Por Luan Sperandio, publicado pelo Instituto Liberal
Um dos maiores indicadores de poder político é a influência para indicação a cargos e obter benefícios destinados a seus protegidos – e isso diz muito sobre a aptidão de Luiz Inácio Lula da Silva. Condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, ele é réu em outras 7 ações e investigado em outras 2. Mesmo assim, teve sua candidatura lançada pelo Partido dos Trabalhadores e figurou acima de um terço das intenções de voto em algumas pesquisas para a presidência da República. Foi impedido por força da Ficha-Limpa, apenas. Em outras palavras, mesmo que em decadência, ele continua extremamente influente.
Desde que ascendeu à Presidência da República em 2003, estar próximo a ele tornou-se a chave para conseguir cargos de prestígio e com altos salários (muitos sem precisar trabalhar). O contato com o ex-presidente possibilitou ainda patrocínios de eventos sem viabilidade econômica, aportes financeiros para empresas, enriquecimento por causas suspeitas, entre outros privilégios.
Imediatamente ao assumir o planalto, em 2003, esposas, maridos, primos e irmãos de pessoas ligadas a Lula passaram a ser nomeadas para funções de confiança no Executivo e Legislativo – muitas sem nunca ter tido qualquer experiência que justificasse tecnicamente as indicações.
Entre os exemplos de quem ingressou em cargos comissionados de segundo escalão com a ascensão de Lula estão a mulher de José Dirceu, a esposa e o irmão de Antonio Palocci, o primo de Luis Fernando Furlan, o marido de Marina Silva (que veio a deixar o partido apenas em 2009) e as esposas de Nilmário Miranda e de José Fritsch – políticos influentes dentro do PT. Aliados que tinham pedido eleições em seus estados também foram alocados em pastas ministeriais.
Os anos seguintes vieram a mostrar que isso era apenas o início. O uso de influência política a fim de beneficiar familiares e amigos não é exclusividade do petista, mas nunca antes na história deste país tantas pessoas próximas a um presidente se beneficiaram profissionalmente por isso. Relacionei abaixo diversos casos que demonstram como Lula se utilizou de sua posição com finalidade de favorecer quem quis, e entender a forma como cada caso procedeu diz muito sobre como as coisas funcionam no Brasil, especialmente no Partido dos Trabalhadores.
1) Os cargos comissionados e a ONG milionária de Lurian Lula da Silva
Desde novembro de 2017, Lurian Cordeiro Lula da Silva é assessora parlamentar da deputada estadual Rosângela Zeidan na Assembleia Legislativa do Rio, reeleita em 2018. Recebe a modesta quantia de R$ 7.326,64 mensais.
À época, ao responder as críticas por nomear Lurian apenas por ela ser filha do ex-presidente, a deputada petista afirmou que “resumir [a nomeação] a uma relação de parentesco ou é desconhecimento ou é misoginia.”
Rosângela é casada com Washington Quaquá, presidente do PT fluminense e um dos principais defensores de Lula, com quem mantém amizade há décadas. Um exemplo ocorreu em junho de 2017, pouco antes da primeira condenação na Lava Jato, em que ele divulgou nota sustentando um “confronto popular aberto nas ruas” caso o ex-presidente fosse condenado. Não há dúvidas de que nomear a filha de Lula é uma tentativa de agradá-lo.
Embora Lurian afirme que teve apenas ônus em sua vida por ser filha de Lula, sua trajetória demonstra o contrário. Dentre os inúmeros escândalos dos dois governos de seu pai, ela protagonizou um deles ao ser responsável pela organização Rede 13. A ONG foi acusada por um ex-integrante de fechar as portas logo após receber um repasse do governo federal de 7,5 milhões de reais. Ouvido na a CPI das ONGs, Jorge Lorenzetti, o churrasqueiro de Lula e que auxiliou no fechamento da corporação, afirmou que, na verdade, ela “foi extinta sem realizar nenhum convênio(com o governo federal)”. A história nunca ficou bem esclarecida, pois a base governista era maioria na CPI e conseguiu vetar maiores apurações sobre a ONG em questão. O argumento para restringir o trabalho da comissão e deixar de fora eventuais investigações sobre a ONG de Lurian foi estapafúrdio: a possibilidade de elas atingirem o então presidente. Era o período em que o PT era hegemônico no Congresso e na opinião pública e declarações como essas vindo de um parlamentar não geravam tanta repercussão social.
