Por Alex Pipkin, publicado pelo Instituto Liberal
O biólogo e historiador americano Jared Diamond, em seu seminal livro Armas, Germes e Aço (1998), afirma que a geografia foi a causa mais importante para o superior desenvolvimento econômico e social europeu em relação às Américas.
O motivo central é que na Europa havia maior disponibilidade de plantas e animais domesticáveis, permitindo a certos grupos fixar-se num lugar, criar excedentes de comida e propiciar a inovação tecnológica. Barreiras geográficas e ecológicas limitavam a mobilidade e a circulação de ideias e materiais nas Américas.
Fundamental mesmo foi a facilidade de mobilidade e contato com regiões vizinhas nas quais se podiam importar coisas que não eram nativas daqueles lugares. As Américas cresceram a partir da chegada de colonos europeus que introduziram culturas agrícolas e animais domésticos apropriados.
Nesse sentido, as tecnologias se desenvolveram na Europa, que dispunha de maiores populações, economicamente especializadas, politicamente centralizadas, que produziam e trocavam alimentos, interagindo e competindo entre si.
Diamond (1998) aponta que a maioria das sociedades adquire – reproduz – inovações tecnológicas e instituições políticas de outras sociedades, ou seja, não as inventa.
A difusão e a migração dentro de um continente contribuem de modo essencial para o desenvolvimento de suas sociedades, tendendo a compartilhar seus avanços, desde que os ambientes o permitam.
O historiador destaca que uma maior área geográfica ou uma maior população significam mais inventores potenciais e mais sociedades competindo entre si, mais inovações e mais pressão para adotar ou reter inovações; aqueles que não as adotarem tenderão a ser eliminados pelos rivais.
Evidente que a presença de instituições políticas e sociais inclusivas é crucial para que sejam gerados incentivos positivos para o fomento da destruição criativa nos mercados e o consequente desenvolvimento econômico e social de uma nação (ACEMOGLU; ROBINSON, 2012).
Muito importante ressaltar que sociedades são dinâmicas em suas decisões e ações, o que pode acarretar avanços e/ou retrocessos ao longo do tempo.
Nesta veia, é imperativo compreender que o desenvolvimento e a aceitação das invenções variam muito de sociedade para sociedade, inclusive no mesmo continente. Eles também variam com o passar do tempo dentro da mesma sociedade.
Em A Riqueza das Nações, Adam Smith observou que a crescente divisão do trabalho leva a um aumento da produtividade e é a principal causa da prosperidade. Para ele, a divisão do trabalho depende da extensão do mercado. Na verdade, é a extensão do mercado que impulsiona a divisão do trabalho e a divisão do trabalho que impele a extensão do mercado.
A divisão inicial do trabalho origina-se da possibilidade de trocar um produto especializado de alguém por outra coisa “especializada” de outrem.
Por essa razão, Smith se opôs veementemente ao mercantilismo, negando que a manutenção de superávits comerciais, criados artificialmente pela imposição de barreiras comerciais, aumentaria a riqueza de uma nação.
De acordo com ele, através do livre comércio internacional, estados poderiam abrir mercados para seus excedentes especializados e trocar por mercadorias estrangeiras a um custo menor do que aquele necessário para produzir internamente.
Smith percebeu que o intercâmbio comercial é fundamental para o processo de inovação. Inovações são potencializadas e aceleradas naquelas sociedades que possuem mercados mais livres internamente e, especialmente, naquelas com maior grau de abertura e trocas externas de ideias, produtos, serviços e tecnologias que resultam num maior crescimento econômico e social para os países.
Ao mesmo tempo, as inovações não se desenvolvem e não prosperam em mercados que se fecham às trocas e às fundamentais interações nas redes de relacionamentos entre atores econômicos e sociais. Lógico, basta observar o que ocorre entre a pujante Coreia do Sul vis-à-vis a autoritária e fechada Coreia do Norte.
Smith visualizou que são as trocas e a especialização as responsáveis pela evolução do padrão de vida de uma sociedade. Na medida em que as trocas e a especialização estão acontecendo, a evolução cultural tende a se acelerar quando a densidade populacional aumenta. Similarmente, desacelera com a diminuição do tamanho da população.
Assim, o comércio internacional – livre – oferece um maior acesso às inovações em todos os níveis de um contexto econômico e social.
A lógica smithiana é de que, quanto mais indivíduos estiverem se associando e colaborando uns com os outros nos diversos setores de um mercado, quanto mais uns compartilham atividades no mercado com estranhos por meio de relações consentidas, maior será a produtividade e a possibilidade de que empreendedores possam descobrir novas oportunidades para criar e ofertar soluções inovadoras – lucrativas para todos – a fim de resolver melhor os problemas das pessoas.
Jared Diamond analisou o desenvolvimento evolutivo das civilizações e a partir daí sustentou que, naqueles locais em que não havia barreiras geográficas e ecológicas que impediam a chegada de novas ideias e inovações, as sociedades se desenvolveram mais, ocasionando um aumento populacional e, respectivamente, um incremento de inovações que provocaram maior crescimento econômico e social.
