Por Alex Pipkin, publicado pelo Instituto Liberal
O ser humano é um complexo misto de virtudes e vícios. Não acredito naquilo que intelectuais e engenheiros da perfectibilidade humana creem, num mundo ideal romantizado, uma espécie de Alice no país das maravilhas.
Muito mais sensato e prudente parece-me ser a lógica da realidade. Não existe sistema político ou econômico perfeito.
Não creio que nascerá e governará em lugar algum um presidente perfeito, impecável, capaz de atender e resolver as mais variadas demandas de um conjunto de indivíduos com visões de mundo, necessidades e expectativas bastante diversas e distintas. Nem Jesus Cristo cumpriu tal proeza.
Entretanto, não é preciso ser nenhum semideus para constatar que se encontra uma relação direta entre liberdade política e a respectiva sustentação da liberdade econômica, e vice-versa. Elas se reforçam mutuamente.
Inquestionável para mim é que é a liberdade econômica aquela que permite geração de renda e prosperidade sustentável. São os processos de destruição criativa nos mercados que criam crescimento econômico e favorecem o desenvolvimento social.
Especialmente no capitalismo de compadrio brasileiro, somente com a efetiva liberdade econômica, com maior competição no mercado nacional, é que se conseguirá impedir a tradicional concentração de poder econômico e enfraquecer as relações nada republicanas entre governantes e empresários ineficientes. Isso é o que debilita a criação de maiores possibilidades para a concentração de poder político.
De fato, um crescimento sustentável só se torna possível com a incessante destruição criativa, tanto na economia quanto na política.
Foi exatamente pela falta de liberdades políticas que o sistema comunista soviético ruiu, apesar da imensa utilização de reserva de mão de obra para a indústria pesada, que aumentou a renda por algumas décadas, contudo, não logrou adotar novas tecnologias e permitir a destruição criativa nos mercados e no regime político.
O espetacular crescimento chinês, a meu juízo, padece desse mesmo mal, tendo em vista que são as liberdades – políticas e econômicas – que conduzem ao crescimento. Não conjecturo um crescimento chinês de maneira realmente sustentável.
Trazendo o contexto acima para a seara brasileira, surpreendo-me negativamente com a facilidade com que aflora um pensamento “mágico”, tacanho, limitado e reducionista de alguns brasileiros, até mesmo de gente que se diz “inteligente”.
Óbvio que pode ser considerado até natural, pois a máscara ideológica, tanto de esquerda como de direita, cega, e o que é pior, mata e deixa matar muita gente! Foi o que fizeram eficientemente os regimes comunistas e fascistas, amplamente à disposição para quem se pressupõe a conhecer a verdade dos fatos.
Pelo estudo sério e exame isento da história das civilizações, a fim de compreender o presente e projetar o futuro, é infrutífero descolar-se do passado, uma vez que somos amarrados a uma espécie de herança institucional que não pode ser completamente abortada.
Num país carente de estudo e de muita leitura, minado pela cultura do “copia e cola”, não causa espanto que a turma do mundo ideal, perfeito, difunda e queira gozar de todos processos de avanços sociais e tecnológicos, anulando seus reais ônus e, assim, abdicando da assunção de correspondentes e vitais responsabilidades.
No Brasil, impossível se consertar mais de 400 anos de patrimonialismo, intervencionismo e clientelismo, sem compreender que mudanças políticas e econômicas são incrementais, já que não há feitiço capaz de alterá-las num mágico piscar de olhos.
Numa nação onde se consolidou por vários séculos uma cultura extrativista, digna da colônia portuguesa, em um país gigante e diverso, a mudança institucional é sempre dolorosa e morosa. Não há como se ter um cenário diferente e positivo, de fato, sem reformas estruturantes, como a da Previdência, a tributária e, especialmente, uma reforma no anacrônico sistema político nacional.
Por aqui, entretanto, todo mundo só fala em democracia, Estado de direito, direitos humanos e outras senhas para a impunidade.
