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O presidente Jair Bolsonaro e o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, ainda não bateram o martelo sobre o nome que vai compor como vice a chapa à reeleição à Presidência da República. Mas o perfil desejado já está definido: Bolsonaro quer um vice discreto e que possa agregar votos além do eleitorado mais identificado ideologicamente com o presidente.
A decisão de buscar um nome discreto é porque Bolsonaro não quer repetir o desconforto que tem atualmente com o vice-presidente Hamilton Mourão. "O presidente quer alguém que não tenha a possibilidade de fazer o que o Mourão faz, de pautar a imprensa e fazer com que tivesse ali um governo paralelo", explica um deputado aliado de Bolsonaro. "A busca é por alguém discreto, reservado, que não queira vir para ser mais estrela do que ele [Bolsonaro]."
A informação é reforçada por interlocutores do Palácio do Planalto. "Ele está tão ressabiado [com o Mourão] que deseja um cara com perfil 'baixo', que venha para somar, não incomodar", afirma um assessor palaciano. Em julho, Bolsonaro disse que, "por vezes", Mourão atrapalha o governo.
Além de discreto, quais outros perfis são buscados para o vice
Além de reservado, outras características são buscadas por Bolsonaro para sua escolha de vice para agregar votos (não necessariamente todas serão contempladas ao mesmo tempo): uma mulher, um nordestino, um evangélico ou mesmo um produtor rural do Centro-Oeste.
Desde 2020, esses perfis não saem da mesa de Bolsonaro. Por isso, sempre costumam ser considerados como vices potenciais a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves; o deputado federal Marco Feliciano (PL-SP); e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM), é outra opção que circula nos bastidores. Mas ela é mais citada, por ora, como um exemplo de perfil – embora tenha o apoio de alguns deputados mais ideológicos e até por parlamentares do Centrão.
"A Tereza é mulher, tem um perfil 'baixo', é discreta, humilde e muito bem articulada com o agronegócio", sustenta um deputado da liderança do governo no Parlamento. Embora seja um quadro que reúna qualidades elogiadas, Bolsonaro a quer na disputa pelo Senado em Mato Grosso do Sul, estado pelo qual foi eleita deputada federal.
O mesmo vale para outro sondado para vice, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, que Bolsonaro deseja lançar ao Senado por Goiás. Uma das estratégias eleitorais de Bolsonaro para 2022 é lançar candidatos ao Senado na tentativa de eleger o máximo de aliados.
Já Ciro Nogueira trabalha para montar as coalizões nos governos estaduais. E, nessas negociações, a vaga de vice pode ser ofertada para conquistar apoios.
Parte das articulações de Nogueira envolve impedir o União Brasil – partido que surge da fusão entre PSL e DEM – em seguir adiante com a ideia de ser uma alternativa da "terceira via". Para isso, o ministro da Casa Civil tem sugerido apoiar nomes do partido ao Senado e aos governos estaduais. Também oferece até mesmo o posto de vice de Bolsonaro em troca do apoio político em 2022.
Uma sugestão trabalhada por Nogueira junto à cúpula do União Brasil é oferecer a vice para um nordestino indicado com o apoio do presidente nacional do partido, o deputado Luciano Bivar (PSL-PE), e do secretário-geral, ACM Neto (DEM), pré-candidato ao governo da Bahia.
Busca por um nordestino não é definitiva e permanece em aberto
A ideia de emplacar um nordestino como vice de Bolsonaro não está fechada, embora seja vista por muitos como a alternativa que melhor pode agregar votos ao presidente na região em que ele tem mais dificuldade de conquistar votos. "Depende muito de quem vai aglutinar ainda mais na composição e o partido para onde o presidente vai", sustenta um deputado da liderança do governo.
O interesse em um vice nordestino está associado politicamente ao atual momento do país, de desgaste econômico e abismo social. A terceira via, que tem como postulantes uma maioria das regiões Sul e Sudeste, também trabalham com a possibilidade de um nordestino como vice.
"O Nordeste e o Norte são as regiões mais sofridas do país, que têm um percentual de grande de eleitores atendidos por políticas sociais e, no plano final, resolve a eleição. É uma estratégia interessante", analisa uma liderança do centro político. "O Ciro [Nogueira] quer alguém que defenda o bolsonarismo no Nordeste e que consiga aglutinar a essência nordestina", sustenta um deputado do Centrão.
O ministro das Comunicações, Fábio Faria (PSD), chegou a ter seu nome cotado como potencial vice, mas é outro com quem Bolsonaro conta como candidato ao Senado no Rio Grande do Norte. E o também ministro Rogério Marinho não deseja ser vice; e atua para ser apoiado a um cargo majoritário no Rio Grande do Norte: ou ao Senado ou o governo de Rio Grande do Norte.
Outro nordestino sondado no governo é o ministro da Cidadania, o baiano João Roma (Republicanos). Responsável por capitanear o Auxílio Brasil, ele é visto como um trunfo de Bolsonaro. Alguns no Planalto não descartam ensaiar uma candidatura de Roma ao governo da Bahia como um "balão de ensaio" para induzir ACM Neto a atuar favoravelmente, no União Brasil, por uma composição com o governo federal.
Em troca de não lançar Roma ao governo baiano, o Planalto apoiaria a candidatura de ACM Neto e alguns aliados a cargos majoritários, como o deputado Efraim Filho (DEM-PB) ao Senado na Paraíba.
Dentro da ala do PSL no União Brasil, a avaliação é de que Bivar pode enterrar uma aliança com Bolsonaro. "Se não estivesse propenso a caminhar com a terceira via, o Bivar teria topado o retorno dele [Bolsonaro] ao PSL", sustenta uma liderança do partido. O vice-presidente nacional do PSL, deputado Júnior Bozzella (SP), não vê possibilidade de o União Brasil caminhar com Bolsonaro em 2022. "Eu tenho a certeza que essa chance é nula enquanto existir espaço para o polo democrático, e essa chance da terceira via é real", sustenta.
Além do Nordeste: quais as chances de um vice com outro perfil
O perfil evangélico e o de uma mulher não será descartado também. O pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, é um dos citados nos bastidores. O nome dele é cogitado por alguns aliados religiosos e membros da bancada evangélica, mas interlocutores palacianos acreditam ser pouco provável que a ideia prospere.
"Nenhuma liderança nacional pentecostal ou neopentecostal, que são as maiores lideranças, tem o perfil low profile [discreto] que o presidente procura", diz um interlocutor do Planalto.
Além disso, há um entendimento de que um vice evangélico teria pouco a agregar em termos de votos. A avaliação é de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou mesmo um integrante da terceira via não tirarão de Bolsonaro votos do eleitorado evangélico.
Por esse motivo, alguns aliados insistem em trabalhar a ministra Damares Alves como sua candidata a vice. Os defensores e entusiastas de Damares como vice na Esplanada dos Ministérios apontam que, além de evangélica, mulher e ter uma atuação reservada, ela pode agregar o perfil social procurado por Ciro Nogueira. "A própria Damares se diz nordestina. Ainda criança, ela se mudou com a família para o Nordeste, onde morou na Bahia, em Alagoas e Sergipe", diz um interlocutor do governo. "Claro que tem toda a questão de costura política. Mas a Damares é muito carismática e poderia puxar muitos votos ao presidente", complementa.
O problema em lançá-la como vice é convencê-la a aceitar. Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, a ministra disse não ter aspiração eleitoral. “Pelo contrário, eu morro de medo da urna", declarou.