Por Carlos Eduardo Schuch*
Quando um médico indica uma cirurgia mais invasiva, ou um tratamento mais complexo, você provavelmente vai procurar uma segunda opinião de outro profissional. Você também vai querer saber mais sobre os riscos, efeitos colaterais, conflitos envolvidos, tempo de recuperação, entre outras possíveis consequências. Nosso Capital Humano é o que temos de mais precioso e, para nos ajudar a decidir o melhor a ser feito para nossa saúde temos nossos profissionais de confiança. E no seu Capital Financeiro, na Gestão dos Investimentos, quem tira suas dúvidas sobre o que é melhor para você: O gerente do banco? O agente autônomo que é vendedor de produto? O seu vizinho? Ou algum primo? O “trader” que gosta de café, mas pode fazer uma posição antes mesmo da indicação sem você saber? Frases do Twitter? O influenciador que é pago para falar bem de alguma ação?
Em 2019 vários livros que prometiam encurtar o caminho para se tornar “milionário” estavam entre os mais vendidos do Brasil. Influenciadores digitais que diziam possuir a fórmula do milagre da multiplicação aumentavam cada vez mais seguidores. Até mesmo uma menina caricata, que recebe para fazer uma propaganda e que se diz milionária as pessoas passam a idolatrar? Cuidado, o atalho pode ser muito perigoso!
Claro que existe muita informação disponível de qualidade, mas você tem de filtrar, saber o que serve para cada caso e evitar cair no “canto da sereia”. A busca pelo conhecimento é muito importante em qualquer área. Devemos principalmente entender o mínimo de cada assunto para termos as nossas próprias conclusões e agir conforme cada situação. Talvez ler mais sobre a história financeira dos últimos 300 anos seja mais importante e mais seguro do que tentar aprender de forma empírica…
Saber qual autor ler ou qual profissional acompanhar é igualmente importante. O livro “Ascenção do Dinheiro” do historiador Niall Fergunson, vale mais que muito relatório pago. O livro “O Andar do Bêbado”, do físico Leonard Mlodinow, explica muito bem como o aleatório afeta nossas vidas e também nos investimentos. Pondere suas decisões pela Credibilidade, este é um dos princípios de um dos maiores gestores do mundo, Ray Dalio.
Como saber se você precisa de um especialista externo para te ajudar?
Caso você se identifique com qualquer uma das afirmações abaixo, provavelmente é hora de contratar alguém que realmente esteja ao seu lado e solicitar uma segunda opinião:
I. “Atualmente só tenho investimento nos bancos tradicionais.”
O mercado bancário do Brasil é um dos mais concentrados do mundo e dá preferência para produtos próprios. Imagina um supermercado com a maioria de produtos de marca própria. Você gostaria de ter somente essas opções? O “filé” dos investimentos está disponível em plataformas e estruturas independentes. Dentro dos bancos pode até ter algo que sirva, algum bom arroz ou feijão, mas será que seu gerente indicou o que é melhor para você?
II. “Possuo investimentos em diversos lugares, mas não faço a consolidação.”
O controle de seu patrimônio deve ser feito consolidado e na mesma base de comparação para todos os produtos. Cada instituição utiliza uma forma diferente de calcular e mostrar rentabilidade, o que dificulta na tomada de decisão e no entendimento dos riscos da carteira. É muito importante, também, controlar a rentabilidade dos imóveis, acompanhar valor de mercado, vacância e ter a informação correta para ajudar na decisão de compra ou venda.
III. “Não sei qual o Risco de Crédito, Risco de Mercado e Risco de Liquidez de cada produto que invisto.”
É comum as pessoas receberem indicações de investimentos baseadas somente na rentabilidade e escolherem o produto que mais vai render. O efeito colateral disso é perder sem saber por que perdeu e ganhar sem saber por que ganhou. É como tomar um remédio de marca e benefícios conhecidos sem saber que você é alérgico àquele produto. Os acontecimentos recentes ensinaram na marra que Renda Fixa pode dar prejuízo no curto prazo… Esta lição já foi ensinada em 2002 no Brasil, mas de lá para cá as pessoas se esqueceram. Cada investimento tem seus riscos e saber isso é mais importante do que analisar a rentabilidade.