Ironicamente, são quase sempre os mesmos que não querem respeitar a vontade popular expressa pela voto da população brasileira que elegeu o presidente Bolsonaro. A democracia só serve quanto atende aos interesses e posições – interesseiras – de uma face da maça vermelha?
Evidente que não há um presidente ideal e nunca haverá – o que não me impede de constatar que as reformas estruturantes e microeconômicas que estão sendo planejadas e implementadas estejam realmente contribuindo para deslocar o país para a rota de uma economia de mercado mais pujante, que seguramente é aquela que conduz ao crescimento econômico e que deve induzir a um maior desenvolvimento de oportunidades e melhoria das condições sociais dos brasileiros.
O fato de a equipe econômica e de outros ministros técnicos estarem fazendo um trabalho muito bom, como o que ocorre na infraestrutura, não quer dizer que é compulsório dar o amém a tudo aquilo que o presidente fala e faz.
As instituições nacionais foram extremamente aparelhadas por interesses socialistas e social-democratas durante décadas e é bem verdade que parte da população elegeu o governo que aí está justamente para desideologizar o aparato esquerdista que foi montado.
Discordo amplamente – e tenho escrito sobre! – das declarações infelizes do capitão, quanto a assertivas sobre violência, sobre seu enviesado entendimento a respeito de processos eficazes na educação, sobre o real nepotismo na indicação de seu filho à embaixada americana, entre outros temas.
Similarmente, abomino aqueles ideológicos dissimulados que só enxergam a trave no olho do opositor. Essa trupe acusa sem parar o presidente de racismo, homofobia, misoginia e de grosseria, mas tem memória curta – e ideológica – para lembrar as declarações do ex-presidente, ex-presidiário condenado, quando falava sobre “as “mulher” do grelo duro” e a cidade de Pelotas, como sendo aquela “exportadora de viados”. Ao menos têm-se honestidade nas palavras e um português um pouco melhor.
Mais grave ainda a intransigente defesa esquerdista nacional de regimes autoritários como o cubano, o venezuelano e de outros tantos ditadores e terroristas conhecidos!
Pelo menos em nível de política econômica, o capitão mostrou humildade em reconhecer que o caminho do intervencionismo e das políticas nacional-desenvolvimentistas, preferida por ele e seus colegas militares por muito tempo, foi a causa do não desenvolvimento e da vanguarda do atraso.
É exatamente essa (i)lógica de tais dissimulados socialistas, que não querem enxergar que o desemprego e a estagnação econômica, com a institucionalização da grande corrupção e do achaque aos cofres públicos, são resultado de duas décadas de fracassadas políticas nacional-desenvolvimentistas dos governos Lula e Dilma. Esse grupo ainda não se deu conta da lógica da realidade, em que o mundo é mais importante para o Brasil do que o Brasil para o mundo!
Parece-me imperativo que se respeite a alardeada “democracia brasileira” – que precisa de enormes reparos e avanços institucionais de verdade – e deixem o presidente eleito cumprir o seu mandato de quatro anos. Já em 2022 o povo irá voltar às urnas!
Novamente, não há presidente perfeito que agrade amplamente a gregos e troianos, mas para os que não veem, enxergando a queda na taxa de juros, a inflação baixa, a redução vertiginosa no número de homicídios e estupros e a necessária celebração de acordos de comércio com o mundo, entre outros feitos, esses estão simplesmente exortando o protagonismo de suas paixões ideológicas!
Barbárie de verdade é o que se tem visto no duradouro Estado de compadrio brasileiro e, mais especificamente, no roubo da saúde, educação e segurança efetuado pela organização criminosa que solapou a esperança e a renda dos brasileiros durante mais de duas décadas passadas.
É preciso defender o país e não crenças políticas, apurando e punindo crimes de toda espécie e todos aqueles que os cometeram, sejam filhos, amigos ou estranhos ao poder. Aqui tolerância zero!
A despeito de toda a resistência – não armada – fico imaginando como o país estaria nesse momento, sendo (des)governado pelos ideais da suposta superioridade moral, da excelsa bondade humana, e pela turma realizadora da maior corrupção da história desse país, com sua tradicional e nefasta política econômica do nacional-desenvolvimentismo.