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Procurei esses dias na imprensa nacional alguma notícia sobre o estado terrível da pandemia na nossa vizinha Argentina. Em vão. Encontrei apenas reportagens sobre o isolamento do presidente Alberto Fernández. Chama a atenção o tom positivo, de aprovação, como se Fernández fosse muito prudente, cauteloso, um homem da ciência e um humanista, ao contrário de "obscurantistas insensíveis" que frequentam padarias sem máscara:
“O presidente da Argentina, Alberto Fernández, teve o resultado do exame para a covid-19 negativo, mas ainda assim iniciou um isolamento preventivo após ter dito contato com o secretário de Assuntos Estratégicos da presidência, Gustavo Béliz, que foi diagnosticado com o novo coronavírus”.
Viram só? Seu teste deu negativo, mas “ainda assim” ele se preocupou em ficar de quarentena. "Fiz um teste que resultou negativo. Apesar disso, como temos recomendado, o isolamento preventivo é importante para interromper as infecções", escreveu o presidente no Twitter. "Estou bem, sem sintomas de qualquer espécie. Agradeço a todos pela preocupação".
Fofo, não? Ao término da reportagem, de forma um tanto solta e sem qualquer análise sobre causas e efeitos, constava essa informação: "Com 44 milhões de habitantes, a Argentina já teve mais de 1,2 milhões de casos do novo coronavírus, segundo o Ministério da Saúde. A taxa de infecção diária do país começou a diminuir nas últimas semanas, indicando que a crise pode ter passado do seu pico".
Infelizmente, nenhum jornal deu destaque para aquilo que estampava o Clárin esta semana: o país vai superar o Chile e o Brasil em termos de mortes por milhão de habitantes. E também superou Estados Unidos e Suécia, que o governo argentino usa como maus exemplos. Não custa lembrar que a Argentina, sob o comando do Foro de SP, adotou o lockdown mais longo do planeta. Despertou, com essa postura, suspiros de aprovação dos nossos artistas e "intelectuais". A cantora Zélia Duncan chegou a desabafar que sentia inveja de um país que tinha um presidente, ao contrário do Brasil.
Bolsonaro é retratado como genocida por nossa esquerda e boa parte da mídia, que culpa o presidente por cada óbito da pandemia. Uma revista chegou a estampar em sua capa uma imagem do presidente como o Coringa, vilão do Batman, um niilista assassino. O mesmo foi feito nos Estados Unidos com Trump, responsabilizado por cada morte na pandemia, o que certamente prejudicou sua reeleição.
Causa espécie, portanto, o silêncio em relação a Argentina. Só porque o país mostra o fracasso do isolamento, que não conta com qualquer respaldo científico? Só porque é um governo de esquerda? Para nossa mídia, a Argentina sumiu do mapa mesmo, desapareceu, escafedeu-se! É como se um país inteiro nem mais existisse. Um fenômeno bastante curioso, não acham?
Artigo originalmente publicado pelo ND+