Delegado da Polícia Civil antes de ser eleito deputado federal por São Paulo pelo PL em 2022, Paulo Bilynskyj já havia passado por tiroteios e sobrevivido ao menos a uma tentativa de assassinato. Mas o parlamentar, descendente de ucranianos, não havia estado em uma guerra, em uma cidade sob bombardeio. Foi isso que ele vivenciou em Kyiv, capital da Ucrânia, ao estender sua estada após um encontro internacional de parlamentares na última semana.
Bilynskyj e os senadores Magno Malta (PL), Damares Alves (Republicanos) e Sergio Moro (União) estiveram na Ucrânia entre 29/11 e 1/12 deste ano. O presidente Volodymyr Zelensky disse a eles que não precisa do apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas sim de parlamentares e governadores. Os brasileiros se comprometeram a aumentar a integração entre os parlamentos do Brasil e da Ucrânia e a combater as notícias falsas sobre a guerra que a Rússia vem plantando na América Latina.
O deputado contou à reportagem sobre os momentos de tensão de estar em uma guerra de alta intensidade, onde atualmente mais de 1.500 combatentes são mortos ou feridos por dia.
"Kyiv foi atacada por drones iranianos enviados pela Rússia. Então tocou sirene de alerta antiaéreo, o pessoal foi para bunker", contou Bilynskyj sobre os ataques ocorridos entre os dias 30/11 e 1/12. Naquele fim de semana, 88 drones foram lançados contra a Ucrânia. Parte deles foi interceptada pelas defesas aéreas, mas bairros residenciais da capital foram atingidos por explosivos e destroços. Na semana anterior, a Rússia havia sido particularmente violenta, lançando 500 bombas planadoras e 120 mísseis contra a Ucrânia - inclusive um IRBM, míssil capaz de levar bombas nucleares que nunca tinha sido usado no campo de batalha e elevou a tensão entre Rússia e Ocidente.
Bilynskyj não se machucou, mas no dia seguinte ao bombardeio foi levado pelo governo ucraniano a bairros que foram atingidos pelo bombardeio. "A gente visitou um prédio residencial e uma escola que foram destruídos para que a gente tivesse uma uma visão mais realista da guerra, o que não está acontecendo no Brasil. Por mera propaganda russa, a gente não tem as informações corretas", disse o deputado à reportagem.
Embora tenha condenado a invasão russa em declarações diplomáticas pontuais, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem divulgando no Brasil uma versão distorcida da guerra. Ele já afirmou que tanto a Ucrânia como a Rússia são culpadas pelo conflito. Mas a invasão militar foi iniciada por Moscou sem ter sofrido agressão do lado ucraniano.
"Eu duvido que o povo brasileiro saiba que tem 20 mil crianças ucranianas sequestradas pelo governo Russo", disse Bilynskyj. Kyiv afirma que mais de 19 mil crianças e adolescentes ucranianos foram retirados à força de suas famílias em território temporariamente ocupado pela Rússia na Ucrânia no início da invasão em 2022. O Tribunal Penal Internacional emitiu um mandato internacional de prisão contra o ditador Vladimir Putin e contra sua comissária de direitos das crianças, Maria Lvova-Belova, por causa desses sequestros.
Nos territórios ocupados, a população ucraniana é forçada a frequentar escolas geridas pela Rússia. Uma grande parte dos sequestros aconteceu quando as crianças foram convocadas a participar de "colônias de férias" e nunca retornaram para suas casas. Elas foram deportadas para a Rússia, tiveram as identidades trocadas e foram adotadas por famílias desconhecidas com o objetivo de serem "russificadas".
O paradeiro da maioria dessas crianças é desconhecido. O Laboratório de Pesquisa Humanitária de Yale, uma organização apoiada pelo Departamento de Estado americano, divulgou um estudo neste mês após conseguir rastrear 314 dessas crianças. A entidade levantou provas de que as deportações foram feitas com o uso do avião presidencial e com recursos financeiros da Presidência da Rússia. A deportação forçada é considerada crime contra a humanidade pela legislação internacional.