Após o episódio, Lurian passou a acumular cargos de indicações políticas. Ela foi secretária de Ação Social da prefeitura de São José e Chefe de gabinete do prefeito Djalma Berger, além de assessora parlamentar do então deputado federal Gabriel Chalita, ganhando sempre salários razoavelmente altos.
2) O genro de Lula que fazia lobby no governo para empresários condenados por formação de quadrilha
Esposo de Lurian, Marcelo Sato protagonizou escândalos quando Lula ainda sentava na cadeira presidencial. Ele foi assessor parlamentar nos mandatos de Ana Paula Lima, Deputada Estadual pelo PT em Santa Catarina, que é casada com Décio Lima, Deputado Federal em exercício.
O empresário Chico Ramos, sócio-controlador da Agrenco do Brasil S/A, mantinha relações bastante próximas a Sato e Décio. À época, relatório da Polícia Federal mostrou troca de mais de 100 ligações e e-mails entre eles, com Ramos pedindo e obtendo facilitações no desenrolar de questões pendentes em órgãos públicos. Não deve ser difícil imaginar quantas portas um lobista do convívio familiar do, a época, homem mais poderoso do país, deve conseguir abrir.
Em troca dos auxílios, segundo as declarações à Justiça Eleitoral, a Agrenco doou mais de um terço dos cerca de R$ 450 mil da campanha eleitoral que levou Décio Lima à Brasília, em 2006.
Marcelo foi ainda investigado na Operação Influenza, movida pela Polícia Federal, após ser flagrado em gravações com uma quadrilha de empresários de Santa Catarina e de São Paulo, apontados como responsáveis por desfalques milionários contra os cofres públicos.
As conversas telefônicas indicavam o mesmo padrão: ele atuando como lobista junto a órgãos públicos federais. O genro do petista fazia tráfico de influência e atuava até mesmo agendando reuniões entre autoridades governamentais e os empresários, posteriormente condenados criminalmente. Em uma das conversas, Sato negociou o recebimento de 10 mil reais com o empresário João Quimio Nojiri, que chegou a ser preso.
Ao final de tudo, o genro de Lula foi absolvido porque todas as provas reunidas pelo Ministério Público contra ele foram consideradas nulas, isto é, não puderam ser levadas em conta judicialmente. Tudo isso aconteceu por um mero detalhe processual: a juíza do caso considerou os grampos ilegais por terem sido autorizados apenas pela Justiça Estadual, onde as investigações iniciaram. Como ao longo da ação penal – em virtude das matérias envolvidas – o processo passou a ser de competência da Justiça Federal e não houve novas autorizações de gravações, elas foram anuladas do processo. Sem essas gravações, ele acabou sendo inocentado.
3) A peça de teatro da neta de Lula que conseguiu patrocínio da Oi
Filha de Lurian e Marcelo, Maria Beatriz da Silva Sato Rosa é a neta mais velha do ex-presidente. Conhecida como Bia Lula, atualmente é secretária da Juventude do Partido dos Trabalhadores de Maricá. Era a aposta do partido para eleger-se em 2018, mas acabou desistindo de concorrer em virtude do receio de hostilidades.
Quando adolescente, Bia foi protagonista de um caso, no mínimo, fora da curva. Por um ano e três meses uma produtora de teatro carioca buscou junto a grandes empresas privadas e estatais, sem sucesso, patrocínio para a realização da peça A Megera Domada, de William Shakespeare.
