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O presidente da Argentina, Alberto Fernández, é recebido por Lula no Brasil após a posse, em 1º de janeiro.
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, foi recebido por Lula no Brasil após a posse, em 1º de janeiro.| Foto: André Borges/EFE

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarca para a Argentina neste domingo (22) e, na sequência, irá ao Uruguai. Será a primeira viagem internacional desde que tomou posse e marcará uma guinada à esquerda em relação à política externa do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Mas a agenda, com a visita ao Uruguai, também buscará fazer um aceno à direita internacional.

A viagem de Lula inclui a participação no encontro da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), da qual o Brasil havia se retirado no governo Bolsonaro. O brasileiro também terá reuniões bilaterais com outros chefes de Estado, incluindo o presidente de esquerda da Argentina, Alberto Fernández, e possivelmente com o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro. Na sequência, Lula segue para o Uruguai, onde ser encontrará na quarta-feira (25) com presidente conservador Luis Lacalle Pou, num aceno à direita internacional.

A escolha da Argentina para a primeira viagem internacional de Lula foi pensada de forma estratégica justamente por causa do encontro da Celac, que vai reunir diversas lideranças da América do Sul. Integrantes do governo dizem que o Brasil deve assumir o papel de protagonista para fortalecer os países do continente. A ida de Lula à Argentina será o primeiro passo desse objetivo externo do governo do PT.

"Esse é um grande projeto de política externa do presidente Lula, que há de trazer o Brasil de volta a um intenso protagonismo internacional, para que todos os brasileiros voltem a orgulhar-se do seu país", disse o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, durante evento no Itamaraty.

O Brasil havia deixado de integrar a Celac em 2020, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). À época, o então chanceler, Ernesto Araújo, justificou a medida afirmando que “a Celac não vinha tendo resultados na defesa da democracia ou em qualquer área. Ao contrário, dava palco para regimes não democráticos como os da Venezuela, Cuba, Nicarágua".  

O governo Lula, por outro lado, argumenta que a decisão de reintegrar o Brasil à Celac faz parte do projeto de “restaurar a diplomacia brasileira” e "reconstruir pontes com países sul-americanos". "O retorno do Brasil à comunidade latino-americana de Estados é um passo indispensável para a recomposição do nosso patrimônio diplomático e para a plena reinserção do país ao convívio internacional", informou o Itamaraty, em nota.

Na Argentina, Lula vai defender candidatura do Brasil para sediar a Conferência do Clima 

Em outra frente, Lula pretende usar sua viagem à Argentina para defender a candidatura do Brasil para sediar a Conferência do Clima (COP) que será promovida pelas Nações Unidas em 2025. O Palácio do Planalto decidiu lançar a capital do Pará, Belém, como candidata brasileira para ser a sede do evento. O foco no meio ambiente, uma pauta mais ligada à esquerda, é outra mudança de rumo na diplomacia brasileira em relação ao governo Bolsonaro.

Antes de tomar posse, Lula já havia afirmado que pediria à Organização das Nações Unidas (ONU) para que a Amazônia sediasse a cúpula do clima em 2025. Isso ocorreu durante a última COP, em novembro, no Egito – do qual Lula participou. A avaliação de integrantes do governo é de que o apoio dos países da América do Sul será determinante para que o Brasil seja a escolhida para a cúpula climática.

A pauta ambiental estará presente nos encontros de Lula com lideranças internacionais durante sua passagem pela Argentina. A expectativa do governo é de que o Brasil pode ser protagonista do Mercosul para destravar acordos comerciais com os países da União Europeia que enfrentam obstáculos por causa de questões ambientais. “O presidente já fez muito pelo Mercosul e vai voltar a fazer”, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante sua participação no Fórum Econômico de Davos (Suíça).

Lula terá encontros com o presidente da Argentina e Maduro

Além da participação no encontro do Celac, o Itamaraty prepara uma série de encontros bilaterais de Lula com outros líderes da América do Sul. Na agenda com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, o presidente brasileiro pretende fechar novo acordo de integração energética para levar gás natural da bacia patagônica de Vaca Muerta até o Rio Grande do Sul.

A expectativa é de que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financie o segundo trecho do gasoduto para conectar a Patagônia argentina e o Brasil. "Compartilhamos um dia de trabalho com o ministro [da Economia da Argentina,] Sergio Massa, no qual analisamos o início do ano econômico e o acordo de integração econômica e energética com o Brasil, que assinaremos em 23 de janeiro, durante a visita de Lula", disse o presidente argentino no Twitter.

Integrantes do Planalto sinalizam ainda que outros temas como comércio, defesa e cooperação na Antártica, saúde, ciência e tecnologia completam a pauta da reunião.

Lula deve ainda ter encontros com outros líderes da América do Sul em sua viagem à Argentina. Mas, segundo o Itamaraty, a agenda ainda não foi totalmente definida. 

Umas das expectativas é de que Lula também tenha sua primeira reunião com o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro. O encontro é apontado por auxiliares de Lula como "natural", tendo em vista que o Brasil retomou as relações com o atual governo venezuelano, que estavam suspensas desde o governo de Jair Bolsonaro. No encontro com Maduro, Lula deve tratar da missão que o governo brasileiro vai enviar à Venezuela para iniciar o processo de reabertura da embaixada do Brasil na capital venezuelana, Caracas. Os trabalhos serão chefiados pelo embaixador Flávio Macieira.

Lula vai ao Uruguai em aceno ao presidente conservador Luis Lacalle Pou 

Em outra estratégia de sua política internacional, Lula pretende embarcar na sequência para o Uruguai, onde terá um encontro com o presidente Luis Lacalle Pou. Conservador e de direita, Lacalle Pou esteve na posse de Lula e a visita do petista é vista com um aceno ao uruguaio. 

De acordo com integrantes do Planalto, a visita de Lula ao presidente do Uruguai será uma forma de o petista demonstrar que não pretende ignorar líderes de direita nas suas relações internacionais. A agenda e os temas do encontro estão sendo definidos com lideranças dos dois países. 

"Após aceitar o convite do presidente Luis Lacalle Pou, seu homólogo brasileiro Lula visitará o Uruguai no dia 25 de janeiro [quarta-feira]. Ambos os chanceleres estão trabalhando na agenda deste encontro bilateral", escreveu o governo uruguaio nas redes sociais.

Viagens aos estados brasileiros foram adiadas pelo Planalto 

O governo adiou uma série de viagens que Lula pretendia fazer a estados brasileiros antes de embarcar para a Argentina. A expectativa do Planalto era de que o presidente fosse aos estados da Bahia, Ceará e Rio de Janeiro para anunciar programas e inaugurar obras. No entanto, as agendas foram adiadas depois dos episódios de vandalismo nas sedes dos três poderes, em 8 de janeiro. Além disso, as obras não estavam concluídas ou, embora prontas, sofreram depredações.

“Os conjuntos habitacionais que visitamos estão todos destruídos. Mesmo os que estão prontos foram abandonados, tiveram vidros quebrados, estruturas furtadas. E nós não vamos entregar para a população desse jeito”, afirmou o ministro da Casa Civil, Rui Costa. O ministro esteve na Bahia no último fim de semana visitando obras para viabilizar a retomada do programa Minha Casa Minha Vida.

Agora, a expectativa é de que essas visitas sejam reagendas para fevereiro. “Ele [Lula] retoma essa sequência de agendas lançando programas. Teremos agendas casadas de inaugurações com lançamentos de programas nacionais em áreas prioritárias”, explicou Rui Costa.

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