Além de Bilynskyj e dos senadores, parlamentares da Argentina, do México, da Colômbia, de Honduras, do Chile, da República Dominicana, de Belize e da Guatemala também foram à Ucrânia para se encontrar com o presidente Volodymyr Zelensky e com membros do Parlamento ucraniano na semana passada.
Foi definido que a atividade parlamentar entre os países envolvidos será intensificada e comissões conjuntas serão criadas. Os objetivos são condenar as deportações forçadas e a violência contra mulheres e crianças perpetrada pela Rússia na Ucrânia e combater a propaganda e as notícias falsas sobre a guerra difundidas pelo Kremlin na América Latina e no Caribe.
Essas ações são contrárias ao posicionamento Lula que, como chefe do Executivo, é o responsável pela política externa do Brasil. Na Ucrânia, o senador Magno Malta pediu desculpas ao presidente Volodymyr Zelensky, em nome do povo brasileiro, pelas declarações desrespeitosas do governo Lula em relação à Ucrânia.
O presidente Zelensky disse que enxerga ainda nos congressistas uma esperança de que o Brasil possa prestar ajuda ao seu país em meio ao conflito iniciado por Putin, segundo Bilynskyj.
"Ele [Volodymyr Zelensky] disse que a mídia brasileira vive de informações russas e que o presidente brasileiro vive dessa relação econômica e criminosa com a Rússia e que tudo isso acontece por falta de informação da mídia, que é paga pela propaganda russa", disse o deputado federal Paulo Bilynskyj (PL) em entrevista à Gazeta do Povo.
O investimento em desinformação por parte do governo russo é alto e já foi alvo de investigações até nos Estados Unidos. Em meados de setembro, o governo norte-americano abriu um processo judicial na Pensilvânia para enfrentar a estratégia digital da Rússia, que visa criar divisionismo em democracias liberais do Ocidente. A operação envolve 32 domínios cibernéticos utilizados pelo governo russo e por atores patrocinados pela Rússia. Há suspeitas de que o Brasil também é alvo de operações de desinformação da Rússia.
À Gazeta do Povo, o deputado federal deu mais detalhes de como foi a viagem para a Ucrânia e do encontro que teve com Zelensky. Leia a entrevista completa:
Qual foi o contexto dessa viagem e como o convite foi feito?
Paulo Bilynskyj - Importante ter um contexto de que a Ucrânia é unicameral, não tem Câmara e Senado, como no Brasil, ela tem só o equivalente à Câmara. Portanto, há alguns meses, nós recebemos um grupo de deputados ucranianos aqui no Brasil. Eles se dividiram em grupos para visitar alguns países e para o Brasil vieram os deputados que são os líderes do grupo da América Latina e Caribe.
Nessa viagem que fizeram para cá, conversaram com diversos deputados e senadores, e posteriormente convidaram esses deputados e senadores para esse evento [que ocorreu na Ucrânia]. Era uma reunião dos países da América Latina e Caribe, somente com os parlamentares [sem diplomatas do Itamaraty] para discutir a realidade da guerra e o plano de paz do presidente Zelensky.
Como foi a chegada na Ucrânia?
O deslocamento foi muito difícil. Eu saí daqui numa terça-feira à noite [26/11], em um voo para Frankfurt e de lá peguei uma conexão para Varsóvia, na Polônia. Dormi em Varsóvia e no dia seguinte a gente pegou um ônibus que levou quatro horas de Varsóvia até outra cidade na Polônia [Przemił]. Depois enfrentamos onze horas de trem até Kyiv, a capital da Ucrânia e destino final desta viagem.
Chegando em Kyiv, o que os senhores fizeram e com quem se encontraram?
Chegando na capital nós fizemos uma reunião com o que seria o equivalente à Comissão de Direitos Humanos. Então tivemos a oportunidade de conversar com o deputado responsável [por essa comissão], com o ministro das Relações Exteriores [o chanceler Andrii Sybiha], com uma médica com experiência de combate, com um soldado veterano da guerra que perdeu a perna em combate e com uma mãe que teve dois filhos sequestradas pelo governo russo. Hoje existem aproximadamente 20 mil crianças sequestradas pelo governo russo e que foram retiradas da Ucrânia ilegalmente.
