Por João Luiz Mauad, para o Instituto Liberal
“O que é prudente na conduta de qualquer família particular dificilmente constituiria insensatez na conduta de um grande reino”. Adam Smith
Com a eleição do senhor Tsipras, pode-se dizer que o bolivarianismo desembarcou na Grécia. Tenho pena dos gregos, cujo futuro se mostra bastante nebuloso, para não dizer doloroso.
Se Milton Friedman já nos havia alertado sobre o mito do almoço grátis, recentemente Paulo Rabello de Castro muito bem descreveu o ‘Mito do Governo Grátis’ (não deixem de adquirir, pois vale cada centavo do preço). Segundo o autor, “O Mito do Governo Grátis é um fenômeno político que promete distribuir vantagens e ganhos para todos, sem custos para ninguém”. Tudo indica que foi justamente por acreditar na existência de governos grátis que os gregos elegeram o partido Syriza.
O que até pouco tempo era tido como uma grande virtude econômica, a austeridade, de uma hora para outra, transformou-se no maior dos vícios, pelo menos para a maioria dos gregos – só para lembrar, as políticas de austeridade, contra as quais os gregos votaram no domingo, significavam apenas que o governo deveria limitar seus gastos àquilo que arrecada, sem aumentar sua dívida e sem emitir dinheiro para financiar seus gastos. Não tenho dúvida de que os gregos estão trocando a dor de uma recessão agora pelo pesadelo de algo muito pior um pouco mais adiante.
Nesse sentido, é realmente exemplar o resultado da eleição, que colocará no poder um partido de extrema esquerda – algo praticamente inédito na Europa desde a queda do Muro de Berlim -, pois mostra, em cores vivas, o que pode acontecer quando um país inteiro vira as costas para a realidade e resolve que pode viver acima de suas possibilidades, sem se importar com a conta. Ou pior: achando que terceiros (no caso, principalmente os credores) estariam obrigados a pagá-la. Os gregos (ou pelo menos a maior parte deles) estão embriagados pela fantasia do “governo grátis” e seus políticos possuídos pelo devaneio de prover a felicidade geral sem custos, ou melhor, à custa dos outros. Não tem como dar certo.
Por isso, dificilmente o novo governo grego manterá o país atrelado ao Euro. A curto prazo, será um alívio, mas lá na frente a recessão e a inflação, a exemplo do que ocorre hoje com a Argentina, virão cobrar a conta.