Por Hilcker Damasceno, publicado pelo Instituto Liberal
Imagine se pudéssemos viajar no tempo, ou, imagine ainda, se fôssemos habitantes deste mundo entre o final do século XIX e início do século XX. Poderíamos prever que uma das nações mais promissoras do mundo teria 44% da sua população na pobreza no século XXI?
Não é segredo para ninguém que nossos hermanos já foram uma das maiores economias do mundo. Em 1896, a Argentina possuía o maior PIB per capita do mundo, de acordo com a base do Maddison Project, de Angus Maddison. Para se ter uma ideia, um argentino era 29% mais rico que um francês, 14% mais rico que um alemão, 3 vezes mais rico que um japonês e 5 vezes mais rico que nós, brasileiros.
Está pensando em viajar? Fique tranquilo! Um peso argentino atualmente equivale a 0,0632 reais. Embora muitos estabelecimentos queiram te cobrar em dólar americano, para minimizar o impacto da desvalorização da própria moeda, ainda é possível encontrar um bom vinho argentino por cerca de R$ 5,00 em um supermercado.
Mas porque a Argentina fracassou em sua efêmera “primavera econômica”?
Apesar de todo o sucesso econômico devido à forte agricultura exportadora, principalmente pela vitória liberal sobre os federalistas antes dos anos 40, quando permitiu-se o crescimento econômico devido ao investimento estrangeiro e à criação das grandes ferrovias graças ao investimento Britânico, após a Segunda Guerra Mundial nasceu uma forte corrente nacionalista, de política das massas, advinda do peronismo, que teve como principal corrente o intervencionismo estatal. Essa mentalidade faz parte da política argentina até hoje.
Com o peronismo, ferrovias e companhias elétricas, setores antes privatizados, foram novamente estatizados, juntamente com a administração do Banco Central. Além disso, medidas no âmbito social também foram aplicadas por meio da intervenção estatal, como aumento de salários, férias remuneradas, licenças por doenças, preço fixo de aluguel, controle de preço de mercadorias, planos de habitação e a construção de escolas. Em princípio, essas medidas aumentaram o poder de consumo e qualidade de vida da população, mas, principalmente pelo controle de preços e aluguéis, o salário anteriormente elevado foi consumido pela inflação.
O assunto por trás de toda a história econômica da Argentina é demasiadamente longo para ser explorado somente em um artigo. O fator principal sobre que precisamos refletir é a relação de causa e efeito da história da Argentina, com a história de outros países (Venezuela e Cuba, por exemplo) que seguiram o mesmo caminho, e, principalmente, como a mentalidade peronista está entranhada na cultura política argentina até os dias de hoje (é possível encontrar políticos de direita e esquerda que pactuam deste pensamento).
O discurso dos grandes líderes, que acreditam na intervenção estatal como método ideal para melhorar a qualidade de vida das pessoas, é sempre o mesmo. Baseia-se na intervenção do Estado com o controle das ações econômicas, por meio de uma planificação, com práticas e discursos nacionalistas, populistas e anticapitalistas.
O que não se percebe é que, embora algumas medidas tragam uma sensação de justiça a curto prazo, elas influenciam diretamente na liberdade do indivíduo (ex.: controle de aluguéis) e causam, à longo prazo, mais malefícios que benefícios. Intervir na economia é não permitir que o mercado se regule, é não permitir que o rio siga seu fluxo. Exemplos históricos sempre nos mostraram que o fim do curso d’água é o fundo do poço. A questão agora é saber se nossos “hermanos” conseguirão se livrar das amarras das velhas ideias e terão força para retomar o curso do “Sonho Argentino”.
* Artigo publicado originalmente no site do Instituto Líderes do Amanhã por Hilcker Scopel Damasceno.
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