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O humorista Léo Lins, que em maio deste ano teve um especial de comédia censurado pela Justiça paulista, tornou-se réu num processo criminal por ter feito piadas com grupos considerados minoritários. Léo Lins também teve as contas no Youtube e no TikTok derrubadas por 90 dias e, ainda, o valor de R$ 300 mil bloqueado de suas contas bancárias para pagamento de multas por descumprimento de decisão judicial.

A decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo é deste domingo (4), e o processo corre em segredo de justiça. Se condenado, o humorista pode ficar até dez anos preso por contar piadas.

O ambiente de censura no Brasil não tem qualquer graça, é uma piada horrorosa. Tenho alguns artigos sobre a importância do humor em nossas vidas, mesmo aquele ofensivo, e explico porque toda tirania sempre decretou guerra aos humoristas. Em um artigo na Gazeta em 2019, falo do assunto com base no especial de Chapelle na Netflix. Segue um trecho:

Não nego que alguns “comediantes”, por falta de inteligência, apelam à baixaria, e só conseguem fazer “humor” ultrapassando qualquer limite do razoável. Mas, feita essa ressalva, é fundamental entender que a comédia em si será quase sempre ofensiva a algum grupo, pois ela parte justamente de uma caricatura para expor alguma realidade incômoda, muitas vezes mascarada pela hipocrisia social.

O importante é que a censura ao humor, mesmo do tipo mais esculachado possível, denota um claro autoritarismo. Não é coincidência que os revolucionários nunca tenham demonstrado aptidão ao riso. Ou então os “moralistas” da igreja medieval retratados por Umberto Eco em O Nome da Rosa. Sempre desconfio de quem não é capaz de rir de si mesmo de vez em quando.

Henri Bergson, em seu ensaio sobre a comicidade, afirma que o riso, pelo medo que inspira, mantém constantemente vigilantes certas atividades que correriam o risco de adormecer; ele “flexibiliza tudo o que pode restar de rigidez mecânica na superfície do corpo social”. Neste sentido, o riso persegue “um objetivo útil de aperfeiçoamento geral”, ele é uma espécie de “trote social”.

Em seguida, critiquei alguns bolsonaristas que apoiavam humoristas do "seu lado", mas passaram a atacar aqueles que criticavam o governo Bolsonaro. Mencionei Danilo Gentili, mas pasmem!, o mesmo Gentili se tornou um defensor da criminalização da opinião.

Soube que ele é até citado em inquéritos ilegais do ministro Alexandre como fonte séria para "incriminar" comentaristas de direita. Kim Paim lembrou da militância de Gentili para perseguir bolsonaristas: "Danilo Gentili se uniu com Luciano Ayan para destruir os 'bolsonaristas' e acabou acertando o Leo Lins. Parabéns Gentili. Tudo isso jamais seria possível sem seu trabalho árduo de criminalizar vozes de direita".

Volto ao meu texto de alguns anos atrás para concluir: eu perdoo quase tudo nessa vida. Só não tenho paciência mesmo para três coisas: 1. burrice; 2. falta de caráter; 3. incapacidade de rir de si mesmo, dos seus defeitos, da tragicomédia que nos cerca. Há uma turma aí que se leva a sério demais, e essa rigidez, tão comum no perfil revolucionário, é incompatível com uma vida mais leve – e melhor.

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