Tamanha demora na captação de recursos indica que o evento era inviável economicamente. Apesar disso, bastou uma mudança no elenco, que passou a ser estrelado pela neta do ex-sindicalista, que a Oi decidiu patrocinar o espetáculo em R$ 300 mil. O detalhe é que Beatriz não era uma grande atriz: tratava-se, na verdade, de sua peça de estreia.
4) Os empregos fantasmas da nora de Lula e seus amigos
Casada com o quarto filho de Lula, Sandro Luís Lula da Silva, Marlene Araújo Lula da Silva recebe um salário de R$ 13.500,00 mensais para atuar no Conselho Nacional do Serviço Social da Indústria, o Sesi, em São Paulo.
Ela usava o nome de solteira, Araújo, a fim de evitar despertar atenção da imprensa, o que funcionou por alguns anos. Em 2014, no entanto, sua atuação passou a ser questionada. Embora estivesse já há 7 anos na corporação, não soube informar quais atividades exercia à reportagem da Época, além de ser constatado que ela raramente aparecia ao local de serviço. A Controladoria-Geral da União abriu processo contra Marlene e outros funcionários identificados como fantasmas nos quadros da entidade, sendo todos indicados por Lula e pelo PT, além de reberem altas remunerações.
Entre eles está o amigo do ex-presidente e, em tese, colega de trabalho de Marlene, Rogério Aurélio Pimentel, que ganhava 10 mil reais por mês sem ir ao escritório. Ele trabalhou no gabinete pessoal da presidência nos oito anos de mandato de Luiz Inácio e, após Dilma Rousseff chegar ao Palácio do Planalto, ele foi alocado neste sindicato.
O Sesi era utilizado ainda para empregar outros empregados fantasmas ligados ao PT. Entre eles Márcia Regina Cunha (esposa do ex-deputado João Paulo Cunha, condenado no mensalão), que recebe R$ 22 mil por mês desde 2003; Osvaldo Bargas, ex-diretor da CUT, que embolsa 23 mil; Douglas Martins de Souza, ex-secretário adjunto da Secretaria de Igualdade Racial no início do governo Lula, com vencimentos de 36 mil reais, o mesmo valor da sindicalista Sandra Cabral, amiga de Delúbio Soares.
5) O filho de Lula que recebia dinheiro do PT para ficar em casa
Sandro Luís também já teve seu emprego fantasma para contar história. Entre 2002 e 2005, ele era registrado como funcionário do PT paulista, sem nunca ter aparecido no partido. Ao serem questionados sobre a atuação de Sandro, os empregados que atuavam no local demonstraram não conhecê-lo e, segundo apuração da Folha de São Paulo, entraram em contradições sobre sua função e tempo de trabalho.
À época, Sandro ainda estava na faculdade, mas seu salário era de R$ 1.522 mensais. Corrigida pela inflação, a importância monetária corresponderia hoje a mais de R$ 4.500,00. Nada mau para um estagiário que, segundo o partido, “prestava serviços de informática à distância”.
6) A empresa dos filhos e da nora de Lula que mesmo sem funcionários faturou mais de 200 mil reais em um ano
O mesmo Sandro possui, junto com Marlene e seu irmão, Marcos Claudio, a FlexBR, empresa de consultoria em tecnologia da informação. Embora em 2014 tenha recolhido repasses do Instituto Lula de 114 mil reais e mais de 72 mil reais da L.I.L.S. Palestras, Eventos e Publicações (pessoa jurídica de palestras do ex-presidente), a FlexBR sequer site tem, tampouco funcionário registrado.
Atualmente, a Operação Lava Jato está investigando essas transferênciassob suspeita de serem, na verdade, ocultação de propina. O presidente do instituto, Paulo Okamotto, foi intimado em 2017 para apresentar comprovantes da prestação de serviços que justificassem esses valores.
