É um espanto. Descubro, com Gregório Duvivier, que só temos candidatos conservadores na disputa presidencial, e que o problema do Brasil é não termos a legalização do aborto e das drogas. Emir Sader foi outro que resolveu “acusar” Marina Silva de “nova direita”. Em que planeta esses ícones do esquerdismo boçal vivem?
Em sua coluna de hoje na Folha, o criador do Porta dos Fundos acha que o Brasil é um país muito conservador porque não libera geral. Para ele, o mundo seria muito melhor se qualquer mulher pudesse simplesmente entrar numa clínica legal e retirar o feto intruso, ou “parasita”, ou se pudesse entrar em uma loja e pedir 200 gramas de coca – não o refrigerante, mas o pó branco.
Greg ignora ainda as bandeiras “progressistas” que dominam a cena cultural brasileira, e o próprio PT, no poder há 12 anos, que endossou o relativismo moral como nunca antes na história deste país. Mas o escritor e humorista não está satisfeito. Enxerga reacionários em todo canto, até na Marina e em Dilma, pois, afinal, não pregam o “vale tudo” imediato. Diz ele:
O Brasil vai na direção oposta. É constrangedor ver todos os principais candidatos se estapeando pelo eleitorado conservador. Não se trata de propor mudanças, trata-se de vender apego à tradição. “Você me conhece, sabe que eu sou o que mais acredita em Deus, o que mais passou longe de dar a bunda, de cheirar pó, olhem só como a minha é filha virgem, olhem só como o meu filho é hétero.” Todos estão desesperados pelo voto conservador. Estranhamente, ninguém está nem aí pro voto aborteiro.
Se as eleições, como anuncia o plantão da Globo, são a festa da democracia, essa festa, Dona Globo, está meio caída -ou fui eu que bebi pouco. Na minha opinião, tem pastor demais e maconha de menos. A maioria dos candidatos não fede nem cheira -a não ser um deles, que cheira. Um amigo gay outro dia disse que “levantar bandeira é cafona e quem sai do armário é porque quer atenção”. Amigo, tudo bem, ninguém é obrigado a sair do armário. Mas você não precisa trancar a porta por dentro.
Sair do armário não é um ato exibicionista. Levantar bandeira também não. O manifesto das 343 vagabundas, como ficou conhecido, não permitiu às manifestantes que elas fizessem um aborto. Elas já o tinham feito. Permitiu às suas filhas e netas.
Ateus, maconheiros, vagabundas, pederastas, sapatões e travestis do mundo: uni-vos. Porque o lado de lá tá bem juntinho.
Quando leio algo tão idiota, confesso ter certa vergonha de ser ateu e liberal, que defende as minorias – não os movimentos coletivistas que falam em nome das minorias. Morro de medo de ser confundido com um sujeito como o Greg! Prefiro até mesmo ficar do lado dos conservadores reacionários de verdade. Bolsonaro ou Jean Wyllys? Não é difícil escolher.
Para Gregório Duvivier, é critério de valor moral ser gay, ateu, viciado em drogas ou prostituta. Esses seriam seres “moralmente superiores” aos “caretas” defensores de uma família tradicional e do “bom comportamento”. Se você não for indiferente entre ter uma filha prostituta ou médica, então você é um reacionário. E está bem representado pelos candidatos atuais!
Como pode alguém inverter tanto a realidade e subverter tanto os valores morais? Parece até Richard Dawkins, que fez um papelão recentemente ao dizer em seu Twitter que era “imoral” uma mãe não interromper a gravidez se soubesse que seu filho terá síndrome de Down. Se os ateístas militantes e relativistas morais continuarem assim, vou ter que correr para dentro de algum armário conservador, pois essas bandeiras passam mais longe do liberalismo clássico do que Plutão da Terra!
Rodrigo Constantino
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião