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A política brasileira é dominada pela esquerda desde a redemocratização. Basta pensar que até os tucanos social-democratas já foram considerados "direita", expondo a hegemonia esquerdista em Brasília. O PFL tirou o Liberal do nome, e os liberais agradecem. Ninguém assumia a defesa dos valores liberais clássicos, menos ainda dos princípios conservadores.

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Jair Bolsonaro lançou essa semana seu projeto da Aliança pelo Brasil. Alguns enxergam nele o primeiro projeto verdadeiramente conservador. Falso. Em que pesem alguns traços de fato conservadores, não se trata de um partido realmente alinhado ao conservadorismo. As diretrizes não são exatamente o problema: família, religião, e defesa da vida podem fazer parte de uma base programática conservadora sem dúvida.

A ideologia do Aliança pelo Brasil aborda temas como a defesa dos valores religiosos, da "família tradicional" e do porte de armas. Um dos trechos do programa – bastante aplaudido pelos presentes – fala que a “laicidade do Estado jamais significou ateísmo obrigatório”. Verdade.

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Em outro trecho, o programa aborda o combate a ideologias como nazismo, socialismo, comunismo e "globalismo". Esta última tem sido atacada por grupos de direita nos últimos anos, e é definida como uma ação para retirar a soberania dos países. Nova verdade. Os adversários apontados pela Aliança são os certos.

Mas por que, então, não é um partido conservador? Porque tudo gira em torno de uma pessoa, não de princípios, e porque esta pessoa, o presidente, já deu vários sinais de seguir como inspiração as ideias nacional-populistas com viés autoritário de figuras como Olavo de Carvalho ou Steve Bannon. É um projeto personalista demais para ser tachado de conservador. Comentei sobre isso no 3em1 desta quinta e hoje cedo no Jornal da Manhã:

O projeto pessoal e familiar de Bolsonaro não pode ser categorizado como um partido conservador de fato. Ou seja, continuamos sem um partido que efetivamente defenda os valores básicos do conservadorismo, como o ceticismo com o poder, a prudência, a cautela, o viés anti-revolucionário e anti-utópico, o apreço pelas instituições etc. O que temos, em seu lugar, é um político que concentra em sua figura todo o messianismo redentor, definindo-se mais pelo que odeia do que pelo que ama.

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Não obstante, a mídia, acostumada com a hegemonia de esquerda, aproveita a ocasião para colocar essa caricatura de conservadorismo como a fiel representação conservadora, e questiona onde está a alternativa liberal na economia e nos costumes. É o que fez Eliane Cantanhêde:

A grande pergunta, porém, é que direita é essa? Aquela direita de Luís Eduardo? Ou uma nova direita de cultos? A resposta pode definir uma linha clara entre os que apoiam o governo Bolsonaro por pragmatismo ou falta de opção e aqueles que realmente comungam as ideias, muitas delas beirando o absurdo, da nova onda de poder. 

Filho do ex-governador e ex-senador Antonio Carlos Magalhães, o ACM, Luís Eduardo incorporava o que se pode chamar de uma terceira vertente da direita clássica brasileira. Depois do coronelismo bruto da era getulista e do caudilhismo mais envolvente, à la ACM, o jovem deputado baiano era a promessa de uma direita moderna, urbana, liberal no sentido mais amplo.

Já Bolsonaro é o quê? É conceitualmente de direita e comunga com as premissas clássicas do liberalismo? Ou apenas pensa, fala e age atabalhoadamente, embolando a defesa de UstraPinochet e Stroessner, uma visão tosca sobre globalização, a mistura deletéria de política com religião, a obsessão por armas, a cultura do corporativismo, o desprezo por cadeirinhas e radares, o desdém pela pesquisa e a ciência, a falta de paciência com a ecologia, uma política externa personalista e belicosa, a mal disfarçada tese do “bandido bom é bandido morto”? 

É nisso que desembocou a direita brasileira? Cadê a direita que equilibra o liberalismo na economia com o liberalismo social e cultural?

Fica claro que, para boa parte da imprensa, existe a tal "direita permitida", e ela vai até... o "progressismo" nos costumes! Nada efetivamente conservador pode existir. E a tática consiste em chamar Bolsonaro de o legítimo representante do conservadorismo, o que é falso, como vimos.

Ora, "liberal" nos costumes tem um monte! Todos são "progressistas". A alternativa não pode ser apenas entre "liberalismo" ou olavismo. Há espaço legítimo para o verdadeiro conservadorismo.

O problema real é que Bannon e o olavismo não representam o conservadorismo de fato. São defensores do nacional-populismo tribal e autoritário. Mas a mídia não aceita é o conservador mesmo, e por isso usa essa caricatura para rejeitar o real conservadorismo. Bolsonaro é o espantalho perfeito para que nossos jornalistas possam condenar o "conservadorismo" e pedir, em seu lugar, o "progressismo" da turma do Livres ou tantos outros.

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Em suma, a "direita" permitida no Brasil é o Partido Democrata americano, de Obama, i.e., a esquerda!