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A era do ressentimento: a geração que se recusa a amadurecer

Algum grau de ressentimento é inevitável em um mundo imperfeito e até trágico, no qual somos obrigados a conviver diariamente com nossas profundas limitações e com pessoas melhores do que nós. A questão é: como lidar com isso? A resposta encontrada pelas gerações contemporâneas não é das melhores. Fugas cada vez mais patéticas de adultos mimados, incapazes de enfrentar a dura realidade.

Esse é o tema do novo livro de Luiz Felipe Pondé, A era do ressentimento: uma agenda para o contemporâneo. Quem já leu os outros livros do filósofo ou acompanha sua coluna semanal na Folha não verá nenhuma grande novidade, mas o pequeno livro reúne uma ótima coletânea de reflexões e aforismos que servem como um soco na cara de nossa vaidade, cada vez mais aflorada nos tempos do “eu” acima de tudo.

Pondé flerta com o niilismo sem mergulhar nele, em busca de algum sentido em uma vida sem muito sentido. Mas creio que essa aproximação do “real” ou da “falta”, como diriam os psicanalistas, serve para nosso amadurecimento. Abaixo, selecionei algumas passagens interessantes, mas recomendo a leitura na íntegra, até porque é coisa de não mais do que duas horas de investimento, altamente recompensadoras:

Nossa vida se dá, em grande parte, como a de um animal que vive fora de seu lugar: sonhamos em ser imortais mas sempre acabamos por experimentar o mundo finito e o limite de nossos sonhos.

A Idade Média perderá seu título de era das trevas e nós receberemos essa maldição. Lembrarão de nós como mimados, ressentidos e covardes.

Uma agenda para o contemporâneo é um ato de coragem. Sua missão é nos fazer ver quem somos numa época afogada em narcisismo.

Penso que a esquerda só atrapalha nosso esforço de compreensão das contradições do capitalismo, justamente porque ela é infantil e mitológica em sua visão de mundo.

O risco de as Ciências Humanas se tornarem alvo de ridículo no futuro é enorme (confiarão mais nas revistas femininas e nas pesquisas publicitárias), justamente porque elas perderam qualquer contato com a realidade e afirmam seus delírios sobre homens e mulheres que não existem. 

O homem contemporâneo é, talvez, o mais covarde que já caminhou sobre a Terra, sobre a qual deixará sua marca de incompetência em lidar com a morte, a dor e o fracasso. 

A beleza nasce no pântano e na lama do mundo. A beleza, quando expressa, deve ser rara, em detalhes, inesperada, senão perde a cor.

O narcisismo não é a marca de alguém que se ama muito, mas a marca de alguém que vive lambendo suas feridas porque é um miserável afetivo.

A mulher que pensa em se realizar contra seu útero, em algum momento verá o deserto em seu espelho. Ter filhos nada tem a ver com felicidade pessoal, tem mais a ver com a lei da gravidade do que com a felicidade de uma escolha.

O mundo nunca viu gente tão acuada como nós. Não envelhecemos, apodrecemos. A maturidade está fora de moda. O espelho é nosso algoz. Os mais jovens, em pânico, fingindo que não, sofrem diante de pais e mães ridículos em seus modos e rostos falsamente juvenis.

Pobre juventude que habita um mundo em que é escolhida como guru. Quando um jovem é colocado na condição de guia, está condenado a querer sempre ser jovem, e todo jovem que permanece jovem logo se descobre um retardado.

Mas, como quase tudo no mundo contemporâneo é fake, virou moda dizer que homem que pensa primeiro na beleza física da mulher é machista. Não, é normal. Mas isso não quer dizer que seja fácil. Um homem pode destruir uma vida de sentido construído no dia a dia por conta de pernas lindas. É uma tragédia porque é a pura verdade.

Deus me livre de ser feliz. Soa estranho, mas me parece essencial nos afastarmos da neurose da felicidade.

Se você tem mais de trinta anos e se considera a pessoa mais importante do mundo, já fracassou como adulto.

Mulheres de verdade não querem homens bem resolvidos, querem homens que tenham atitude e pegada.

De alguma forma, a marca definitiva do contemporâneo é o narcisismo estéril e o individualismo histérico. Muita gente sente um profundo ressentimento por ter que sustentar (não só financeiramente) suas próprias vidas sem nenhuma garantia de felicidade. 

Nosso maior pecado foi acreditar que superamos as superstições porque criamos outras novas, entre elas a crença em si mesmo.

Se Hitler tivesse de enfrentar os jovens e adultos jovens de nossa época, teria ganho a guerra. Primeiro que seus professores afirmariam que matar é feio e opressor e que supor que os nazistas deveriam ser combatidos seria pura manifestação de intolerância e preconceito com o “diferente”.

O mundo contemporâneo inventou o impossível: a multiplicidade de diferenças que não fazem nenhuma diferença. 

O ressentimento faz de nós incapazes de ver algo simples: o universo é indiferente aos nossos desejos. 

O fim da heterossexualidade virá quando for determinado definitivamente que olhar para uma mulher será crime de gênero.

Todos os direitos humanos e as democracias não resistiriam a dez noites de escuridão.

Nunca haverá paz no mundo, só quando ele acabar e o silêncio do universo nos cobrir com seu véu de indiferença. 

A ideia de colocar no centro da sala de aula o “oprimido” transformou-se numa das maiores marcas dos idiotas do bem, devastando, no caso específico, a educação.

A solução para o ressentimento não é negá-lo, mas nomeá-lo, ler sobre ele, perceber que é impossível não o ter em nós em alguma medida porque sempre conviveremos com pessoas melhores do que nós. 

PS: Segue também um curto trecho de uma entrevista com a filósofa Ayn Rand, fonte na qual Pondé andou bebendo, sobre a “era da inveja”, que fala de coisas muito parecidas:

httpv://youtu.be/gaA_nlho6Kw

Rodrigo Constantino

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