IV. “Meu assessor ou gerente de banco é mais uma pessoa de vendas do que um investidor experiente.”
Muitos profissionais da área de investimentos são inexperientes, treinados para vender produtos, focados em metas e em buscar resultado para o patrão, que nesse caso não é você. O remédio até pode ser bom, mas não podemos seguir a indicação do laboratório. Procure um profissional experiente, que se preocupe com o seu patrimônio, saiba as opções disponíveis e conheça o seu perfil.
V. “Quem gerencia meu portfolio sou eu mesmo e assino vários relatórios de análise!”
Se você não é gestor de carteiras e não possui ninguém te ajudando, uma segunda opinião sobre o seu portfólio é recomendada para confirmar que você está em linha com seus objetivos. Mesmo um médico experiente solicita uma segunda opinião em casos mais complexos ou para cuidar da própria saúde. Ter acesso a relatórios ou carteiras sugeridas é muito bom, mas não é garantia de resultado e não é personalizada ao seu perfil. Até investidores de famílias com patrimônio elevado possuem estruturas próprias de análise e contratam pessoas de confiança para ajudar na tomada de decisão.
VI. “Minha situação financeira mudou recentemente!”
Você vendeu sua empresa, ganhou na loteria, é um esportista ou um profissional da moda que fechou um novo contrato. Muitas sereias irão aparecer na sua volta com belos cantos e excelentes promessas… Você precisa ter alguém de confiança e que tenha certeza que está ao seu lado para lhe ajudar e passar o conhecimento necessário para investir e proteger o patrimônio da melhor forma, sempre em linha com seus objetivos de curto, médio e longo prazo.
VII. “Eu sigo as indicações de pessoas que não possuem um contrato fiduciário.”
Para evitar de fato o conflito de interesse talvez essa seja a principal razão para você ter uma segunda opinião ou até mesmo procurar outro profissional. O profissional que trabalha com contrato fiduciário sempre irá fazer o que seja melhor para o cliente.
VIII. “Meu patrimônio não é tão grande para contratar um profissional só para mim.”
Você pode e deveria ter um profissional de confiança, independente do tamanho do seu patrimônio. No Brasil a consultoria ou gestão independente já é bastante conhecida por famílias com patrimônios maiores. Nos Estados Unidos nos últimos 20 anos esse mercado cresceu bastante e atualmente 43 milhões de pessoas utilizam algum serviço de consultores e gestores independentes. A verdade é que as pessoas estão cansadas de seguirem orientações conflitadas. No Brasil, entre pessoas físicas e jurídicas, existem hoje aproximadamente 3.600 gestores de carteira administrada e 720 consultores de valores imobiliários registrados na CVM1. Esses profissionais podem lhe oferecer uma opinião isenta de verdade, sem conflitos. O ideal é você procurar um profissional ou uma empresa que não tenha vínculos exclusivos com instituições financeiras e que a forma de remuneração seja transparente.
IX. “Já ouvi falar sobre Classes de Ativos e Riscos, mas não tenho uma estratégia de rebalanceamento.”
Se o assessor ou gerente atual só liga para você para indicar troca de produtos e não deixa claro qual estratégia você deve seguir em momentos de alta ou de baixa, algo não está certo. Você deve ter uma política de investimentos e saber muito bem qual risco está disposto a assumir. Com os objetivos e protocolos claros você saberá o que fazer e qual tipo de risco tomar, principalmente em situações de stress.
Invista também no seu conhecimento para poder tomar a melhor decisão para o seu patrimônio!
* Sócio da SameSide
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