Após a divulgação, nesta terça-feira (23), de suposta delação do ex-policial Ronnie Lessa, que teria apontado o atual conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ), Domingos Brazão, como mandante da morte de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, o vice-presidente nacional do PT, deputado Washington Quaquá, defendeu Brazão e disse não acreditar que tenha sido ele quem ordenou a morte da ex-vereadora do Rio de Janeiro.
Brazão é um ex-político ao MDB que apoiou a campanha de Dilma Rousseff (PT) à presidência da República e foi preso em 2017 no âmbito da Operação Lava Jato acusado de corrupção.
“Conheço o Domingos Brazão de longa data, inclusive de campanhas eleitorais nacionais onde ele esteve do nosso lado. Sinceramente, não creio que ele tenha cometido tal brutalidade. Espero que as acusações que estão lhe fazendo não sejam validadas com base apenas na delação de um assassino ligado ao bolsonarismo”, disse Quaquá em nota.
Ativistas e políticos de esquerda, que há anos tentam vincular Jair Bolsonaro (PL) e pessoas do seu entorno à morte de Marielle aguardavam que a delação apontaria para alguém próximo ao ex-presidente. Na tarde desta terça, Bolsonaro divulgou mensagem nas redes sociais sobre a delação. "O caso Marielle se aproxima do seu final com a delação de Lessa (ainda não homologada). Também cessa a narrativa descomunal e proposital criada por grande parte da imprensa e pela militância da esquerda".
A delação que teria apontado o conselheiro do TCE-RJ como mandante ainda não foi homologada pelo Poder Judiciário e não é confirmada pela Polícia Federal. A informação foi divulgada nesta terça por veículos de informação de esquerda e confirmada pela Band. A Gazeta do Povo tentou contato com o advogado de Lessa, mas o defensor não respondeu aos questionamentos.
Suposta motivação para o crime
Domingos Brazão já havia sido denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em 2019 por tentar obstruir as investigações da morte de Marielle. Porém em março do ano passado o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro rejeitou a acusação contra ele.
Brazão ficou afastado por quatro anos do cargo após ter sido preso na Operação Quinto do Ouro, realizada em 2017 como um desdobramento da Lava Jato no Rio de Janeiro. Segundo o Ministério Público Federal, ele teria recebido propina para fazer vista grossa frente a desvios dos cofres públicos praticados pelo grupo liderado pelo ex-governador Sérgio Cabral. Seu retorno ao tribunal de contas foi determinado pela justiça carioca em março do ano passado.
Entre as hipóteses para o crime contra Marielle está uma possível vingança de Brazão contra Marcelo Freixo (PT), atual presidente da Embratur, quando Freixo era deputado estadual pelo Psol. Brazão teve diversas disputas com o ex-deputado na época em que exercia o cargo de deputado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Antes de ser vereadora, Marielle Franco chegou a trabalhar por dez anos com Freixo. No ano de 2008, Brazão foi citado no relatório final da CPI das milícias, presidida por Freixo.
Após o assassinato da vereadora, o nome de Brazão surgiu como um dos suspeitos em meio à federalização do caso Marielle em 2020. Na época, a ministra Laurita Vaz, do STJ, informou que Ministério Público e a Polícia Civil do Rio chegaram a apontar a possibilidade de ele ter agido por vingança.
“Cogita-se a possibilidade de Brazão ter agido por vingança, considerando a intervenção do então deputado Marcelo Freixo nas ações movidas pelo Ministério Público Federal, que culminaram com seu afastamento do cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro. Informações de inteligência aportaram no sentido de que se acreditou que a vereadora Marielle Franco estivesse engajada neste movimento contrário ao MDB, dada sua estreita proximidade com Marcelo Freixo”, diz relatório da ministra citado pelo The Intercept Brasil.
Brazão também é apontado como líder de um poderoso grupo político da zona oeste do Rio, berço das milícias cariocas. Já respondeu por acusações de improbidade administrativa, fraude, máfia dos combustíveis e o envolvimento com milícias para a compra de votos e formação de curral eleitoral.
Pelas redes sociais, circula uma imagem dele fazendo campanha para a ex-presidente Dilma Rousseff ao lado do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB).
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