Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo

A encenação do “governo-camarão” no combate à crise para disfarçar o lulopetismo encurralado

Há três bons artigos hoje no GLOBO que merecem leitura, e o título esquisito acima é uma mistureba deles. No primeiro, o professor de economia da PUC Rogerio Werneck mostra que não há credibilidade alguma o movimento do governo em direção a algumas “reformas” para o ajuste fiscal. Afinal, é o mesmo governo que sempre defendeu a expansão dos gastos públicos e criou até uma “nova matriz macroeconômica” só para justificar a gastança irresponsável. Diz Werneck:

Aos incrédulos, o que se pede é que acreditem que, de repente — 11 anos após ter liderado, com grande estardalhaço, o torpedeamento da proposta de contenção da expansão do gasto público feita pelo então ministro Antonio Palocci —, Dilma Rousseff estaria, afinal, convencida de que a contenção de gastos faz todo o sentido. E que também acreditem que a mesma equipe econômica que por tanto tempo festejou o expansionismo fiscal irresponsável, sob a bandeira da nova matriz macroeconômica, estaria de repente imbuída da necessidade de medidas severas de contenção de gastos.

Credibilidade à parte, o próprio governo não esconde sua preocupação com os efeitos colaterais desse tímido ensaio de mudança de discurso. O Planalto e a Fazenda têm feito das tripas coração para tentar conciliar o inconciliável. Bem sabem que, por vagas que sejam, as menções a medidas de contenção de gastos e as alusões à reforma da Previdência foram muito mal recebidas no PT e nos chamados movimentos sociais, de cujo apoio a presidente não pode prescindir na difícil quadra que atravessa.

[…]

O governo está cansado de saber disso. E não é por outra razão que tem mantido um discurso tão vago sobre as medidas fiscais com que acena, escorado em promessas evasivas de envio de propostas concretas ao Congresso “nos próximos meses”. É o que lhe basta para ganhar tempo e, na medida do possível, tentar prolongar a encenação de combate à crise até que o Congresso, afinal, decida se a presidente deve ou não ser afastada.

Ora, restou ao PT somente os “movimentos sociais” de sempre, a turma da mortadela, a legião do pixuleco, aquela gente movida a benesses estatais. E eles estão preocupados com a perda das boquinhas. Logo, Dilma não vai ir contra a única base de apoio que lhe restou. O “ajuste fiscal”, que nem começou, já subiu no telhado faz tempo. Morreu. Acabou o que não começou. O PT teme um estrago enorme nas eleições municipais deste ano, e não vai abandonar seus pelegos queridos, seus apaniguados e cúmplices, em prol do país. Esquece! Quem acredita nisso não é apenas ingênuo: é tapado mesmo.

O segundo artigo é do cientista político Bolívar Lamounier, que lembra da máxima revolucionária americana de que sem representação, não pode haver taxação. Um governo sem legitimidade alguma, com uma taxa de aprovação de míseros 5%, depois de todo o estrago que causou, não tem o direito de propor aumento de impostos, e falar em volta da CPMF. Diz Lamounier:

Alguém precisa urgentemente avisar à “doutora” Dilma que o Estado Novo acabou em 1945 e o regime militar em 1985, sem esquecer que o Estado ditatorial que ela acalentou em seus sonhos de juventude não passou de uma nefasta alucinação voluntarista. O Estado que ela chefia é um corpo em decomposição, quase ditatorial por incompetência. Designá-lo como patrimonialista já começa a parecer elogio. Minha sugestão é denominá-lo Estado-camarão, tendo em vista sua cabeça avultada e mal suprida de substâncias culinariamente aproveitáveis.

Não muito tempo atrás, no governo Lula, o senador José Sarney escreveu que a República brasileira perigava se transformar numa Casa da Mãe Joana. Dê-se a César o que é de César: essa transformação, Lula e Dilma conseguiram efetivar. Mas concluir a obra, transformando um país de 203 milhões de cidadãos e 143 milhões de eleitores numa republiqueta sem brios, isso nem ela, nem Lula e nem a parcela do PMDB que os apoia jamais conseguirão.

