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A direita brasileira é a esquerda americana: o caso do comércio externo
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A coisa mais lamentável de nossos “debates políticos” é o enorme atraso ideológico visível, acima de tudo, na “acusação” de que o PSDB é um partido de direita. Em qualquer país civilizado do mundo ele seria visto como aquilo que é: um partido de centro-esquerda, social-democrata. Mas aqui ainda há forte ranço marxista, os velhos socialistas ainda pululam, e o resultado é esse salto do centro para a esquerda, onde até radicais bolivarianos passam a ser vistos como “moderados”, enquanto basta o menor sinal de conservadorismo para ser logo tachado de “extrema-direita”.

Não há no Brasil nada como uma Fox News, por exemplo, e a esquerdista CNN é tida como “neutra” ou “isenta”. Não me entendam mal: há esquerda radical nos Estados Unidos também, e Obama e Hillary Clinton fazem parte dela, como boa parte do Partido Democrata. Essa gente bebeu em fonte extremamente “progressista”. Mas como a cultura da liberdade e as instituições americanas são bem fortes, esses radicais não se criam muito, e precisam se dobrar diante da realidade. A esquerda americana, por isso, seria direita no Brasil, acabaria “acusada” de “neoliberal” também.

Querem um exemplo claro? A política externa voltada para o comércio. Enquanto o Brasil do PT afunda cada vez mais na lama bolivariana do Mercosul, totalmente ideologizado, os Estados Unidos, mesmo sob Obama, fecham acordos de livre-comércio e abraçam a globalização. No Brasil, isso seria visto como algo de “ultra-liberais”. A postura da esquerda americana fica evidente na entrevista de Penny Pritzker a Duda Teixeira nas páginas amarelas da VEJA da semana passada. Pritzker, com fortuna avaliada em US$ 2,5 bilhões, é secretária de Comércio do governo Obama, e vem quebrando a cultura protecionista do partido. Disse ela:

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A esquerda americana, representada pelo Partido Democrata, não chega ao extremo de condenar a globalização e pregar soluções como o fechamento protecionista. Como mais prova disso, o governo vem fechando acordos bilaterais, o que coloca ainda mais pressão sobre o Brasil, com sua camisa de força do Mercosul, conforme constata o editorial do GLOBO de hoje:

Por 60 a 38 votos, o Senado americano deu ao presidente Barack Obama autoridade para negociar acordos comerciais por meio do chamado fast-track, agilizando a atuação da Casa Branca nas negociações de importantes tratados comerciais com a Ásia e a Europa. Pelo sistema fast-track, as propostas acertadas em negociações do governo americano só podem ser aprovadas ou rejeitadas em bloco, não cabendo ao Legislativo a inclusão de emendas. A prerrogativa do Congresso de alterar o que fosse negociado no exterior enfraquecia o poder de barganha de Washington e colocava em dúvida a validade das negociações em andamento.

Neste caso, o principal adversário de Obama era seu próprio partido, historicamente comprometido com os sindicatos americanos e outros grupos, como produtores rurais, segmentos trabalhistas e defensores dos “interesses nacionais”, leia-se, protecionismo.

[…]

Tomada um dia após o lançamento do nosso Plano Nacional de Exportações (que já nasceu afetado pelo ajuste fiscal), a decisão dos senadores americanos não é uma boa notícia para o Brasil, que continua imobilizado no Mercosul, bloco que substituiu a integração comercial pelo isolamento político.

As evidências do equívoco estão nos números da nossa balança comercial (déficit acumulado até maio de US$ 2,3 bilhões). Lamenta-se que, ao deixar a ideologia dominar o comércio exterior, o Brasil fique de fora de acordos preferenciais e desperdice oportunidades num momento em que os preços das commodities caem, e o resto do mundo se reinventa em tratados multilaterais vantajosos.

Ou seja, não só a oposição de direita vota a favor do país, de forma responsável, como a própria esquerda americana entende que é preciso mergulhar na globalização, em vez de se fechar para o mundo para “proteger empregos” (à custa de todos os consumidores e pagadores de impostos). A esquerda americana demonstra, assim, um mínimo de bom senso, de noção econômica.

Quem no Brasil tem essa visão é o PSDB, que continua sendo de esquerda, mas com claras concessões ao mundo moderno. Só que o PSDB é visto como “direita”, e não temos nada parecido com o Partido Republicano, à exceção de alguns poucos casos isolados dentro do DEM. Um Tea Party, então, seria impensável no Brasil por enquanto. E até uma TV Globo, com Jô Soares e novelas “progressistas”, é tida como de “direita” pela esquerda brasileira. Imagina uma Fox News em terras tupiniquins!

Tudo isso é muito triste, e retrata nosso atraso intelectual. Ainda debatemos se a Terra é quadrada ou redonda, em vez de debatermos as nuanças do seu arredondamento. Por aqui, Marx ainda é levado a sério! Professores universitários idolatram Cuba. É um espanto! A esquerda americana seria a nossa direita, e simplesmente não temos uma verdadeira direita, partidos liberais ou conservadores que defendem abertamente o capitalismo, o livre mercado, a globalização, a drástica redução do estado.

Por falar em Cuba, a secretária de Obama, o presidente mais à esquerda das últimas décadas nos Estados Unidos, acha que a saída para tanta miséria é justamente o capitalismo, a globalização:

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Já a nossa esquerda ainda aplaude o regime cubano, e, sem notar a contradição, culpa o embargo americano pela miséria na ilha. Ou seja, também acha que o problema de Cuba é a falta de capitalismo, de globalização, o fato de não ser “explorada” pelos “consumistas ianques”. Mas não admite, ou não consegue ligar lé com cré, causa e efeito. Prefere continuar admirando e pregando o socialismo, enquanto cospe no capitalismo e na globalização. É jurássico!

Enquanto a secretária do esquerdista Obama pede mais mercado para Cuba, a nossa esquerda defende a importação de escravos cubanos pelo Brasil, e ainda faz silêncio diante de absurdos como o caso do médico impedido de casar com uma brasileira, conforme um leitor do GLOBO apontou hoje:

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Onde estão Chico e Caetano? Ora, em Paris, jogando pelada em campos particulares do Recreio, ou fazendo shows no exterior para ganhar em dólar, moeda forte. Onde está a oposição? É de esquerda também, salvo raras exceções. Ronaldo Caiado tem condenado esse absurdo, mas é uma voz isolada praticamente. E o problema maior é justamente a falta de uma direita organizada e forte, como existe nos Estados Unidos. No Brasil, preso no século XX, a nossa direita inexiste, enquanto nossa esquerda moderada é vista como “ultra-direita”, e nossa esquerda jurássica é tida como “moderada”. Vamos levar um bom tempo até superar os dinossauros marxistas…

Rodrigo Constantino

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