A tirada, excelente, por sinal, não é minha, mas de um leitor. Referia-se à reação de Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia e assessor de Hillary Clinton, comentando sobre a crise grega:
É concebível que o restante da Europa e a Alemanha acordem e se deem conta de que suas exigências à Grécia são absolutamente revoltantes. […] Para mim, é óbvio que a austeridade fracassou. O povo grego foi o primeiro a dizer: ‘Nos negamos a renunciar à nossa democracia e aceitar essa tortura da Alemanha’. Mas, com sorte, outros países como Espanha e Portugal vão dizer o mesmo.
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Creio que é possível tirar uma importante lição do êxito argentino. Depois do calote, a Argentina começou a crescer a uma taxa de 8% ao ano, a segunda mais alta do mundo, depois da China. Estive na Argentina e pude ver o êxito e o impacto no padrão de vida. A experiência argentina prova que há vida depois de uma reestruturação da dívida.
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Ainda que a Grécia tenha sua parcela de culpa na situação (que levou aos problemas fiscais descobertos em 2010), a desastrosa situação em que o país se encontra desde então é de responsabilidade da Troika (formada pelo FMI, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu).
É um espanto! Já expliquei em pormenores a origem dos problemas gregos aqui. É estarrecedor ver um Prêmio Nobel jogando o fardo para aqueles que pagam a conta da irresponsabilidade alheia, eximindo de culpa os próprios gregos. É uma postura irresponsável, um discurso sensacionalista, de um militante político de esquerda, não de um economista sério. Citar o caso argentino como um sucesso? Em que planeta Stiglitz vive?
Assim é a esquerda, não só nacional, como no mundo todo: planta dívidas e colhe calote. Durante a fase da bonança irresponsável e insustentável, jamais vemos esses mesmos economistas alertando para os riscos à frente, recomendando cautela, menos gastos públicos, menos endividamento das famílias e dos governos. Nunca! Ao contrário: eles sempre elogiam essa fase, celebram a “demanda agregada” aquecida que puxa o PIB para cima, colocando a carroça na frente dos bois e trocando causa e efeito.
Depois, quando a bolha que ajudaram a fomentar estoura, eles simplesmente culpam os credores, os austeros que foram responsáveis, e defendem o calote. Cobrar a dívida é “insensibilidade”. Ou seja, devemos estimular um comportamento irresponsável de quem se endivida demais e depois não pode pagar, transformando-o em vítima de banqueiros gananciosos. Essa mensagem, na boca de qualquer um, já é um absurdo. Quando sai de um Prêmio Nobel, é simplesmente algo assustador.
Rodrigo Constantino