Por Mário Miranda, publicado pelo Instituto Liberal
Os seres humanos têm a presunçosa opinião de que são seres totalmente racionais, mas isso está muito longe de ser uma verdade, pois nem o mais racional de todos os indivíduos que possa existir é capaz de receber esse título. Isso se deve ao fato de que não possuímos capacidade cognitiva, totalidade das informações nem tempo hábil para análise de todos os cenários e variáveis para cada tomada de decisão. O fato é que o ser humano tem, no máximo, uma racionalidade limitada.
Entrando ainda mais nesse lado não racional do ser humano, temos algumas decisões que são tomadas de forma mais rápida, cotidiana e intuitiva. Para facilitar esse processo, muitas vezes utilizamos heurísticas, que são processos cognitivos em decisões não racionais que transformam questões difíceis em outras mais fáceis, ignorando algumas informações. Por se tratar de um processo inconsciente e automático, está sujeito a inúmeros vieses e padronizações de erros.
De uns anos para cá, com o advento das redes sociais e sua disseminação, a população tem ficado cada vez mais exposta a informações e também tem exposto mais sua opinião. Estas exposições de opinião, muitas vezes, ganham tônus de debate e, por conseguinte, tornam-se discussões bastante acaloradas que podem passar longe da racionalidade.
Concomitante a isso, muito se tem ouvido falar das famosas fake news, que são notícias falsas, publicadas como se fossem verdadeiras e têm por objetivo prejudicar um indivíduo ou grupo, ou ainda validar e legitimar um ponto de vista. Geralmente, as fake news apelam para as emoções e têm um grande poder de se tornar virais, propagando-se de forma rápida e abrangente.
A realidade já não é transparente, não são dadas todas as informações para cada decisão a ser tomada, mas pode se tornar ainda mais complexa se forem adicionados elementos mentirosos a essa equação. Durante as tomadas de decisão, uma mentira não gera benefícios, acarretando um maior gasto de energia para levar em consideração mais uma variável complexa ou fazendo com que se tome a decisão errada.
Com um entendimento maior sobre como funciona o ser humano, muitas pessoas com valores deturpados utilizam a mentira para manipulação do indivíduo ou da sociedade. A propagação de fake news é tão perigosa, pois, devido à heurística da disponibilidade, as pessoas tendem a fazer o julgamento sobre a probabilidade de um evento de acordo com a facilidade com que um exemplo vem à mente. Assim, criar distorções da realidade pode, muitas vezes, trazer uma subjetividade quanto ao que é certo e errado, motivo pelo qual devemos estar munidos da racionalidade para que consigamos caminhar para um mundo mais livre, sem fraudes e força coercitiva.
Dito isso, será que as informações aqui expostas são verdadeiras? E se forem mentiras, eu acredito em tudo que disse ou apenas utilizei essas informações para validar o meu ponto de vista? Será que você gastou seu tempo lendo e saiu sem nenhuma informação relevante? Aposto que, agora, ao menos, você se questiona, mas a resposta dessas perguntas não estará por aqui. É assim que o mundo funciona.
Por fim, para evitar toda essa adição de complexidade e perda de tempo, devemos lutar todos os dias para que a propagação de mentiras chegue ao mais próximo de zero possível. Devemos nos tornar responsáveis por nossas atitudes, por menores que sejam, e fazer com que o próximo também se torne.
*Mário Miranda – Associado do Instituto Líderes do Amanhã e sócio-fundador da Zaitt.