Gustavo Franco tratou, em sua coluna do GLOBO deste domingo, de tema importante que venho destacando nesse espaço também: a revolução dos juros baixos no Brasil, principalmente na mentalidade dos empresários. Para o ex-presidente do Banco Central, "o velho ainda não morreu, e o novo ainda não é dominante". Mas estamos diante de uma “destruição criadora”, e não há como escapar.
A notícia boa notícia, segundo ele, é que a maior parte dos economistas não imaginava que o efeito expansionista, psicológico ou fisiológico dos juros baixos fosse tão forte. Na verdade, é quase como se fosse uma nova cultura. Isso é ótimo pois o dinheiro nunca foi barato no Brasil, "exceto nos balcões privilegiados dos bancos públicos, ou em linhas especiais, a juros camaradas, para brasileiros especiais", diz Franco. Portanto, essa “novidade” de se tomar dinheiro a menos de 10% ao ano agora está disponível para todos. É um novo paradigma. O efeito é semelhante ao do fim da hiperinflação.
"É tão bom poder se endividar sem que isso seja o beijo da morte", comemora. De fato, tomar dívida para investir em negócios é a essência do capitalismo, e no Brasil o que sempre tivemos foi o capitalismo de estado ou de laços, em que os influentes se davam bem à custa do restante. É aquilo que alguns chamam de eutanásia do rentismo, ou seja, agora, para garantir bons retornos, não vai mais bastar emprestar ao governo e ir para a praia. Será preciso colocar o recurso em empreitadas produtivas. "Vamos investir mais, crescer mais, tudo de bom", conclui Franco.
E isso não se deve ao voluntarismo do Banco Central ou do governo. Ao contrário: foi na fase de heterodoxia petista que houve forte retrocesso dessa conquista, que vem desde a consolidação institucional da política monetária e da autonomia do Banco Central. Dilma Rousseff contra-atacou com a sua Nova Matriz, e quase colocou tudo a perder.
Porém, nem tudo são rosas. Como lembra Gustavo, a situação fiscal permanece uma ameaça, a luta contra a esbórnia keynesiana continua, e se perdermos voltamos ao ponto de partida. Mas estamos progredindo, segundo ele. E devemos tomar cuidado com a reação dos defensores do Estado Desenvolvimentista. Gustavo traça um paralelo com a explosão em Chernobyl, e diz que os estados estão falidos, mas que aqueles que dependem de recursos públicos não vão desistir facilmente. Mas não vai haver mais investimento público, pois acabou o dinheiro.
Gustavo Franco conclui: "Se, todavia, as resistências prevalecerem, vai aumentar a entropia do sistema, a parte radioativa da economia vai contaminar a parte boa, tomara que não". Pois é: tomara que não. E cabe a nós, que entendemos o que está em jogo, lutarmos para que isso não ocorra...
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