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Rodrigo Constantino

Rodrigo Constantino

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

A direita pós-Trump e Bolsonaro

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Esse texto vai render algumas "pedradas" virtuais de bolsonaristas, mas como nunca fui tribal, e sim um analista independente que preza a liberdade, acho que devo dizer exatamente aquilo que penso em prol do movimento conservador brasileiro, do qual faço parte há anos.

Talvez os dois melhores livros que li para compreender os fenômenos Trump e Bolsonaro tenham sido "Nacional Populismo" e "The case for Trump". No primeiro, autores "liberais" fazem um levantamento honesto da reação legítima do nacional-populismo contra uma democracia "liberal" doente.

No segundo, o professor Victor Davis Hanson traz a imagem do "herói trágico", que enfrenta um bando perigoso e que, por acidente do destino, não faz parte do mesmo bando, mas guarda características comuns com ele. Pense nos heróis de filmes policiais, infiltrados em organizações criminosas para combate-las: jamais seria alguém "limpinho" ali, pois faltaria aquela dose de loucura para agir de forma tão perigosa.

Trump era um outsider da política, mas que financiava muitos políticos, a maioria democrata, e que fez fortuna no mercado imobiliário de Nova York, o que alguém "limpinho" jamais seria capaz. Bolsonaro foi deputado pela vida toda, com seus filhos ingressando na política também, mas nunca quis fazer parte do clubinho, apesar de conhecer o mecanismo de dentro.

Ambos atiçaram multidões com slogans poderosos, como drenar o pântano em Washington ou fazer a América grande novamente, no caso de Trump, ou impedir o comunismo e limpar a corrupção no caso de Bolsonaro. Os dois enfrentaram um sistema podre e carcomido, no caso brasileiro com instituições bem mais frágeis. Os dois adotaram governos mais moderados e responsáveis do que suas retóricas davam a entender. Analisar a gestão Trump por seus tweets ou a gestão Bolsonaro por suas falas intempestivas nas "saidinhas" seria um grave equívoco.

Nos dois casos, em que pese uma gestão bem sucedida em resultados, o maior mérito foi ter exposto as entranhas do sistema. O uso do aparato estatal para perseguir esses "estranhos no ninho" escancarou um jogo sujo, a política corrupta e uma imprensa militante. Para derrotar Trump e Bolsonaro, os políticos, burocratas e jornalistas se uniram num pacto nefasto que foi notado por qualquer cidadão minimamente atento. E isso tem um fator pedagógico importante.

Mas há o lado negativo também: foram batalhas em demasia, muitas frentes de batalha abertas ao mesmo tempo. Não era razoável esperar uma vitória contra um sistema tão poderoso assim, ao longo de um mandato apenas. E claro que haveria contra-ataque, reação, um jogo pesado para regressar ao status quo ante. Foi o que aconteceu.

Não era crível que Bolsonaro, apenas com o apoio de parcela significativa do povo, derrotasse a cleptocracia estabelecida no Brasil, contra a Globo, os partidos fisiológicos, os sindicatos, a academia, a cultura pop etc. Na prática até houve concessões por parte de Bolsonaro, mas sua retórica alimentava um clima permanente de guerra, e isso obviamente traria consequências. Até Churchill, anticomunista convicto, associou-se a Stalin para derrotar Hitler. É preciso escolher prioridades, selecionar as batalhas mais importantes e deixar outras para depois.

Entre as lições que ficam, portanto, creio que uma retórica menos inflamada e um pragmatismo maior sejam as duas mais relevantes. Em vários momentos Bolsonaro se exasperou, certamente de forma sincera, e decretou um "basta" que, seguido de inação ou gestos conciliatórios, apenas alimentou a certeza da impunidade em seus adversários. Farejando fraqueza, eles avançaram. Impunemente.

Nos Estados Unidos, Trump não jogou a toalha e pretende voltar à Casa Branca, mas muitos republicanos preferem Ron DeSantis, o eficiente governador da Flórida. DeSantis não é um tucano, um "RINO" (Republican In Name Only), como Mitt Romney, mas sim um conservador firme, que não foge da briga. Mas ele sabe escolher as brigas, e entra nelas de maneira mais inteligente também. Ele compreende ainda a importância de certa liturgia do cargo, para não afastar eleitores com uma visão mais estética de mundo.

Nada disso vai poupa-lo dos ataques da mídia podre. Ele será pintado, como Trump, de fascista, golpista, negacionista etc, pois é o que a esquerda sempre faz, substituindo argumentos por rótulos depreciativos. Mas acredito que DeSantis sabe navegar melhor por esse ambiente, sem cair em tantas cascas desenecessárias de banana (Trump e Bolsonaro atravessavam a rua para pisar em cascas de banana).

O tempo dirá se tenho razão. Mas eis a análise que faço até aqui: a direita precisou de figuras combativas como Trump e Bolsonaro, e talvez ainda precise num futuro próximo. Mas para liderar o movimento político, terá de contar com gente mais moderada nas aparências, ainda que firme nas convicções.

Não estou falando de tucanos, que são petistas disfarçados, nem de liberais "limpinhos", que não conseguem apreender a realidade. Estou falando de líderes como Reagan, Thatcher ou mesmo Churchill, que souberam mesclar pragmatismo com convicção, flexibilidade com firmeza. O Brasil começa agora sua busca por tal nome à direita...

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