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As eleições parlamentares ocorridas neste fim de semana na Europa confirmaram os medos de muita gente, com o crescimento dos partidos mais extremistas, tanto de esquerda como de direita. São partidos eurocéticos, que condenam a União Europeia e em muitos casos, como no do Ukip britânico, pregam abertamente a retirada do país da comunidade.

Nigel Farage, líder do Ukip, tem sido um crítico estridente dos governantes europeus, e apesar da retórica um tanto sensacionalista, é inegável que faz vários ataques legítimos. O mais chocante sobre os seguidores do partido, como diz um colunista do The Spectator, é que são pessoas normais.

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A maioria dos analistas aponta para as dificuldades econômicas como causa dessa “revolta contra o sistema”. Não há como negar que o baixo crescimento influencia, que o clima constante de crise econômica acaba produzindo sérios efeitos políticos. Mas esses analistas erram ao apontar para as medidas de austeridade, que em muitos casos sequer foram adotadas, como o vilão.

Ao contrário: é justamente o excesso de welfare state que tem produzido esse sintoma. Governos inchados, endividados, que já cobram impostos em demasia, não conseguem lidar com o envelhecimento da população, com a perda do dinamismo econômico possível apenas com a “destruição criadora” do capitalismo liberal. Na ausência de reformas liberalizantes, o resultado é a estagnação econômica.

Basta avaliar o caso francês, um dos mais sintomáticos por ceder espaço ao partido de Le Pen, com mensagem claramente xenófoba. Ora, o governo atual é do socialista Hollande, que foi à contramão das propostas liberais e intensificou o papel do estado na economia, chegando a adotar impostos de 75% sobre os mais ricos. O tiro saiu pela culatra. E alguns “intelectuais” de esquerda ainda tentam culpar o liberalismo pelo problema?

Erram feio o alvo. Mesmo falando apenas do aspecto econômico, as impressões digitais do welfare state estão em todas as cenas do crime. Mas há um porém: a crise europeia não é apenas de cunho econômico. É, também e talvez principalmente, de caráter cultural.

Ao tentar impor uma integração forçada, as lideranças isoladas em Bruxelas conseguiram fomentar mais antagonismo. Os poderosos burocratas e políticos vivem distantes da população, e trata-se de um claro caso de poder sem rosto. As populações locais não confiam em seus governantes. Bruxelas não as representa. E claro que essa sensação de taxação sem representação aumenta quando vem a crise econômica.

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Para adicionar insulto à injúria, há o aspecto islâmico. Vários países foram “invadidos” por imigrantes muçulmanos, mas em vez de eles se adaptarem à cultura local que os recebeu, foram os povos locais que tiveram de aceitar, em nome do relativismo cultural, essas pessoas com costumes estranhos e muitas vezes retrógrados.

Criou-se um clima de segregação, cuja revolta é ampliada com o welfare state, pois em nome do coletivismo todos são obrigados a pagar a fatura. Qualquer crítica aos hábitos estranhos, que feriam até as liberdades individuais básicas tão caras aos europeus, era vista como “islamofobia”, blindando os imigrantes.

Não foram poucos os pensadores que alertaram para tais riscos. Um deles foi Walter Laqueur, autor de Os Últimos Dias da Europa. Ele dissecou a questão da imigração nos diferentes países europeus, mostrando como este fator representa um enorme risco devido a suas peculiaridades no caso da Europa.

Laqueur diz: “Se há mais xenofobia agora, isso talvez se deva em parte à reação da classe trabalhadora branca contra o tratamento preferencial que costuma se dar aos novos imigrantes”. Para o autor, “a imigração descontrolada não foi a única razão do declínio da Europa”. Entretanto, “considerada junto com outras desgraças continentais, ela remete a uma crise profunda; será preciso um milagre para tirar a Europa desses apuros”.

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A alternativa ao “milagre” seriam medidas impopulares, mas necessárias, que desarmassem a bomba-relógio do estado de bem-estar social com uma população envelhecida e repleta de “conquistas” legais, auxiliadas por uma mudança cultural que resgatasse os valores tradicionais da própria Europa.

A esquerda lutou contra ambas as coisas. Preservou as regalias insustentáveis do modelo estatal benevolente, e insistiu no relativismo cultural que acaba depreciando a própria cultura ocidental superior (não por acaso o destino desses imigrantes, em vez de ser o caminho contrário). Plantou, assim, as sementes que hoje começam a germinar, com o aumento do extremismo no continente.

Rodrigo Constantino