O deputado petista Washington Quaquá (RJ) deu um tapa no rosto do também deputado Messias Donato (Republicanos-ES) durante a cerimônia de promulgação da reforma tributária na tarde desta quarta-feira (20). Os dois estavam em frente à Mesa Diretora do plenário da Câmara quando a agressão ocorreu. O momento foi filmado pela deputada Silvia Waiãpi (PL-AP) – veja o vídeo abaixo.
Parlamentares da oposição estavam se manifestando contra a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no evento. Após uma breve discussão, Quaquá diz que vai acionar o Conselho de Ética contra opositores do governo que cantavam "Lula ladrão, seu lugar é na prisão". Donato aparentemente pede para ele se afastar e leva um tapa no rosto.
Antes da agressão, Quaquá fez uma ofensa aparentemente dirigida ao deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), chamando o parlamentar de “viadinho”. Ferreira estava ao lado de Donato no momento em que ele foi atingido pelo petista. "Deputado Quaquá do PT deu um murro na cara do dep. Messias Donato/ES. Impressionante como a esquerda pode tudo. Cassação já", afirmou Nikolas Ferreira.
A deputada Silvia Waiãpi, que gravou o momento da agressão contra Messias Donato, disse à Gazeta do Povo que ficou "chocada" com a atitude do parlamentar. "Estou chocada pela agressão em pleno Congresso Nacional, onde há câmera para todo lado. O ato em si, sem nenhum medo, assusta. O que ele não faria onde ninguém estivesse vendo?", declarou.
"É inaceitável a agressão física a quem quer que seja na Câmara dos Deputados. Representaremos por sua cassação no Conselho de Ética", afirmou o líder da oposição Carlos Jordy.
"Toda minha solidariedade ao Deputado Messias Donato. No Parlamento as discussões podem ser calorosas, mas não devem partir nunca para agressão física", disse Carla Zambelli.
Já a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), do mesmo partido de Donato, classificou o episódio como “absurdo” e prestou solidariedade ao colega. “Nada justifica a violência gratuita promovida pelo deputado Washington Quaquá, numa clara afronta ao decoro parlamentar. Exigimos providências por parte da Comissão de Ética da Câmara dos Deputados”, declarou a senadora.
Assista ao vídeo da agressão
Quem é Washington Quaquá
Washington Luiz Cardoso Siqueira, conhecido como Washington Quaquá, é natural de São Gonçalo (RJ). É militante do Partido dos Trabalhadores desde os 14 anos de idade. Na década de 90, aos 19 anos, passou a integrar a direção estadual do partido. Pela legenda já exerceu o cargo de prefeito de Maricá em dois mandatos.
Em 2016, em sua gestão como prefeito inaugurou uma estátua do guerrilheiro Che Guevara em frente a um hospital. Foi condenado pela Justiça Eleitoral em 2013 por abuso do poder político e ficou inelegível durante oito anos, mas mesmo assim não perdeu o cargo no município de Maricá.
Em 2018 – quando exercia o cargo de presidente do PT no Rio de Janeiro – tentou burlar a penalização e disputar uma vaga na Câmara dos Deputados, mas o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) negou seu registro de candidatura.
Após a gestão como prefeito, teve as contas reprovadas em quatro processos do Tribunal de Contas do estado. O petista também foi condenado pelo Tribunal de Justiça (TJ-RJ) por improbidade administrativa em outros quatro processos.
Nas eleições de 2022, foi eleito pela primeira vez deputado federal. Atualmente é membro da Comissão Executiva Nacional do PT, como vice-presidente nacional do partido.
Quem é Messias Donato
Exercendo o primeiro mandato como deputado federal, Messias Donato foi eleito para um cargo no legislativo pela primeira vez em 2013 como vereador de Cariacica, no Espírito Santo, onde se manteve por dois mandatos.
Conservador e apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro, na Câmara é opositor do governo Lula e tem se posicionado contra alguns dos principais temas polêmicos apoiados pelo governo, como o chamado “PL das Fake News” e o avanço da agenda pró-aborto e pró-ideologia de gênero. É idealizador da Frente Parlamentar Contra a Sexualização Precoce de Crianças e Adolescentes.
Pouco antes do início da sessão de promulgação da reforma tributária, Donato integrava um grupo de parlamentares da oposição que entoava coros contra Lula, que compareceu ao evento.
Deputado agredido diz que se sentiu humilhado
Donato falou sobre a agressão durante um discurso no plenário na Câmara nesta noite. “Por onde passei, sempre falei que minha voz seria em defesa da vida, da família, dos valores cristão, da tão sonhada liberdade”, disse. Ele ressaltou que respeita e tem amigos com quem diverge em discussões na Câmara. “Me senti muito humilhado… Quem me conhece aqui sabe que sou um apaziguador, uma pessoa do bem, do ‘deixa disso, não de briga”, afirmou.
O deputado relatou que tentou pedir para que Quaquá não falasse palavras de baixo calão durante a cerimônia e foi “surpreendido com um tapa” do lado direito do rosto. “É um absurdo, quando estava fazendo os procedimentos cabíveis [após o ocorrido], me deparo com uma reportagem em que ele falou o seguinte: ‘Eu bati mesmo e se eu puder bato de novo’. Essa Casa não é um ringue”, disse Donato.
Ele ressaltou que a discussão deve ficar no campo das ideias. “Não iremos nos calar… Confesso que tenho medo, voltando para casa, não sei, estou muito abalado psicologicamente. Ele falou que fez e fará novamente”, afirmou Donato. “Quero agradecer aos deputados que, independente da coloração partidária, estiveram aqui oferecendo solidariedade”, acrescentou. Emocionado, ele foi amparado por colegas no final de sua declaração.
Quaquá alega que reagiu a agressão anterior: "Bateu, levou"
O deputado petista afirmou, em nota nas redes sociais, que o tapa foi uma “reação” a uma “agressão anterior”. Washington Quaquá disse ter sido empurrado e acusou Donato de “proferir ofensas” contra Lula.
“Em relação ao incidente ocorrido, esclareço que minha reação foi desencadeada por uma agressão anterior. O deputado proferia ofensas contra o presidente da República quando liguei a câmera do celular com a intenção de produzir prova para um processo”, afirmou.
“Foi quando fui empurrado e tive o braço segurado para evitar a filmagem. Nunca utilizo a violência como método, mas não tolero agressões verbais ou físicas da ultra direita e sempre reagirei para me defender. Bateu, levou”, finalizou Quaquá.
Lira pediu decoro aos parlamentares durante a cerimônia
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pediu que os parlamentares respeitassem as autoridades presentes na promulgação da reforma tributária. O “puxão de orelha” aconteceu após Lula ser vaiado pela oposição. No início de seu discurso, Lira solicitou que a sessão ocorresse com o “maior nível de respeito possível”. O presidente da Câmara foi aplaudido após fazer o apelo aos presentes.
“Essa Casa representa o Brasil. É a Casa do povo. E é um dia histórico para esta Casa, para o Congresso Nacional e para o nosso país. Portanto, meus amigos e minhas amigas, vamos guardar nossas convicções para as sessões normais do plenário… Vamos fazer o máximo possível para nos comportarmos com o máximo decoro. É um pedido que faço humildemente para cada um dos deputados”, disse Lira.
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