Muitas das inovações que se apresentaram nos períodos a.C. eram de fato transformações incrementais, na forma de combinações entre coisas e soluções que já haviam sido descobertas em outros lugares. Atualmente, na era da digitalização, da inteligência artificial, em que barreiras de distância estão sendo aniquiladas, em economias de mercado, os fluxos de informação e comércio impulsionam uma maior integração e colaboração global, potencializando o aparecimento de inovações em valor.
Ideias, conceitos e experiências fluem e são compartilhadas e implementadas por meio de transações relacionais globais, demandando intensa colaboração entre indivíduos e empresas nas diferentes fases de projeto, suprimento, manufatura, distribuição e entrega.
Esse aspecto expande a possibilidade do surgimento de inovações tão necessárias para o avanço da qualidade de vida das pessoas em todo o mundo. Novas soluções mais inteligentes e baratas são essenciais para o atendimento daquelas populações que vivem em regiões socialmente mais precárias e que possuem necessidades ainda não atendidas tendo em vista a falta de recursos econômicos.
Inovações úteis se originam através de um processo evolutivo, por meio da integração entre pessoas e organizações que concebem novos projetos que se tornam verdadeiras soluções para os clientes. A partir de um contínuo processo de aperfeiçoamentos via uma série de tentativas e erros, chega-se a um aprendizado coletivo, que posteriormente gera a oferta de uma solução genuína.
É exatamente pela possibilidade de se adquirirem insumos, componentes, produtos, serviços, tecnologias, mão-de-obra especializada, recursos e capacidades mais qualificados e/ou mais baratos que atualmente o processo de manufatura está formatado em cadeias globais de valor, tanto entre as grandes companhias de varejo mundiais, como entre as grandes transnacionais industriais que produzem competitivamente por meio de relacionamentos colaborativos nos seus ecossistemas globais.
Num mundo em que as novas tecnologias possibilitam novos modelos de negócios mais centrados nas necessidades dos consumidores, a fim de que organizações continuem lucrando, é preciso cada vez mais inovar em valor e crescer. Para tanto, é indispensável colaborar nos ecossistemas de negócios para capacitar e ampliar recursos tecnológicos, de produção e logística, de acesso a mercados, financeiros, entre outros.
Infelizmente, no Brasil burocrático, intervencionista, em que inexiste verdadeira economia de mercado, livre, com competição de fato, predominam monopólios e oligopólios na estrutura de oferta de bens e serviços estratégicos. Setor petroquímico, siderúrgico, plástico, bancário; a lista é extensa!
A falta de competição, criada artificialmente por meio de entraves ao livre comércio, inibe o surgimento de novos empreendimentos e a maior associação e colaboração entre pessoas. Como resultado, são gerados menos estímulos à criação de empregos e renda. Pior, a população é obrigada a adquirir produtos mais caros e de qualidade inferior.
No que se refere ao mercado externo, o Brasil é um país extremamente fechado e introvertido. Foram décadas de alinhamento ideológico com determinados países que impediram a participação do Brasil e do Mercosul nos vários acordos de comércio global.
Desse modo, as empresas nacionais não atuam nas cadeias globais de valor. Consequentemente, os produtos brasileiros, de modo geral, são pouco inovadores, visto que o país não consegue se envolver eficientemente nos fluxos tecnológicos das grandes transnacionais. Além disso, deixam de ser competitivos em nível de custos de produção e logística pela impossibilidade de agregação de volumes, impedindo o alcance de economias de escala. Ademais, a crônica defasagem nacional em infraestrutura faz com que o país tenha, ao mesmo tempo, altos custos logísticos e baixos níveis de serviço.
A falta de liberdade econômica castiga a todos, especialmente os mais pobres, que são obrigados a consumir produtos e serviços mais caros e deficientes.
A receita pragmática para o desenvolvimento econômico e social é mais liberdade e exposição ao mundo!
É crucial aumentar a participação brasileira nas redes de comércio globais, a fim de que mais gente possa se inserir no mercado, associando-se com outras pessoas em empreendimentos que intensifiquem as possibilidades de especialização. A partir daí, incrementam-se trocas interna e externamente, possibilitando o acesso a produtos e serviços mais diversificados, inovadores, de melhor qualidade e mais baratos.
Enfim, desenvolvimento econômico e maior inclusão social manifestam-se não com menos, mas com mais mercado!
Crescimento econômico sobrevém com mercados mais livres e competitivos, em que são impulsionadas descobertas inovadoras para os problemas da sociedade.
Mais e maiores oportunidades de avanços sociais derivam do superior programa social: a geração de empregos – produção de empregos pelo maior crescimento econômico oportunizado pela liberdade nos mercados.
Referências:
ACEMOGLU, Daron; ROBINSON, James A. Por que as nações fracassam: as origens do poder, da prosperidade e da pobreza. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
DIAMOND, J. Armas, germes e aço: os destinos das sociedades humanas. São Paulo, Record, 1998.
SMITH, A. A riqueza das nações. São Paulo, Abril Cultural, Col. “Os Economistas”, 1983.