Alguns leitores me pedem mais textos sobre o cotidiano aqui nos Estados Unidos, comparando com nossa (triste) realidade no Brasil. Calma. Com o tempo, sem dúvida terei muitas pautas sobre o assunto. Mas é preciso ir com cautela, para administrar bem a revolta do leitor brasileiro, preso às amarras nacionais. Pelo incrível que isso possa parecer, muitos não sabem como é a vida da classe média por aqui, pois sofreram décadas de lavagem cerebral da esquerda caviar antiamericana e passaram a desmerecer essa grande nação, vista sempre com desconfiança ou desdém.
Os Estados Unidos são um país muito rico, com muitos milionários, mas essencialmente são um país de classe média. E a vida é feita para essa gente. Tudo é prático, tudo é feito para funcionar dando o menor trabalho possível para casais atarefados demais com a profissão, a criação dos filhos e o lazer, sem ter as mordomias às quais nossa classe “média” se acostumou, incluindo uma empregada doméstica mesmo em lares mais humildes. Aqui, preciso cozinhar, lavar minhas roupas e dar uma geral na casa: mas como tudo isso é mais fácil por aqui!
O arroz, por exemplo, basta colocar numa panela moderna que ela faz tudo por você, e fica uma delícia. Várias são as opções de comida saudável congelada ou semi-pronta (nem venham me falar daqueles congelados da Sadia, por favor!). Camisas “iron free” já saem da máquina de lavar “passadas”. Há os robôzinhos aspiradores que, programados, saem da “toca” e limpam o chão, e depois retornam à “toca”. E por aí vai.
Mas o assunto aqui nem seria esse, e sim a dignidade dessa classe média, ou mesmo baixa. Como é a vida das empregadas domésticas no Brasil? Agora que a Lei da Doméstica foi regulamentada, muitos acham que a situação vai melhorar. Ledo engano! Se bastasse um decreto estatal para resolver as coisas, o Brasil seria um lugar bem melhor do que os Estados Unidos para os mais pobres. No entanto, o que vemos é justamente o contrário.
Já comentei sobre isso aqui, mostrando inclusive o carro da faxineira diarista que chegou aqui para fazer a primeira grande limpeza da casa. Pois bem, eis o carro:
Mas essa não é a exceção, e sim a regra. Saía eu da minha academia ontem quando vi o professor entrando em seu carro. Era um Volksvagen sedan, tipo um Passat alemão daqueles bem grandes e suntuosos. Não era novinho em folha, mas era relativamente novo e bem cuidado. Professor de musculação e ginástica, repito, com um carrão desses, de “bacana” no Brasil, como diria Ancelmo Gois. Vamos comparar com a realidade dos nossos professores de academia?
Vamos continuar com o carro como parâmetro. Outro dia, chegando na Ikea, deparei-me com isso que vai abaixo:
Caso o leitor não esteja vendo muito bem do que se trata, eis um zoom da placa na vaga:
A vaga é reservada para o empregado do mês da Ikea (nada como o capitalismo para premiar a competência), e o carrão nela estacionado era um Toyota Camry, carro de luxo no Brasil (por acaso era o meu) e carro de classe média por aqui. Salvo em caso de o motorista ser um espertalhão no pior estilo carioca e ter parado na vaga dando uma de “malandro”, estamos diante de um funcionário vendedor da Ikea que dirige um belo possante japonês, que aqui se vê aos montes nas ruas. O “bacana” no Brasil é o comum por aqui…
A esquerda caviar, ela mesma consumidora do luxo que só o capitalismo pode oferecer, poderá dizer que tudo isso é pouco, que é materialista demais, que se trata de um povo prisioneiro do consumo e tudo mais. Enfim, essas baboseiras que “intelectuais” adoram repetir, sempre longe da pobreza que enxergam como cool e descolada, inspirados em Rousseau. Mas o fato é que esse conforto material, que sem dúvida não preenche uma vida, significa dignidade ao trabalhador.
É essa a essência que vejo por aqui: há dignidade no trabalho honesto. O sujeito pode ser humilde, pode não ter riqueza, mas ele tem uma casa razoável, um carro decente na garagem, e o básico em segurança. Ele não é, como no caso brasileiro, vítima de insegurança constante, ou obrigado a enfrentar verdadeiro calvário no transporte público medonho para chegar todo dia ao trabalho. Ele sai de sua casa arrumada, por mais simples que seja, trafega por ruas bem asfaltadas em seu carro confortável, e pode executar suas funções com dignidade, numa cultura em que o trabalho é valorizado, não a vitimização e as esmolas.
É pouco? Só para quem toma como garantida a vida confortável fruto do capitalismo que gosta de criticar, normalmente esses “intelectuais” que já nasceram em berço de ouro e nunca tiveram que encarar duas horas no “buzão” ou no trem lotado só para chegar ao destino final, trabalhar, e depois ter que enfrentar a tortura uma vez mais, chegando em casa moído, destruído, casa esta sem a devida segurança. Para os demais, fica claro que essa é uma conquista e tanto, um verdadeiro “milagre” do capitalismo: oferecer à imensa maioria, especialmente àqueles que realmente querem trabalhar, uma vida digna.
Rodrigo Constantino
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS