Aqui nos Estados Unidos há uma expressão muito comum usada para alertar quando uma reação necessária vem tarde demais: "Too little, too late". Gente que desperta para uma dura realidade e banca o "herói" de forma tímida demais, tarde demais. Costuma servir só para desencargo de consciência, ou para lacrar mesmo, sinalizar virtude. É o que estamos vendo do tucanato brasileiro hoje...
Deltan Dallagnol teve seu mandato cassado. O humorista Leo Lins foi censurado e tratado como bandido por contar piadas. A água começou a bater no bumbum de quem achava estar blindado da ditadura em curso, pois seu alvo era basicamente de "bolsonaristas". Não foi por falta de aviso...
Não preciso ficar dando nomes, mas citar um ou outro pode servir para ilustrar o fenômeno. Vejamos meu ex-colega de bancada do 3em1, na Jovem Pan, Paulo Mathias. Ele teve vários colegas seus perseguidos, calados, censurados, demitidos, tudo por um sistema podre e carcomido. Ficou num confortável silêncio, protegido no quentinho. Agora que pegaram Deltan, ele constatou: "O Brasil é o país em que não se pode combater a corrupção". Jura? Mais alguns dias e ele vai descobrir que não se pode criticar com veemência o STF também, com ministros cúmplices desses corruptos...
Até mesmo Sergio Moro, que também é alvo do sistema e o próximo da lista, segundo muita gente, andou encontrando tempo para elogiar o STF, depois de um encontro rápido com o ministro Alexandre. "O combate à corrupção ainda respira. Decisão importante do STF que merece elogios", escreveu sobre a condenação de Collor de Mello. Sério? Então o senador não percebe mesmo que Collor só foi punido pelo "crime" de apoiar Bolsonaro? A punição seletiva, que protege corruptos petistas e persegue adversários políticos, virou "combate à corrupção" agora, em vez de perseguição política?
Ando cansado, eu sei. Pessimista, alguns dirão. Prefiro dizer realista. Tenho lugar de fala. Quando fui perseguido, com contas bancárias congeladas (lá se vão cinco meses), redes sociais censuradas (até hoje) e até passaporte cancelado, sem falar da demissão da JP por pura pressão do sistema, esses tucanos ficaram em silêncio, não se manifestaram, não prestaram solidariedade, não condenaram o evidente abuso de poder.
Tenho amigos liberais que preferem ignorar tudo isso e chamar esses tucanos para o nosso lado agora, pois "precisamos deles". Lamento, mas discordo. O efeito pedagógico é fundamental aqui, se o Brasil um dia pretende ser um país sério e livre, coisa que certamente não o é hoje. Não contem comigo para aceitar indignação seletiva e tardia, que pretende criar a "direita permitida", voltar com o teatro das tesouras.
Sim, eu vou continuar condenando o abuso quando os tucanos forem seus alvos. Mas não vou fingir que a perseguição começou agora, tampouco vou aplaudir quem só acordou porque o maçarico chegou no seu cangote, sendo que até ontem estavam na zona de conforto dos covardes.
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