Que preguiça! Alguns leitores me mandam textos de um sujeito que eu nunca tinha ouvido falar, que parece ter cunhado a expressão “Direita Miami”, em contraste ao “esquerda caviar”, título do meu último livro. Um amontoado de besteiras para Emir Sader nenhum botar defeito. Mas o dever me chama…
Antes, vale lembrar que foram os marxistas que cunharam o termo capitalismo, que acabou pegando. Capitalista sim, com muito orgulho. Portanto, aceitemos de bom grado a “alcunha” de “direita Miami”. O que exatamente seria isso?
Para começo de conversa, a direita Miami não acha que o socialismo acabou, como fingem os socialistas do século 21. Muito menos na América Latina da Venezuela. Sabem que o bolivarianismo é um risco bastante concreto.
Logo, ficam enojados com a tática de socialistas pagos para ridicularizar todos que alertam sobre o risco vermelho, como se fossem dinossauros saídos diretamente da década de 1960. Dinossauros são eles, os socialistas fingidos, que ainda não perceberam que a Guerra Fria terminou com um lado claramente derrotado: o socialista.
A direita Miami também tem perfeito conhecimento de que quem assume as falhas do comunismo, regime que trucidou mais de cem milhões de inocentes e só trouxe miséria e escravidão ao mundo, para logo depois também condenar igualmente o capitalismo, regime que tirou da miséria centenas de milhões de pessoas, não passa de um canalha. Os países mais pobres são justamente aqueles mais distantes do capitalismo!
Faz parte do rol de bandeiras da direita Miami, ainda, condenar todo tipo de privilégio, ou seja, de benesse estatal feita para ajudar “amigos do rei”. Isso inclui, naturalmente, os subsídios do BNDES e as barreiras protecionistas que, pasmem!, a esquerda caviar aplaude! Não dá para cobrar coerência dessa turma…
Deixar metade do que ganha com o próprio trabalho na mão do estado corrupto, inchado e ineficiente não faz parte das metas da direita Miami. A esquerda caviar, ao contrário, sofre de estatolatria, e tem orgasmos múltiplos quando fala em aumento de imposto para os “mais ricos” (leia-se classe média). Claro, ou a esquerda caviar é formada por consumidores de impostos, gente que mama na Lei Rouanet ou tem blog pago por propaganda estatal, ou por gente invejosa que quer simplesmente ver os outros em situação pior. Freud explica.
Che Guevara, para a direita Miami, é apenas o que é: um psicopata assassino, e não um herói que lutava pela paz (fuzilando inocentes?). Claro, isso não a impede de criticar ditadores de direita, como Pinochet, ainda que chame a atenção de todo membro da direita Miami a escandalosa hipocrisia de quem elogia as “conquistas sociais” cubanas, inexistentes, mas se nega a reconhecer o avanço infinitamente maior do Chile após a saída do socialista Allende e a implementação de reformas econômicas liberais.
Ser chamado de “lacerdinha” não é algo que incomode a direita Miami, que enxerga em Carlos Lacerda um dos poucos estadistas que o Brasil já teve. Grave mesmo seria alguém chamar um membro da direita Miami de “brizolinha” ou “lulinha”, ofensa que seria inaceitável para nós.
Shopping centers são vistos, pela direita Miami, como locais agradáveis para se fazer compras, passear, ir ao cinema, ou dar um “rolezinho” com os amigos – não confundir com baile funk na presença de mil baderneiros, coisa que apenas a esquerda caviar aplaude como “luta de classes” contra o preconceito (sim, somos preconceituosos quando se trata de falta de educação e arruaça, independentemente da renda ou cor).
Os que conhecem de economia na direita Miami sabem muito bem que ninguém mais, à exceção dos idiotas úteis da esquerda caviar, leva a sério gente como Paul Krugman, o sujeito que demandou uma bolha imobiliária em 2002 para salvar a crise de tecnologia. Neokeynesianos são apenas a nova roupagem dos antigos socialistas intervencionistas que pedem mais estado sempre.
Por fim, a direita Miami não tem vergonha de admitir que aprecia muitas coisas em Miami, como o funcionamento das leis, válidas para todos, a possibilidade de andar tranqüilamente pelas ruas decentes com carros decentes, comprados por um terço do preço brasileiro, as taxas de criminalidade significativamente menores do que as nossas, uma renda média quatro vezes a brasileira, etc.
Isso tudo, vale lembrar, com uma população predominantemente hispânica, provando que o problema da América Latina não está no DNA, mas na cultura, a mesma disseminada pela esquerda caviar, inclusive por blogueiros que pretendem falar em nome do povo, mas vivem como elite.
Enfim, a direita Miami, assim como a esquerda caviar, gosta de Miami mas, ao contrário desta, admite. Ou você pensa que a esquerda caviar viaja para Cuba nas férias? Faz-me rir…
Rodrigo Constantino