Então na sexta-feira [29/11] à tarde a gente fez essa reunião e na sexta-feira à noite a gente fez uma reunião com o presidente Zelensky. No sábado foi o dia inteiro de reunião na Câmara [Verkhovna Rada] e foi o presidente da Casa que tocou essa reunião. Ele passou a palavra para todos os parlamentares e depois ele apresentou no Parlamento o que seria uma proposta de declaração. Nós fizemos algumas adições, a senadora Damares colocou um parágrafo importante de repúdio à violência contra a mulher e contra as crianças. E no final do dia nós assinamos esse texto como parlamentares, representando o povo que nos elegeu.
Os senadores deixaram a missão no sábado à noite e eu continuei na Ucrânia. No sábado, Kyiv foi atacada por drones iranianos enviados pela Rússia. Então tocou sirene de alerta antiaéreo, o pessoal foi para bunker e tudo mais... Mas ficou tudo bem. No domingo nós fizemos uma visita a locais que foram atingidos. Então, na capital, em Kyiv, a gente visitou um prédio residencial e uma escola que foram destruídos para que a gente tivesse uma uma visão mais realista da guerra, o que não está acontecendo no Brasil. Por mera propaganda russa, a gente não tem as informações corretas.
Eu duvido que o povo brasileiro saiba que tem 20 mil crianças ucranianas sequestradas pelo pelo governo Russo. Eu tenho certeza absoluta que o povo não tem conhecimento disso. E muito pelo contrário, a gente fica aqui sendo alimentado com mentiras, do tipo de que 30% do território ucraniano já era pertencente à Rússia, o que é um absurdo, alegando esse pertencimento porque lá há pessoas que falam russo. Poxa, esse argumento é tão estúpido, porque ele desconsidera o fato da Ucrânia ter sido dominada pela União Soviética.
E como foi o encontro com o presidente Volodymyr Zelensky?
Na sexta-feira à noite nós fizemos uma reunião com o presidente Volodymyr Zelensky e ele permitiu que cada delegação de cada país fizesse um questionamento para ele. E nós o questionamos sobre como o Brasil poderia contribuir com a paz na Ucrânia. E a resposta do presidente foi muito interessante.
Ele disse: "Olha, eu não quero o apoio do presidente Lula. Eu não preciso do apoio do presidente Lula. Eu preciso do apoio dos deputados. Eu preciso do apoio dos governadores. O presidente Lula ganhou por dois milhões de votos e a popularidade dele é baixíssima. Eu quero saber o que o povo brasileiro pensa sobre essa guerra, não o que o Lula pensa, que é parceiro comercial de Rússia, China e Coreia do Norte, parceiro comercial de países ditatoriais, eu quero saber o que o povo pensa". Então foi uma resposta muito boa.
O que a gente percebeu na primeira reunião, com a Comissão de Direitos Humanos, é que todos os países da América Latina contribuíram de alguma forma para a paz. Por exemplo, o soldado ucraniano que foi ferido em combate, aquele que perdeu a perna, ele recebeu o aporte do seu tratamento do México. O México contribuiu de forma humanitária, recebeu um número de veteranos e de pessoas que sofreram com amputações e forneceu esse tratamento.
Todos os países ali contribuíram de alguma forma, Colômbia, Peru... Todos eles contribuíram. O Brasil foi o único país que não contribuiu de forma nenhuma, pelo contrário, o Brasil impediu a ajuda. Quando eu estava na comissão de Relações Exteriores, no meu primeiro ano de mandato em 2023, veio para nós uma uma autorização de venda de ambulâncias blindadas para a Ucrânia e o governo impediu. Então o governo não só não contribuiu, mas ele, propositalmente, dificultou a situação da Ucrânia.
Tendo em vista que essas atitudes na maioria das vezes partem do Executivo, como parlamentares e senadores pretendem ajudar a Ucrânia?
O erro é pensar que o presidente da República, que de forma absolutamente incompetente conduz a nação, vai ter competência para conduzir o país em assuntos internacionais. O Lula é incompetente e ele não tem representatividade, ele não tem capacidade plena de tratar de relações internacionais porque ele ser simplesmente incapaz.
