Por Alex Pipkin, publicado pelo Instituto Liberal
Eu não sei o que é o pior: a pandemia do coronavírus, com um contagioso vírus real, o temor do vírus e seus efeitos excessivos, ou a cultura do cancelamento. O vírus continuará existindo, mas as vacinas irão vencê-lo; assim, os excessos perderão seu gás, mas a espúria cultura do cancelamento tende a se intensificar.
Inacreditavelmente, a bola da vez é o maior mestre de todos os tempos: Sir Adam Smith. Dia 09 de março, fez 245 anos da publicação de sua magistral obra A Riqueza das Nações (1776), livro que transformou a compreensão do comércio e fincou as bases de como uma nação pode se especializar e criar empregos, renda e prosperidade.
Neste mesmo livro, e em sua outra obra seminal, Teoria dos Sentimentos Morais (1759), Smith mostrou como o ser humano possui a capacidade de imaginação e se coloca empaticamente na posição do outro; com seu outro “eu” interior atuando como uma espécie de juiz moral.
Smith sempre lutou pelo genuíno interesse das pessoas e das comunidades em que estas estavam envolvidas, e sua intransigente batalha contra os monopólios estatais e privados demonstra justamente este aspecto. Adam Smith foi um guerreiro por sociedades mais livres e mais prósperas.
Porém, agora, todo o seu legado está ameaçado pela turma de modernos justiceiros sociais, da suposta moral superior e da certeira ignorância, que desejam começar a escrever o paraíso de Alice na Terra e apagar o passado.
Esses ilusionistas querem derrubar a estátua de Smith, em Edimburgo, alegando que ele era racista, pois escreveu que a escravidão era universal e inevitável, mas que esta não era tão lucrativa quanto o trabalho livre. Uma interpretação completamente absurda e equivocada.
Adam Smith sempre foi um humanista racional. Ele sempre depôs contra a escravatura, alertando sobre a brutalidade dos proprietários com relação aos escravos. Smith afirmou que a escravidão era injusta. Seus argumentos, inclusive, foram utilizados pelos abolicionistas.
Smith via no trabalho livre uma forma de justiça, a fim de que os escravos pudessem gozar o resultado de seu trabalho, além da possibilidade de se aumentar a produtividade com a liberdade. Desse modo, ele via na escravidão um ônus para a sociedade, uma vez que esta reduzia a produtividade dos indivíduos.
Eu sei bem como essa turma “enxerga”. Em um MBA, há aproximadamente 3 anos, historiando a respeito do passado das nações, falei que a escravização foi prática usual no passado, inclusive com brancos escravizando brancos e negros escravizando negros. Uma jovem aluna negra, chamou-me a atenção alegando que eu estava “denegrindo” os negros. Muito difícil mencionar somente a verdade…
Essa turma de hipócritas só consegue mirar as opiniões contrárias às suas crenças falaciosas, como se o mundo e os seres humanos fossem perfeitos, mas ao mesmo tempo eles vestem antolhos para fazer que não enxergam suas mentiras e suas utopias. Não foi o caso de Smith, mas, como humanos imperfeitos, quantos de nós já não nos arrependemos de uma fala, de um escrito ou de um determinado comportamento…? Onde esses lunáticos desejam chegar?
Porém, o peixe morre pela boca. Essa cultura “progressista” do cancelamento irá começar a “vazar”, justamente no campo de especialidade de Smith, nos mercados. Tendo a acreditar que vamos presenciar muitas empresas e empresários “progressistas” voltando-se contra práticas “progressistas”, tais como a sindicalização, as intervenções governamentais, impondo regulações “bondosas” que impactarão os custos e a lucratividade das organizações e que reverberarão em menos oportunidades de empregos e de melhores salários em razão da escassez de ganhos de produtividade.
Tenho dito: contratação pela cor da pele pode até ser uma ótima estratégia de comunicação, mas não necessariamente para resultados pragmáticos. Essa hipócrita e estúpida cultura do cancelamento, apesar da adepta massa que não pensa, não conseguirá cancelar minha futura visita à estátua deste gênio chamado Adam Smith.
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