A votação da reforma tributária na Câmara dos Deputados será um teste da influência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) entre parlamentares de direita. Inelegível pelo Tribunal Superior Eleitora (TSE), o ex-mandatário se articula com a bancada do Partido Liberal para barrar a proposta já na votação do primeiro turno, prevista para noite desta quinta-feira (6).
- Acordos de última hora mudam reforma tributária para atender a pressões e assegurar a votação
- Bolsonaro reforça oposição à “reforma tributária do PT” e diz que partido não defende os mais pobres
- Arthur Lira pede que PL não oriente bancada a votar contra a reforma tributária
- Governo libera mais R$ 5,3 bilhões em emendas parlamentares antes da votação da reforma tributária
Bolsonaro se reuniu com o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), e parlamentares do PL em uma tensa reunião, na manhã desta quinta. O direcionamento do ex-presidente é que o partido vote contra a reforma, mas o ex-ministro da Infraestrutura defende que a direita deve se posicionar a favor da reforma tributária.
Nos corredores do salão verde, a expectativa é que a bancada do PL, de 99 deputados, vote massivamente contra a proposta. No entanto, ainda não há um entendimento se o partido fechará questão sobre o assunto e orientará voto contrário. Uma fonte do PL que conversou com a Gazeta do Povo, porém, adiantou que a sigla só fechará questão se a proposta for votada hoje. Até o momento não há uma direção clara da legenda comandada por Valdemar Costa Neto.
Antes de participar da reunião com Bolsonaro, o líder da legenda na Câmara, o deputado Altineu Cortês (RJ), afirmo que o ex-presidente dará o “tom” sobre a votação. No Twitter, Bolsonaro defendeu a derrubada do projeto e lembrou as votações em que o PT foi contra, com destaque nas pautas econômicas.
“O PT não defende os mais os mais pobres (na Câmara votaram contra o parcelamento dos precatórios, quase inviabilizando o Bolsa-Família passar para R$ 600,00)”, disse o ex-presidente. E acrescentou: “Quando zeramos os impostos da gasolina, diesel, álcool e gás, o PT votou contra no Senado”.
A postura do presidente corrobora a posição que assumiu no partido após voltar ao Brasil. A expectativa do PL é utilizar o capital do político do ex-mandatário para melhorar o desempenho do partido e de aliados nas eleições municipais de 2024. De acordo com integrantes do partido, a sigla almeja eleger entre 1.000 e 1.500 prefeitos.
Tarcísio defende reforma e é rebatido por Bolsonaro
O encontro entre o Bolsonaro e Tarcísio evidenciou tensões durante as discussões internas no PL sobre a reforma. Na quarta-feira, o governador de São Paulo gerou descontentamento entre os filiados do PL ao dizer que concordava com 95% da proposta da reforma tributária.
Na reunião desta quinta, o objetivo de Tarcísio era sensibilizar o líder e membros do partido sobre o texto, movimento que também foi feito pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Ele disse que a direita deve discutir a proposta.
"Nós não podemos perder a narrativa. A direita não pode perder a narrativa de ser favorável na reforma tributária. Senão, ela acaba sendo aprovada, e quem aprovou?" , disse Tarcísio.
A declaração não surtiu efeito e gerou hostilidades por parte dos participantes. Bolsonaro tentou apaziguar a discussão, falando que o governado “não tem experiência política”.
Parlamentares do PL são contemplados com emendas antes da votação
Enquanto Bolsonaro articula pela rejeição da proposta apresentada pelo relator Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usa das ferramentas que tem disponíveis para tentar convencê-los a votar a favor da proposta.
Entre terça e quarta-feira, o governo liberou R$ 7,4 bilhões em emendas parlamentares – R$ 6 bilhões em emendas individuais. Esse dinheiro vai para obras e serviços indicados pelos parlamentares em seus redutos eleitorais.
Apenas na quarta-feira (5) foram R$ 5,3 bilhões, valor recorde para um único dia. Articuladores do governo acreditam que isso pode contribuir para puxar mais votos favoráveis à reforma tributária e outras pautas econômicas do governo, como o novo marco fiscal, que substituirá o teto de gastos, e a votação do projeto de lei do voto de qualidade do Carf, que devolve à União a última palavra em casos de empate no julgamento de litígios tributários.
Do montante liberado apenas na quarta-feira, o PL recebeu R$ 700 milhões. Contando com o que já havia sido liberado desde o início do mês, os parlamentares do PL viram suas emendas serem contempladas com R$ 850 milhões.
O PP, partido de Arthur Lira, o principal articulador da reforma na Câmara, foi o partido mais contemplado com o comprometimento de verba para emendas: R$961,6 milhões nos primeiros cinco dias de julho.
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