Tomara! Assim esperamos, e lutaremos para evitar tal destino trágico. O PT não vai conseguir transformar o Brasil numa Venezuela. O povo, aquele que o PT diz defender, vai às ruas no dia 13 de março mostrar que basta, que daqui o socialismo petista não passa, que chega de tantos abusos, dessa crise avassaladora, a maior de nossa história. O PT está acuado, mas não morreu. É preciso tomar cuidado com o bicho, pois o monstro já deu sinais de recuperação antes, para continuar a devastação.

Isso me remete ao terceiro artigo destacado, do professor de Ciência Política Gustavo Muller, que faz um interessante paralelo entre as diferentes fases em que Elio Gaspari divide o regime militar com as fases do lulopetismo. De forma resumida, os fatos envolvendo a não esclarecida morte de Celso Daniel até o caso Valdomiro Diniz poderiam se enquadrar na fase do “petismo envergonhado”.

A fase do “petismo escancarado” cobriria tanto o mensalão como o petrolão. Os golpistas ficam mais ousados, passam a chamar qualquer oposição de “golpista”, atacam a mídia, aparelham a máquina estatal toda. Quando Lula se torna alvo das investigações, acusado de crimes como ocultação de patrimônio, entramos na fase do “petismo encurralado”.  Conclui o autor:

O objetivo agora não é salvar o mandato de Dilma, mas salvar o mito Lula, mito que se confundiu com o próprio partido. Tal qual o personagem do filme “A grande ilusão”, que conquistou o eleitorado de seu estado repetindo a frase “um caipira tem que votar em outro caipira”, Lula, um filho do Brasil, encarnava na própria pele o suor do povo brasileiro. A partir do momento em que o Lula de tantas lutas aceita de bom grado, para seu merecido descanso, duas dachas, o mito se desfaz. A corrupção perde o seu sentido teleológico para adquirir conotações “humanas, demasiadamente humanas”, e a narrativa do líder popular adquire um tom opaco que não combina com o tampo da pia da cozinha do seu tríplex. O petismo agora se encontra encurralado em um elevador privativo.

“A ditadura derrotada” de Gaspari faz alusão à derrota da linha-dura. A passagem do petismo encurralado para o petismo derrotado dependerá do que sobrar das instituições democráticas.

E elas precisam sobreviver! Para o Brasil continuar democrático, o PT precisa ser derrotado, o mito Lula precisa ser desfeito (estamos a caminho), e digo mais: o Barba precisa ser preso! Já disse aqui antes e repito: o Brasil só vai passar a limpo essa fase sombria de lulopetismo quando o “chefe” for em cana. Os ataques canalhas ao juiz Sergio Moro subiram de tom, pois os safados sentem o calor da Lava-Jato no cangote.

O PT não quer saber da crise econômica que destrói empregos, vidas, o país. Ele quer saber de uma só coisa, seu único objetivo desde sempre: preservar-se no poder. Para tanto, encena um combate inexistente à crise, ataca oponentes e coloca em xeque a Justiça, tudo para desviar o foco de seus reais problemas. Lula está encurralado. O PT está encurralado. Como essa história vai se desenrolar é crucial para o futuro de nosso país. Se acabar em “pizza”, se a quadrilha vencer essa parada, então o Brasil acabou, é “game over”, seremos 200 milhões num Bananão de fazer inveja aos africanos.

Mas se Moro e sua equipe avançarem, se as instituições em frangalhos sobreviverem, se a “oposição” acordar e, principalmente, se a população fizer sua parte, tomar as ruas e pressionar pela saída de Dilma e do PT, aí teremos alguma chance. O povo quis fugir da realidade e curtir a folia do carnaval. Tudo bem. Faz parte, ainda que espante muitos pela aparente esquizofrenia entre o clima de festa e o caos social em volta. Mas o verdadeiro carnaval, a festa que vai parar o país fora de época, essa será no dia em que o Brahma do Tríplex passar a sua primeira noite no xilindró. Aí ninguém segura esse povo. Amém!

Rodrigo Constantino

Use este espaço apenas para a comunicação de erros