Acabei de publicar um texto sobre a fortuna de Lula e Dirceu, mostrando que a esquerda igualitária, na prática, não condena a riqueza e a desigualdade, e sim os que ficaram ricos por mérito próprio. Ou seja, o igualitarismo seria apenas uma máscara para a inveja, típica daquele sujeito que acha melhor duas pessoas andarem a pé do que uma ter um Gol e a outra uma BMW. Ao ler a página de opinião do GLOBO, eis que deparo justamente com um artigo do deputado socialista Chico Alencar que exala essa inveja a cada linha.
O deputado, que já chegou a elogiar até mesmo a União Soviética, máquina de triturar inocentes, começa “criticando” Dilma, apenas para deixar de lado os escândalos de corrupção e atacar seu verdadeiro alvo: o capitalismo. A esquerda é tão cara de pau que tenta jogar no colo do “neoliberalismo” o fracasso do desenvolvimentismo intervencionista do PT, o mesmo que era enaltecido pela esquerda antes e criticado pelos liberais. Para Alencar, temos hoje um governo refém do “capital financeiro”, seguindo a ortodoxia do mercado. Ele deve viver em um país diferente, só pode.
Após essa afirmação absurda, de que o PT de Dilma seria, no fundo, o PSDB “ortodoxo”, Chico Alencar mostra suas garras e expõe o verdadeiro intuito do texto: tomar a riqueza alheia. É o que o socialismo sempre fez. O foco na desigualdade parte da premissa absurda de que riqueza é um jogo de soma zero, estático, em que João, para ficar rico, precisa tirar de Pedro. Logo, basta tomar o que é de João e “devolver” a Pedro que teremos um país melhor e mais justo. Diz ele:
Patrimonialistas, rejeitam uma reforma tributária progressiva, que taxe grandes fortunas, com o que se arrecadaria em torno de R$ 90 bilhões por ano. E que crie meios de repatriar ao menos parte dos estimados US$ 520 bilhões mantidos por brasileiros em paraísos fiscais.
A inclusão pelo consumo da Era Lula não superou a desigualdade social, agravada pelos cortes nas políticas sociais de educação, saúde e infraestrutura urbana e rural. A Receita Federal divulgou dados que fariam corar Thomas Piketty, de “O capital no século XXI”: 71.440 pessoas têm renda mensal superior a 160 salários mínimos — 0,05% da população economicamente ativa. Essa elite de “intocáveis” concentra 14% da renda total e 22,7% da riqueza em bens e ativos financeiros.
Ora, taxar grandes fortunas não melhora a vida dos mais pobres; apenas gera mais pobreza, ao criar incentivos perversos aos criadores de riqueza. Chico Alencar, como todo “igualitário”, acredita que se o governo tirasse bilhões dos mais ricos, mesmo que sua riqueza tenha sido obtida de forma legítima e por mérito próprio no mercado, isso será sinônimo tanto de justiça como de melhoria de vida dos mais pobres. As duas coisas são falsas.
O socialismo defendido pelo deputado do PSOL só criou igualdade na miséria, e mesmo assim nunca foi uma igualdade verdadeira, pois a cúpula no poder sempre gozou de inúmeros privilégios. Mesmo numa versão mais branda, como o intervencionismo petista em nome da igualdade, o que esse modelo esquerdista criou foi inflação, o pior “imposto” para os mais pobres, enquanto vários petistas ficaram milionários no processo. Alencar acha que concentrar mais poder e recursos no governo é a solução, ou seja, pede mais do veneno que causou nossa doença. E conclui:
Mais do que ética na política, que se viabilizaria através das virtudes individuais de pessoas honradas, é imperativo resgatar a ética da política. Só ela garante democracia e transparência nas instituições republicanas, socializando os meios de governar. Tudo isso depende de intensa mobilização cidadã. Quais entes coletivos, como partidos e outras organizações, estão de fato empenhados nessa tarefa?
Depende: o que o deputado socialista chama de “democracia” é algo bem diferente do que a maioria do povo brasileiro quer. Sua “socialização dos meios de governar” é um eufemismo para “democracia direta” que, por sua vez, é o oposto da verdadeira democracia, a representativa. Alencar se inspira no modelo venezuelano, e pergunta quais entes coletivos estão empenhados nessa tarefa de lutar por tal objetivo. Espera-se que nenhum!
O desafio dos liberais e conservadores será, caso o PT seja mesmo derrotado, mostrar aos leigos que o caminho não é o PSOL, apenas o PT de ontem. É o mesmo discurso, os mesmos meios pregados, apenas se vendendo como “puro”, como aquele que não se corrompeu (pois não está no poder). Alguns que estão indignados com o PT hoje poderão ser vítimas de um novo PT amanhã, caso não compreendam as raízes do problema.
O PT de Dirceu e Lula também adotava a mesmíssima retórica do PSOL de Chico Alencar, também combatia os mais ricos, também falava em igualdade, também queria taxar as grandes fortunas. Ou seja, também bebia da mesma fonte populista, incitando a paixão mesquinha da inveja. Deu nisso: milionários da República do Pixuleco levando uma vida de nababo, enquanto o povo precisa enfrentar uma inflação de 10% ao ano e o risco crescente de desemprego.
Chega de atacar a riqueza alheia! Falemos em criar mais oportunidades para todos, algo que não se consegue punindo ou pilhando os ricos, e sim reduzindo os obstáculos para a criação de riqueza, i.e., com reformas liberais que reduzam o papel do estado.
Rodrigo Constantino