No ano passado, os políticos brasileiros descobriram que pouco importa o tempo disponível no horário eleitoral gratuito na televisão: a campanha correu solta em outra arena, o WhatsApp. Pelo menos um em cada quatro brasileiros recebeu alguma mensagem de um número desconhecido, com conteúdo político durante as eleições de 2018, de acordo com uma pesquisa realizada pela Opinion Box.
Mas, será que o aplicativo de mensagens definiu o pleito no ano passado? É isso que o centro de pesquisas interdisciplinar InternetLab se propôs a investigar no estudo exploratório “Santinhos, memes e correntes: um estudo sobre spam político no WhatsApp”.
O protagonismo do mensageiro mostrou que a forma de se fazer campanha mudou e as respostas coletadas pelo InternetLab são um ponto de partida para entender o que aconteceu. Foram 78 questionários respondidos por brasileiros de todas as regiões do país, que citaram 31 candidatos e 11 partidos diferentes. A polêmica do uso da ferramenta durante as eleições foi tanta que o WhatsApp chegou a limitar o envio de mensagens na tentativa de evitar a propagação das fake news.
Veja 8 pontos destacados na pesquisa e que ajudam a entender o que aconteceu.
Bolsonaro e Lula não estão sozinhos: quem apareceu na pesquisa
Além de mensagens sobre Jair Bolsonaro (PSL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), outros presidenciáveis citados na pesquisa foram Fernando Haddad (PT), que substituiu Lula, e Henrique Meirelles (MDB), que foi ministro da Fazenda do governo de Michel Temer (MDB). O conteúdo apresentado no levantamento mostrava, por exemplo, uma tabela que comparava Bolsonaro e Haddad e um texto com o resumo das propostas do capitão.
Mas foram os candidatos que disputaram cargos no Legislativo e Executivos estaduais que mais enviaram spam. O spam é uma mensagem não solicitada pelo usuário e normalmente enviada por um contato desconhecido.
VEJA MAIS: Confira a lista completa dos políticos citados na pesquisa
Pelo menos 26 políticos foram citados como spammers: oito candidatos a vagas nas Assembleias Legislativas, 12 postulantes à Câmara Federal, três potenciais senadores e outros três que miraram o cargo de governador.
Um fato curioso é que um dos políticos listados sequer concorreu: é Odelmo Leão (PP), de Minas Gerais. Atualmente Leão é prefeito de Uberlândia, e já foi deputado federal por cinco mandatos. Ele não concorreu na última eleição, mas aproveitou para distribuir uma corrente e um vídeo.
Políticos experientes se deram mal...
O WhatsApp entrou na mira de políticos experientes. Eles bem que tentaram aumentar o engajamento com o povo, mas não conseguiram se eleger. Um deles é o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), que concorreu ao governo mineiro. Ele, que já foi governador do estado entre 2010 e 2014, não conseguiu se eleger dessa vez. O mandato dele no Senado vai até 2023.
Com uma carreira extensa na política Ronaldo Lessa (PDT-AL), atual secretário de Agricultura de Alagoas, tentou uma vaga na Câmara dos Deputados, mas não foi eleito. Lessa é ex-governador de Alagoas e começou sua carreira política há mais de 30 anos.
Novato eleito
A maioria dos spams recebidos pelos entrevistados citava políticos experientes, que concorriam acargos do legislativo e executivo. De acordo com o levantamento, o único novato que conseguiu se eleger foi Romeu Zema (Novo), atual governador de Minas Gerais.
Quem mais gastou, não se elegeu
O campeão de gastos com mensagens foi Henrique Meirelles (MDB), que concorreu à presidência, mas acabou no sexto lugar, com 1,21% dos votos válidos. Ele declarou ao TSE que gastou R$ 2 milhões só com o envio de mensagens. Atualmente, ele é secretário da Fazenda do estado de São Paulo, comandado por João Dória Jr (PSDB).
Dos 31 políticos citados na pesquisa, apenas oito se elegeram: Jair Bolsonaro (PSL), Ricardo Mellão (NOVO-SP), Angelo Coronel (PSD-BA), Jaques Wagner (PT-BA), Carlo Caiado (DEM-RJ), Leonídio Bouças (MDB-MG), Professora Nilse (PRB-PA) e Romeu Zema (NOVO-MG).
Sem declaração de gasto
Poucos candidatos declararam gastos com envio de mensagens ou impulsionamento de conteúdo nas redes sociais. Os pesquisadores cruzaram os nomes dos políticos citados no levantamento com as prestações de contas publicadas no Tribunal Superior Eleitoral.
Dos 31 citados na pesquisa, apenas seis declararam de forma clara gastos com envio de mensagens: Antonio Anastasia (PSDB-MG), Arnaldo Faria de Sá (PP-SP), Henrique Meirelles (MDB), Osvaldo Mafra (Solidariedade-SC), Professor Calasans Camargo (PRP - MG) e Romeu Zema (NOVO - MG).
Ainda assim, não existe clareza ou padrão na declaração de gastos com mensagens. Dos seis que mencionaram esse tipo de gasto, cinco não citaram o WhatsApp, quatro informaram o envio de SMS e um fez uma declaração genérica, classificando como “mensagem eletrônica”. Apenas Antônio Faria de Sá, que tentou uma vaga na Câmara dos Deputados, declarou expressamente a utilização de envio de mensagem por meio da plataforma WhatsApp. Ele não foi eleito.
Textões e memes
Vídeos, textos, áudios, correntes, imagens e links soltos foram identificados como os principais conteúdos compartilhados pelo mensageiro na pesquisa. Os santinhos, peças simples para a apresentação dos candidatos, foram enviados em maior número pelos políticos interessados em uma vaga no legislativo.
Já conteúdos com texto mais complexos sobre a polarização política estavam associados aos candidatos ao executivo. O levantamento também detectou que, algumas vezes, essas pessoas que receberam as mensagens foram incluídas em grupos de Whatsapp sem autorização prévia. O tema desses grupos era, em geral, “defesa da democracia”.
Da direita à esquerda
O envio de spam político pelo WhatsApp foi prática corrente de candidatos da direita à esquerda. Apresentações ideológicas de todos lados foram citadas e vários conteúdos não estavam vinculados diretamente a candidatos ou partidos.
Um exemplo foram as mensagens que deslegitimam, de acordo com o estudo, a disputa midiática entre PT e PSL e a distribuição de uma informação falsa que insistia na tese que de votos nulos não eram computados pelas urnas eletrônicas.
Dificuldade de analisar dados do Whatsapp
Uma das dificuldades enfrentadas pelos pesquisadores é de que não existe uma base de dados fornecida pelo próprio WhatsApp para tratar sobre o tema, até porque a criptografia de mensagens de ponta a ponta é feita justamente para proteger a privacidade do usuário. Por isso, o projeto não poderia ter sido feito sem o consentimento deles.
Também é feita a ressalva de que o conteúdo recebido depende da percepção do usuário para decidir o que é ou não spam. Também não foi possível analisar a origem de todas as mensagens – se eram contratadas pelas próprias campanhas ou fruto da ação de apoiadores. De acordo com o documento o estudo é a “primeira luz sobre uma comunicação política pouco transparente”.
Confira os políticos citados no levantamento:
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