Eleito na esteira da popularidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o deputado federal Yury do Paredão (PL-CE) contrariou a orientação do Partido Liberal e corre o risco de ser expulso da legenda por indisciplina. O parlamentar foi fotografado, na semana passada, "fazendo o L" ao lado de dois ministros do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – Paulo Pimenta (PT), da Comunicação Social, e Waldez Góes (PDT), do Desenvolvimento Regional. O sinal de L com os dedos é uma demonstração de apoio a Lula. Paredão se licenciou espontaneamente alegando motivos pessoais.
Nesta segunda-feira (18), o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, deu início a um procedimento que pode expulsar Yury da sigla. "Solicitei ao diretório do PL no Ceará a abertura do processo de expulsão do deputado federal Yury do Paredão. Ao que tudo indica, o parlamentar licenciado parece não comungar com os ideais do Partido Liberal", disse Costa Neto.
Apesar da ameaça de expulsão, o deputado Yury do Paredão voltou a fazer acenos ao governo. Ele disse, nesta quarta-feira (19), que o programa Desenrola Brasil, lançado pelo governo nesta segunda para renegociação de dívidas, é uma "iniciativa importante" para a economia do Brasil. Também nesta semana, o deputado prestou solidariedade ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, após o magistrado denunciar que foi "atacado" por brasileiros no aeroporto de Roma, na Itália.
O deputado de 34 anos que está flertando com o lulopetismo é Yury Bruno Alencar Araújo. Ele fez carreira como empresário e produtor do ramo musical, atividade que lhe rendeu o apelido usado nas urnas. O escritório dele lançou, entre outros nomes, o cantor Jonas Esticado, também de Juazeiro do Norte, um dos principais cantores do forró da atualidade.
Entre as polêmica que acumula, Yury do Paredão chegou a passar uma semana preso em 2018, após um vídeo, no qual ele aparecia atirando contra o chão, na direção de um funcionário em uma fazenda no Ceará, viralizar nas redes sociais. "Vamos ver se ele tem cócegas agora", diz uma voz ao fundo da gravação, enquanto o empregado tenta se proteger e outros homens riem da suposta brincadeira. Na época, ele foi autuado por porte ilegal de arma de fogo e disparos de arma de fogo, mas o Superior Tribunal de Justiça (STJ) aceitou os argumentos da defesa e concedeu um habeas corpus a ele, segundo informou o jornal O Povo à época.
Yury foi eleito pela primeira vez em 2022, com 90.425 votos da população cearense, sendo o 18º mais votado entre 22 eleitos no estado. Enquanto ainda era pré-candidato, participou de um evento da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em Juazeiro do Norte, sua cidade natal.
No fim do ano passado, já eleito, Yury envolveu-se em um novo escândalo. Na ocasião, a Polícia Federal cumpriu dez mandados de busca de apreensão e dois de prisão preventiva contra suspeitos de diversos crimes contra a administração pública, como fraude em licitações e lavagem de dinheiro.
De acordo com a Polícia Federal, o crime teria ocorrido em contratos firmados pela Prefeitura de Ouricuri, em Pernambuco, com empresas prestadoras de serviços sediadas nos estados do Pernambuco e do Ceará. Um dos mandados de busca e apreensão foi cumprido na residência do parlamentar, que negou irregularidades.
Yuri do Paredão retirou apoio à CPMI do 8/1 e votou a favor da reforma tributária
No início deste ano, já como deputado, Yury também acenou ao Palácio do Planalto. Enquanto o governo articulava para evitar a instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos do dia 8 de janeiro, ele chegou a retirar sua assinatura do requerimento.
Além disso, o Yury foi um dos 20 deputados do Partido Liberal que votaram a favor da Reforma Tributária, aprovada na Câmara no último dia 6 de julho, apesar da oposição de Bolsonaro à proposta.
"Uma conquista de todos! O plenário da Câmara aprovou em segundo turno, por ampla maioria, o texto-base da PEC da reforma tributária. Agora, aguardamos a votação dos destaques para que a proposta siga para o Senado. Seguiremos empenhados em buscar soluções que fortaleçam nossa economia e promovam a justiça fiscal.", disse o parlamentar no Twitter.
O deputado cearense atualmente se encontra de licença do mandato para tratar de "assuntos pessoais". Em seu lugar, foi convocada a vereadora Priscila Costa, sua suplente.
Colegas de partido criticam postura de Yuri do Paredão
Em maio, Yury já havia aparecido em foto ao lado de Lula, durante evento de assinatura do Pacto Nacional pela Retomada de Obras da Educação Básica, no Crato, cidade vizinha a Juazeiro do Norte. Ele subiu ao palanque com o governador do Ceará, Elmano de Freias (PT), e o ministro da Educação Camilo Santana.
Parlamentares do PL criticaram a postura do parlamentar. O deputado André Fernandes (PL-CE) foi um dos que criticou o conterrâneo. “Deputado do PL que posa ao lado do maior ladrão da história do Brasil em foto tem que ser expulso imediatamente do partido. Quem tem 'honra' em receber Lula, não tem honra para permanecer no nosso partido", disse Fernandes.
Ao jornal O Globo, Yury do Paredão disse que o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, entenderá o motivo de seu encontro com o presidente. “Não fiz nada de errado, sou um político estadista. Valdemar é muito sensato, grande entendedor da política e acho que vai entender minha posição enquanto deputado federal. Não estava levantando bandeira para A ou para B, estava cumprindo meu papel de receber o presidente”, argumentou.
Mesmo expulso, Yury do Paredão pode manter o mandato
De acordo com a Constituição Federal, em seu artigo 17, o parlamentar pode ser expulso do partido em caso de infidelidade partidária – princípio que enseja a autonomia da organização dos partidos políticos. No entanto, Yury deve continuar com o mandato caso a expulsão realizada por Valdemar seja aprovada pela sigla.
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), é “incabível a ação de perda de mandato eletivo por infidelidade partidária quando o desligamento de filiado decorre de decisão de expulsão proferida pela agremiação política à qual estava vinculado”.
Nesse contexto, o líder da oposição na Câmara, o deputado federal Jordy (PL-RJ) fez um apelo ao líder da sigla para que Yury não seja expulso. Para o deputado, a expulsão é o que o correligionário deseja.
"É óbvio que todos queremos a punição dos traíras, mas expulsar o deputado é fazer exatamente o que ele quer. Se ele for expulso, ele carregará seu mandato e poderá se filiar ao PT ou qualquer outro partido de esquerda. O que precisamos fazer é deixá-lo no SAL: tirar tudo dele!", disse Jordy nas redes sociais.
A reportagem entrou em contato a assessoria do deputado Yury do Paredão e foi informada de que não haveria posicionamento no momento.
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