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O último filme do Homem Aranha tinha como trama um sujeito trabalhador e negro, personagem de Jamie Foxx, que fica encantado quando o próprio herói dedica alguns segundos para conversar com ele. Afinal, ninguém ligava a mínima para o introspectivo nerd. Quando se vê ignorado, e com poderes adquiridos em um acidente, transforma-se no vilão Electro e resolve destruir tudo e todos.

A crítica foi dura, mas verdadeira ao acusar o filme de banal. E a esquerda, como sabemos, adora acusar Hollywood de banalidade, o que parece injusto uma vez que Hollywood vive tentando disseminar ideais “progressistas” mundo afora. Mas qual não foi a minha surpresa ao ver que um ícone da nossa esquerda, tido como “profundo” pelos artistas da “festiva”, endossou exatamente o mesmo enredo em sua coluna de hoje?!

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Falo de Francisco Bosco, aquele que gosta de usar termos complicados para simular profundidade intelectual, enquanto defende apenas a barbárie na prática, como o socialismo ou os black blocs. Na coluna de hoje ele fala do “homem invisível”, negro, que é vítima de preconceito, é sistematicamente ignorado pelos “loiros de olhos azuis” e, por isso, tadinho!, espanca, agride ou ate mata. Tudo para chamar uma legítima atenção à sua pessoa. Diz o “pensador”:

O sentido de sua violência é claro: obrigar o outro a reconhecê-lo. Não tendo conseguido, e ameaçado no cerne de seu ser pela invisibilidade a que o outro o condenava, tem o ímpeto de assassiná-lo, para fazer cessar a fonte de onde emana sua angústia de inexistência, ou para vingar-se dele, não o reconhecendo também, não reconhecendo nem sequer seu direito à vida, condenando-o à invisibilidade suprema, a morte.

Sentimos pena do agressor e raiva do agredido. Ou essa é a intenção do autor. Em um caso isolado, vá lá, podemos até apelar para um diagnóstico psicológico de “invisibilidade”. Agora, tentar partir disso para concluir que toda a nossa violência tem cunho racial, e que não passa de um grito de desespero e angústia de pobres negros abandonados ou ignorados, isso já é algo realmente patético. É o que faz Bosco:

Que somos seres constitutivamente intersubjetivos, que nossa segurança existencial depende, desde o nascimento, do reconhecimento do outro, e que há uma relação de reciprocidade entre ser reconhecido e reconhecer — tudo isso está bem fundamentado pela filosofia, pela psicanálise e pelas ciências sociais. E entretanto é notável o quanto esse saber é ignorado, denegado, recalcado ou manipulado socialmente. Temos, no Brasil, índices impressionantes de violência e criminalidade. Esses crimes têm cor de pele e origem social. Estão evidentemente vinculados a um déficit vasto e multifacetado de reconhecimento. E, contudo, a resposta mais comum a esse problema central de nossa vida social continua sendo a intensificação de mecanismos repressivos, em vez da ampliação de direitos e de outras formas de produção igualitária de reconhecimento. Basta evocar a pesquisa publicada há poucas semanas pela “Carta Capital”: quase 90% da população brasileira apoiam a redução da maioridade penal. Ou seja, a imensa maioria das pessoa deseja prescrever, como remédio, justamente o veneno que está na origem da doença.

Um espanto! À parte o “constituitivamente intersubjetivos”, o tipo de linguajar do qual falava antes que serve apenas para causar boa impressão nos leitores, o conteúdo espremido é de lascar: Bosco está afirmando mesmo que o crime no Brasil é resultado do preconceito! Pobres bandidos que matam por um par de tênis só para chamar um pouco de atenção…

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Esqueça o fato de que a imensa maioria dos pobres é formada por gente trabalhadora e honesta, muitas vezes vítima desses criminosos tanto quando os ricos da “elite branca”. Esqueça, ainda, o fato de que temos criminosos perigosos, brancos, e de classe média, alguns que falam até de filosofia, como Marcola, e poderiam debater com Bosco sobre o citado Hegel, para quem “o crime tem sua origem no sentimento de um desrespeito”.

Essa mentalidade, disseminada há décadas pela esquerda, de que o criminoso é, na verdade, a vítima, é não apenas equivocada, mas podre e ofensiva para com todas as vítimas desses criminosos, gente honesta que escolhe levar uma vida decente e honrada. O que parece realmente invisível é a inteligência dessa esquerda, ou sua honestidade e empatia com as vítimas verdadeiras.

Até quando nossos ícones esquerdistas vão subverter todos os valores morais desse jeito? Até quando vão tomar sempre o partido do lado errado, dos bandidos e criminosos? E até quando serão tratados como “intelectuais” pelos idiotas úteis?

Rodrigo Constantino