O que está ficando bem claro é que hoje você tem um conflito que, de um lado, a Rússia está utilizando armas iranianas, soldados norte-coreanos e financiamento chinês; e do outro lado, você tem a Ucrânia, que é o país menor e mais fraco, usando armas francesas, inglesas e americanas.
Em uma possível evolução desse conflito, o Brasil está ficando do lado da Rússia, da China, da Coréia do Norte e do Irã. Dá para entender isso? O Lula está forçando o Brasil para uma posição de ser aliado de Rússia, China, Irã e Coreia do Norte em uma eventual Terceira Guerra Mundial. E isso é muito perigoso porque o povo brasileiro não quer isso.
E como os senhores pretendem atuar nesse fornecimento de auxílio à Ucrânia?
Queremos atuar justamente através desse fator de conhecimento. A propaganda russa paga. Chegou a ver aquele escândalo nos Estados Unidos, que mostrou quem eram os influenciadores que recebiam dinheiro Russo? É exatamente a mesma coisa no Brasil. Com algumas exceções, mas há mídias e jornalistas no Brasil que, com o dinheiro certo, falam o que você quiser.
Eu transformei aquele documento, o comunicado que foi assinado na Câmara [da Ucrânia, com todos os parlamentares que viajaram ao país], em um documento do Infoleg [aplicativo usado por parlamentares para compartilhar informações sobre atividades legislativas] e eu estou colhendo assinaturas entre os deputados. Estou fazendo um trabalho de informação que é o mais importante e o que não está sendo feito no Brasil. Todo mundo acha que é uma guerra isolada entre dois países.
Na fórmula de paz do presidente Zelensky existe a recomposição total do território ucraniano, porque essa é a vontade. E existe a certeza de que se não houver sua inclusão [da Ucrânia] na OTAN [aliança militar ocidental], a Rússia não vai deixar esse assunto de lado. Assim como em 2014 houve a tomada da Crimeia e em 2022 a invasão na Ucrânia, daqui a menos de 10 anos pode ter uma nova guerra.
Então quando o Zelensky fala que pode abrir mão parte dos territórios, Donbass, Donetsk e da Crimeia, mas que faz questão de fazer parte da OTAN, o que ele está fazendo é tentar impedir que a Rússia continue a destruir a Ucrânia pelas próximas décadas.
O presidente Zelensky chegou a dizer que pretende atuar com os senhores em parceria para tentar barrar a desinformação russa no Brasil?
A Ucrânia é um país em guerra. Só para se ter uma ideia, o país do mundo que mais investe em defesa é os Estados Unidos, ele investe 3,5% do PIB, a Alemanha investe 2% do PIB. A Ucrânia investe 47% do PIB, então é um país que não tem dinheiro para nada. O que eles podem fazer é o que eles fizeram: levar pessoas para conversar.
Eu conversei no domingo, no final do dia, com uma menina de 19 anos que ficou dois anos sequestrada na Rússia, sendo torturada numa prisão russa porque ela é da região da Crimeia. Ela fugiu da Crimeia [após o início da guerra] e a polícia secreta russa entrou em contato com ela dizendo que sua mãe estava doente. Então ela foi para ver a mãe e, na verdade, acabou sendo presa. Ficou dois anos presa. Isso é um absurdo e ninguém aqui no Brasil faz a menor ideia disso.
Vocês pretendem continuar esse diálogo com a Ucrânia e aproximar esse contato com o governo ucraniano?
Com certeza. O meu objetivo, primeiro, é colher essas assinaturas aqui na Câmara para mostrar a verdadeira representatividade dos deputados. Já temos pouco mais de 30 assinaturas e pretendo chegar no mínimo a 150. O Senado vai fazer a mesma coisa. O objetivo é mostrar que da mesma forma que o Lula é incompetente para gerenciar o Brasil, e ele está demonstrando isso todos os dias tanto na área econômica, na área de segurança e na saúde, ele também é incompetente para gerenciar as relações internacionais.
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