7) A empresa do filho de Lula que quadruplicou o faturamento reduzindo seus funcionários
Da mesma forma que a FlexBR, a sociedade empresária G4 Entretenimento, em que outro filho de Lula é sócio majoritário, está sob investigação da Lava Jato por suspeita de ter sido utilizada para ocultar pagamentos de propina. A contestação se dá pela sociedade empresária ter recebido mais de 1,3 milhões de reais em repasses do Instituto Lula. Esse montante representa mais recursos que todas as demais empresas destinatárias de valores do instituto ao longo de sua atuação.
A organização presta atividades de suporte técnico, manutenção e outros serviços em tecnologia da informação. Chamou atenção dos investigadores da Lava Jato o fato de a distribuição dos lucros da G4 não observar em alguns anos a composição societária da empresa. Fabio Luis Lula da Silva, também conhecido como Lulinha, detém metade das ações da corporação, mas recebeu 100% dos lucros dela em 2012, 96% em 2013 e 62% em 2014, um indicativo de negócios ilegais.
Ademais, a despeito do vultuoso faturamento, entre 2009 e 2010 a firma sequer tinha funcionários. Em 2012 tinha três, no ano seguinte oito e, embora tenha reduzido para seis funcionários em 2014, os recebimentos da G4 vindos do Instituto saltaram de R$ 263 mil reais para mais de um milhão de reais. Por determinação judicial o instituto também precisará comprovar a prestação de serviços da empresa à organização.
8) O trabalho copiado da internet do filho de Lula que valeu 4 milhões de reais
Caçula de Lula, Luís Cláudio é dono da LFT Marketing Esportivo, negócio de consultoria desportiva. A quebra do sigilo bancário dele revelou que eles receberam quase 10 milhões de reais desde 2009. A despeito dos valores significativos, a organização não possui nenhum funcionário.
A capacidade técnica demonstrada às autoridades não parece justificar tamanho faturamento. O trabalho entregue para comprovar a prestação de serviço à empresa de diplomacia Marcondes & Mautoni foi copiado da internet. Pelo trabalho receberam 4 milhões de reais. Dessa forma, ao que tudo indica, a organização nem sequer transmite expertise em consultoria.
A Marcondes é investigada pela Operação Zelotes e é acusada de comprar medidas provisórias durante o Governo Lula e Dilma Rousseff. A pessoa jurídica de Luís Cláudio teria intermediado essas transações. Atualmente seus bens estão bloqueados judicialmente.
9) O sobrinho que enriqueceu por influência de Lula
Taiguara Rodrigues era até 2009 um pequeno empresário da cidade de Santos, sendo sócio de uma empresa que fazia fechamentos de varandas em apartamentos. Isso mudou quando ele decidiu abrir empresas e utilizar-se da influência de seu tio, à época presidente da República, para fechar contratos no exterior.
A vida modesta que levava – vivia em uma casa com quarto e sala e um carro velho na garagem – mudou. Fechou contratos no exterior e passou a ostentar viagens em várias capitais do mundo, viver em uma cobertura duplex em Santos e andar de Land Rover, um veículo avaliado em mais de 200 mil reais.
A reviravolta na vida de Taiguara ficou mais fácil de ser entendida a partir de delação de Marcelo Odebrecht à Lava Jato. Foi revelado que Lula pediu que a empreiteira contratasse a empresa de Taiguara para obras realizadas na Angola.
A criação da empresa nada mais foi que um meio de usufruir da influência de seu tio, Lula. Taiguara chegou a levar para reuniões fotos autografadas por Lula para facilitar negociação de contratos.
O valor recebido pela empresa entre 2009 e 2015 foi de R$ 20 milhões.Esses contratos envolviam ainda financiamento do BNDES, isto é, você pagou por eles. O caso é mais um em que o ex-presidente é réu e responde por tráfico de influência.
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