Asset
Diante das notícias envolvendo a Caixa Asset e a tentativa fracassada de comprar títulos do Banco Master, o senador Eduardo Girão (Novo-CE) apresentou requerimento para que a Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor do Senado Federal cobre esclarecimentos da Caixa e da Caixa Asset sobre a destituição dos gerentes que se opuseram ao negócio considerado arriscado.
O senador quer que o presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Antônio Vieira Fernandes, e o CEO da Caixa Asset, Pablo Sarmento, sejam convidados para uma audiência pública, para explicar os detalhes do negócio, que foi barrado.
“Diante dos fatos expostos, é essencial que esta Comissão esclareça os motivos para a destituição dos gerentes, os riscos associados à operação com o Banco Master, as medidas de governança e os procedimentos internos adotados pela Caixa Econômica Federal para garantir a transparência e a segurança das operações financeiras, bem como os impactos dessa operação na percepção do mercado financeiro e a confiança dos investidores na instituição”, escreveu Girão, no requerimento em que propôs a audiência.
A confusão provocada pelo suposto "quase negócio" também é alvo de críticas e investigações por parte do Ministério Público, que apresentou representação ao Tribunal de Contas da União (TCU) exigindo esclarecimentos sobre a tentativa de compra de R$ 500 milhões em letras financeiras do Banco Master. O subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado cobra uma investigação detalhada de possíveis irregularidades associadas ao investimento.
Conselho de Administração vai discutir afastamento de gerentes que vetaram investimento no Banco Master
O caso dos gerentes que perderam os cargos após se manifestarem contrários ao negócio entre a Caixa Asset e o Banco Master deverá ser discutido pelo Conselho de Administração da Caixa no próximo dia 22. Além da reunião para debater o caso, a conselheira Fabiana Uehara, que representa os funcionários, enviou ofício ao presidente da Caixa, Carlos Antônio Vieira Fernandes, solicitando informações sobre o ocorrido.
Entidades representativas de empregados da Caixa também divulgaram nota expressando preocupação depois que os gerentes foram destituídos de suas funções.
"Os Gerentes em questão atuam na Caixa Asset, que conta com equipe extremamente especializada e apta a fornecer opinamento técnico qualificado para a tomada de decisão referente à gestão de ativos da CAIXA, especialmente quanto aos riscos envolvidos nas operações", diz a nota.
No documento, as entidades dizem ainda que o "opinamento técnico e qualificado dos gerentes objetivou preservar a Caixa, impedindo a realização de uma operação demasiadamente arriscada e atípica para o perfil do banco".