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Por João Cesar de Melo, publicado pelo Instituto Liberal

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Mandetta era um jogador de futebol desconhecido, mas que, um dia, fez um drible que foi destaque no Fantástico. Nunca fez um gol na carreira, mas virou ídolo.

Por ser articulista do Instituto Liberal, frequentemente recebo relatos de absurdos que acontecem em todas as áreas. Nas últimas semanas, os relatos foram todos relacionados à pandemia. Sem questionar o mérito do isolamento horizontal (que não é o tema deste texto), sobram críticas à notoriedade que a imprensa deu a Luiz Henrique Mandetta.

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O fato é que não há nada que justifique essa notoriedade. O número de mortos muito abaixo do previsto deve-se às características do clima, da demografia e do perfil de saúde pulmonar no Brasil. O Ministério da Saúde não tem mérito nenhum nisso. Muito pelo contrário. Provavelmente, sua incompetência deve ter provocado a morte de muitas pessoas.

Os discursos diários anunciando medidas e verbas para isso ou aquilo tentaram maquiar a histórica ineficiência do SUS. Qualquer profissional isento relatará a realidade de equipamentos, kits de testes e insumos sobrando nuns hospitais e faltando noutros. Infraestrutura péssima. Ingerência. Burocracia. Desperdício de recursos.

Eis o trecho de uma mensagem que recebi de um médico: “Todos os hospitais públicos estão montando alas para COVID, mas não dão equipamentos. Ontem, fiquei 24h com um paciente com COVID e a porta do leito de isolamento não fechava, material de péssima qualidade. (…) Estão internando muita gente em estado grave (…), mas eles entubam e deixam lá, esperando a hora de morrer”.

Poderíamos explorar ainda as denúncias que muitos profissionais da saúde vêm fazendo sobre o corrompimento de amostras e de registros irregulares de mortes por COVID-19, mas o que mais chama a atenção é a conivência da imprensa com a maior de todas as negligências: a não realização dos testes em massa, a providência mais urgente, mas que vem sendo postergada há quase dois meses.

Uma médica que também me procurou para falar sobre o assunto se referiu a Luiz Henrique Mandetta como um “mão-quebrada”, que no jargão da saúde refere-se ao profissional que não faz nada, mas aparece no final para dizer que fez tudo.

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Alguém ouviu pelo menos uma recomendação de Luiz Henrique Mandetta contra as festividades do Carnaval, ocorrido apenas duas semanas antes de ele começar a defender a quarentena? Ou ele, com todo o seu conhecimento científico, não imaginou que o vírus poderia chegar ao Brasil?

Pois é…

A despeito disso tudo, ele foi elevado ao status de herói nacional. De uma hora para outra, os antibolsonaristas descobriram um gênio dentro do governo Bolsonaro. Aplaudido por jornalistas. Tornou-se um político muito bem visto pela opinião pública. Tem o dobro de aprovação do Presidente da República.

Isso só aconteceu porque Mandetta soube usar as palavras. Bolsonaro não.

Jair Bolsonaro se diz um soldado numa guerra. Então, ele sabe que, numa situação dessas, deve-se considerar as armas do inimigo para poder preparar suas defesas. Uma das armas da esquerda é a palavra, o recorte e a distorção de declarações para construir uma narrativa que, bem promovida, se torna fato no imaginário das massas. Bolsonaro sabe disso, mas ignora. Prefere ser sincero e original, quando deveria ser inteligente.

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Jair Bolsonaro não é burro. Ele apenas acredita que seus apoiadores mais fanáticos podem sustentar seu governo e sua reeleição − o mesmo erro que o PT cometeu.

Como já disse Tancredo Neves: “voto você não tem, você teve”.

Enquanto Jair Bolsonaro se preocupava em agradar seus cultuadores, Mandetta falava para um público muito maior, dizendo o que as massas queriam ouvir naquele momento.

A opinião (que também é a minha) de Jair Bolsonaro sobre o isolamento horizontal já estava vencida. O STF já tinha autorizado estados e municípios a promover o maior crime econômico da história do Brasil. A população já estava hipnotizada pelo apocalipse anunciado. Então, Bolsonaro deveria ter feito como Trump, administrado a situação para colher seus dividendos. Não fez porque não quis. Insistiu num erro que apoiadores de seu governo − como eu − vêm apontando desde o começo. Por isso, levou uma surra política de seu próprio ministro.

Jair Bolsonaro conseguiu a façanha de se dissociar de seu próprio governo. “O governo é bom, mas o Presidente é péssimo”, é o sentimento que cresce; que logo pode ser convertido noutro: manter o governo e trocar o Presidente.

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Se Jair Bolsonaro não se conscientizar da importância das palavras, continuar menosprezando uma assessoria profissional neste sentido, ele nem chegará a concorrer as eleições de 2022, porque já terá sido derrubado.