Por Gabriel Wilhelms, publicado pelo Instituto Liberal
Roberto Alvim, o aspirante a nazista, caiu, mas o pior do vídeo não foi a referência a Goebbels, foi a tranquilidade com a qual foi revelado o plano de dirigismo cultural. Logo no início do vídeo, Alvim afirma que, quando assumiu o cargo, o presidente lhe fez um pedido: “Ele pediu que eu faça uma cultura que não destrua, mas que salve nossa juventude”. O restante do vídeo caminha no mesmo tom, colocando a Secretaria Especial da Cultura como o carro-chefe de uma pretensa transformação cultural guiada pelo Estado. Trata-se de uma aberração antiliberal e de uma apologia ao estatismo.
É importante notar que, logo na largada, Alvim deixa claro que seus planos dirigistas para a cultura estão alinhados com os desígnios do presidente e este, apesar de ter demitido o secretário, nada disse que possa contrapor essa visão. Bolsonaro foi eleito com um discurso enfático contra o aparelhamento de Estado petista, se referindo sempre a um aparelhamento ideológico. Dentro deste discurso, o presidente apontou, e aponta até hoje, as áreas de Educação e Cultura como sendo as principais afetadas e as mais utilizadas para propagandeamento ideológico. Dá para se questionar o quanto era aparelhamento de fato e o quanto era paranoia, mas uma coisa é certa: em nenhuma gestão petista algum ministro ou secretário falou de maneira tão descarada sobre a intenção de usar a máquina pública em prol de suas bandeiras. Deixa-se claro: isso não é só uma repetição do aparelhamento de esquerda, é ainda pior.
Vale ressaltar ainda que o vídeo foi feito na ocasião do lançamento do Prêmio Nacional das Artes. Ora, Bolsonaro sempre esbravejou contra a Lei Rouanet e financiamentos culturais para filmes e projetos que entendia serem de esquerda, mas alguém acredita que a seleção dos contemplados pelo prêmio estará livre de viés ideológico? Está clara como água a intenção de direcionar tais incentivos para a promoção de obras de arte que entendam como “conservadoras”, estando supostamente aliadas com as aspirações da população.
A existência de tais incentivos é altamente questionável, mas o governo não parece ter nenhuma pretensão de extingui-los, preferindo usá-los como ferramenta de seu próprio dirigismo. É um mal do bolsonarismo em si, que delega ao presidente uma missão quase celestial de travar um combate no campo moral e religioso, usando para tal a máquina pública. O dirigismo cultural não é apenas aceito como é defendido no melhor espírito “chegou a nossa vez”.
Roberto Alvim caiu, mas será que o próximo também não será incumbindo da mesma missão e não terá o mesmo desiderato? Duvido que a visão do governo para a cultura seja alterada, não a essa altura do campeonato. No fim, a polêmica em torno de Alvim pode ter sido oportuna para expor o dirigismo que se desenha, o que só pode encontrar o repúdio como resposta.
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