O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse nesta quarta-feira (14) que o país "está pronto para receber todos os chefes de Estado", mas isso não tem ocorrido na prática. Matéria da Gazeta do Povo mostrou que a Ucrânia espera há seis meses um convite para que o chanceler, Dmytro Kuleba, ou o presidente, Volodymyr Zelensky visitem o Brasil.
As relações entre Brasil e Ucrânia ficaram estremecidas desde que Lula fez acenos à Rússia no contexto de guerra entre as duas nações europeias. O petista chegou a afirmar que o país invadido era tão culpado pelo conflito quanto o invasor.
Sobre o momento em que essa visita ucraniana ao Brasil poderia acontecer, Vieira disse apenas que o convite será "negociado quando adequado", sem estabelecer uma data para que isso efetivamente ocorra.
"Os tempos diplomáticos são diferentes e as visitas de chefes de Estados são negociadas. Não há nem um impeditivo e nem negativa em recebê-los [o chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba, e o presidente do país, Volodymyr Zelensky] ou para conversar. Estamos sempre abertos e prontos para conversar com todos os chefes de Estado", afirmou Mauro Vieira.
As declarações foram dadas durante Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (Creden), no Senado Federal nesta quinta-feira (14). Vieira, que comanda o Palácio do Itamaraty, foi convidado para prestar esclarecimentos sobre os posicionamentos da pasta frente a atual situação geopolítica mundial.
O chanceler, que responde pela diplomacia brasileira, também foi questionado sobre as falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre as guerras no Oriente Médio, entre Israel e Hamas; na Europa, entre Rússia e Ucrânia; e a situação eleitoral na Venezuela.
"Não há negativa", diz Vieira sobre tentativas de governo da Ucrânia vir ao Brasil
Vieira afirmou que se encontrou com o chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba, em diversas oportunidades e que os diálogos entre as partes são mantidos em nível diplomático e acontecem "constantemente". O ministro brasileiro também disse que uma visita será negociada "quando for pedido".
Quanto a Zelensky, o Mauro Vieira deu a entender que ainda não foi possível viabilizar sua visita ao Brasil. "O presidente Lula e o presidente Zelensky estiveram juntos em duas oportunidades e se reuniram em Nova York. Estou sempre em contato com o ministro e negociaremos [uma visita] no momento que for adequado e que seja pedida essa visita", afirmou o chanceler brasileiro.
Do lado ucraniano, o embaixador do Brasil na Ucrânia, Andrii Melnyk, afirma que o Brasil não tem cumprido sua parte do "acordo" que selou com a Ucrânia. No encontro bilateral entre Lula e Zelensky em Nova York, em setembro, na Assembleia Geral da ONU, o petista concordou em convidar o ucraniano para uma visita ao Brasil. O intuito seria estreitar a relação bilateral entre os países e aprofundar as trocas diplomáticas.
"Meu presidente [Volodymyr Zelensky] adoraria vir. Ele me telefonou duas vezes e me perguntou: quando eu posso ir [ao Brasil]? Isso foi em outubro, em novembro. Eu disse, bem, nós estamos tentando, estamos trabalhando. Então, agora não há convite para o meu presidente também. Isso é uma pena", disse Andrii Melnyk.
Em entrevista à Gazeta do Povo em fevereiro, Melnyk afirmou que há seis meses tenta trazer Kuleba ou Zelensky para um encontro com Lula no Brasil. O embaixador, contudo, ainda não obteve um retorno positivo do Itamaraty para viabilizar nenhuma das visitas.
"Isso é estranho para mim como embaixador. Falando honestamente, eu parei de perguntar quando o meu ministro de relações exteriores pode vir porque isso não é educado e nós não somos pedintes. Claro que ainda estamos esperando, mas esse não era o sinal que esperávamos do Brasil se o país quisesse mesmo abrir os braços e reiniciar o nosso diálogo em outro nível", afirmou o embaixador ucraniano no Brasil.
Lula já recebeu o chanceler russo 2 vezes
Enquanto Zelensky encontra dificuldades para vir ao Brasil, Lula já recebeu duas vezes o chanceler russo, Sergey Lavrov. A última visita aconteceu no dia 22 de fevereiro, dois dias antes da guerra entre Rússia e Ucrânia completar dois anos. A guerra, que teve início depois que o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou que suas tropas invadissem o país vizinho, já matou milhares de pessoas.
Além disso, Lula fez uma série de declarações contraditórias sobre o conflito. Em uma de suas afirmações, ele equiparou a responsabilidade de guerra entre Rússia e Ucrânia, ou seja, entre invasor e invadido. "Fico vendo o presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse festejando, sendo aplaudido em pé por todos os parlamentos, sabe? Ele é tão responsável quanto o Putin [líder russo Vladimir Putin]. Porque numa guerra não tem apenas um culpado", disse à revista Time em 2023.
Nesta quinta-feira (14), ao responder a questionamentos no Senado, Mauro Vieira disse que não há "dois pesos, duas medidas" nas decisões de Lula. Afirmou ainda que o petista busca dialogar com todos os lados em uma intenção de praticar o "multilateralismo". "Lula criticou duramente a invasão da Rússia à Ucrânia desde o início de seu governo. Criticou a invasão do território e defendeu a integridade territorial", defendeu Vieira. "Lula sempre promoveu e afirmou que o Brasil está pronto para participar de qualquer iniciativa que leve a um entendimento entre as duas partes", disse o chanceler durante Comissão de Relações Exteriores no Senado.
Vieira critica gastos com armas
Vieira voltou a criticar a forma como o Ocidente tem conduzido a situação na Europa. O chanceler também repetiu um discurso de Lula sobre a reversão dos gastos com armas para iniciativas que promovam a paz.
"Foram muitas as iniciativas promovidas pela União Europeia de projetos de paz. Já houve mais de uma reunião para negociar a paz, só que só tem um lado [a Ucrânia]. Então fica difícil. Não é um diálogo, é um monólogo. Eu acho que para que haja um entendimento, para que se possa chegar a alguma coisa, é preciso sempre estarem os dois lados presentes", disse Vieira ao defender a inclusão da Rússia nos diálogos para a paz sobre a guerra que Putin iniciou.
"É isso que está faltando [diálogo], não tem havido um diálogo. Até agora só há fornecimento de armas e investimentos, como eu informei a cifra de US$ 2,2 trilhões em armas, e isso aplicado de outra forma, teria um efeito muito melhor e mais benéfico para a humanidade", criticou o chanceler brasileiro.
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