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Apesar do racha que sacode o PSL há mais de duas semanas, o líder do governo na Câmara, deputado Vitor Hugo (PSL-GO), considera esse o melhor momento na relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso. Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, Vitor Hugo falou sobre a crise no partido do presidente, sua relação com o ex-líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (PSL-GO), a influência dos filhos do presidente no governo e as pautas que serão prioridade daqui para a frente no Congresso.

Vitor Hugo – que deixou de usar a patente militar "major" em seu nome político – disse considerar a crise do PSL "natural" devido ao crescimento rápido que a legenda obteve nas últimas eleições. O partido saltou de um deputado eleito em 2014 para 52 eleitos em 2018.

“É natural que um partido que tenha crescido tão abruptamente, que ele tenha dificuldade, inclusive de se entender como partido, de se posicionar, é normal. Acho que, em alguma medida, eu já previa que alguma disputa como essa aconteceria”, disse o líder do governo. “O partido está aprendendo. Não sei se haverá tempo suficiente, diante dessa escalada da crise, para que o partido aprenda a tempo de não permitir uma ruptura total”, completou.

O PSL vive uma crise que começou há quase três semanas, quando o presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse a um apoiador para “esquecer” o partido porque o presidente da sigla, Luciano Bivar (PSL-PE), estaria “queimado para caramba”. Desde então, a sigla se dividiu em duas alas: a bolsonarista, que apoia integralmente o presidente, e a bivarista, ligada ao presidente da legenda.

Nesta terça-feira (22), a Justiça concedeu uma liminar que proíbe o partido de punir os deputados aliados a Bolsonaro. O PSL pretendia suspender 19 deputados como forma de retaliação. “Na nossa perspectiva isso vai dar uma estabilidade na permanência do Eduardo [Bolsonaro] na liderança porque estava muito claro que isso era uma manobra para obter maioria”, disse Vitor Hugo.

O líder do governo ainda disse ver a crise como oportunidade. “Você pode ver uma crise de duas maneiras, como uma confusão ou como oportunidade. Essa crise, na nossa visão é uma oportunidade porque a liderança anterior nitidamente estava contra o governo”, disse, em referência ao ex-líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (PSL-GO).

Críticas a Delegado Waldir

Foi justamente contra Delegado Waldir que Vitor Hugo disparou sua artilharia. Apesar de serem do mesmo estado, o líder do governo fez questão de se distanciar de Waldir. “Nós nunca marchamos juntos. A verdade é que o Delegado Waldir conduziu a presidência do PSL em Goiás de maneira extremamente egoísta e individual”, disse.

Segundo Vitor Hugo, houve uma concentração de dinheiro dos fundos partidário e eleitoral e do tempo de TV na candidatura de Waldir, que não dividiu os recursos com os demais candidatos da sigla.

Vitor Hugo defendeu a iniciativa dos deputados da ala bolsonarista do partido de destituírem Waldir do cargo. “No momento em que ele começou a se contrapor demais ao governo, em especial no momento em que ele começou a falar dos filhos do presidente, do próprio presidente, das políticas do governo, começou a ameaçar as votações, começou a ficar insustentável”, disse.

Governo vive o melhor momento

A despeito do racha no único partido que compõe a base do governo no Congresso, Vitor Hugo considera esse o melhor momento na relação entre a Câmara e o Palácio do Planalto. “No primeiro semestre ficou uma relação estremecida, com uma série de problemas, de discussões, de quedas de braço. Mas, agora, as coisas estão se assentando muito mais”, disse.

“Com essas movimentações que o presidente fez, reequilibrando os ministérios palacianos e essa dança das cadeiras de liderança, nós podemos dizer que estamos vivendo o melhor momento para restruturação e prosseguimento agora”, completou Vitor Hugo.

Recentemente, o presidente trocou a liderança do governo no Congresso. Saiu a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), entrou o senador Eduardo Gomes (MDB-TO). Joice ficou ao lado de Bivar no racha interno do PSL.

O deputado ainda negou que os filhos do presidente atrapalham o governo. “Eu não sinto isso. Pelo contrário, os filhos do presidente atuam, na minha visão, 100% alinhados com o pai para ajudar o governo”, afirmou.

Vitor Hugo também defendeu sua própria atuação como líder, muito contestada no início do ano. “Alguns dos que me criticavam, queriam estar na função”, disse. “Minha decisão foi tomar uma postura mais discreta, mais conciliadora, para não ser mais um fator complicador”, explicou.

Pacote anticrime e abandono do governo

Relator do pacote anticrime do ministro da Justiça, Sergio Moro, o deputado Capitão Augusto (PL-SP) se queixou diversas vezes dizendo ter sido abandonado pelo governo na defesa do projeto na Câmara. O pacote está sendo analisado por um grupo de trabalho, que vem desidratando a proposta de Moro.

Vitor Hugo rebateu as críticas de Augusto. “O Capitão Augusto era vice-líder do governo até pouco tempo atrás, então, a não ser que ele próprio tenha se abandonado, ele era governo”, disse. “O que ocorreu no caso do governo foi uma priorização. A gente tinha no primeiro semestre, diante da conturbação do ambiente político decorrente da eleição, uma concentração para que a previdência andasse”, explicou.

O que vem por aí

Vitor Hugo afirma que, com as pautas econômicas encaminhadas, o governo pode começar a pensar em propor pautas relacionadas aos costumes, que também foram uma bandeira da campanha.

“As pautas econômicas começaram como prioridade porque foram as que a gente encontrou maior potencial para atrair os demais partidos, que ainda não formam uma base”, explica o líder do governo. “Conforme as pautas econômicas forem se resolvendo a gente vai conseguir introduzir as pautas de costumes de maneira paulatina, inclusive para construir maioria e não colocar as pautas logo de cara e ter alguma derrota”, diz.

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