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Escrevo sem saber como será a adesão dos brasileiros aos protestos marcados para hoje, alguns já em curso. Dependendo do resultado, o termômetro vai apontar ou um agravamento ou um arrefecimento da crise política que coloca a presidente Dilma numa situação de “balança mas não cai”. Mas uma coisa é certa: a imensa maioria do povo, indo ou não às ruas, quer a saída de Dilma do governo, está cansada do cinismo, das mentiras, da incompetência e da corrupção que assola o país.

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Portanto, não faz o menor sentido o que certas entidades, fazendo o jogo do próprio PT, têm dito sobre “unir o Brasil”. Qualquer união passa, hoje, por tirar Dilma de lá, pois com sua presença zumbi, sem credibilidade alguma, não temos chance de superar a crise e poder voltar a sonhar com um futuro melhor. O que diz a coluna de Ilimar Franco hoje no GLOBO, então, carece de sentido:

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Bandeiras como o impeachment não dividem o país coisa alguma! Pesquisas apontam que mais de 60% dos brasileiros desejam tal medida. Dilma conta com a aprovação de menos de 8% dos entrevistados. A ideia de que, para a união do país, falar em impedimento seria algo contraproducente não se sustenta, portanto. Os brasileiros sabem, no fundo, que qualquer processo de superação da crise deverá contar, necessariamente, com a saída de Dilma. A via mais nobre seria a renúncia, naturalmente, mas falta à “presidenta” tal nobreza e humildade.

Por isso mesmo, resta ao povo brasileiro a pressão das ruas, para que a mensagem fique ainda mais clara: com Dilma não há possibilidade de conversa e união. Os petistas tentam, desesperados, criar uma nova narrativa, alegar que as manifestações não são somente contra o governo Dilma, o PT, e sim algo que vem de antes, que combate uma “corrupção” mais abstrata. Falso: os protestos têm alvo certo e bem definido, e os petistas e seus aliados querem impedir o sucesso das manifestações pois sabem o que está em jogo. Como escreve Merval Pereira em sua coluna de hoje:

As manifestações marcadas para todo o país darão hoje a dimensão da crise que estamos vivendo, e o tamanho das massas nas ruas será decisivo para os desdobramentos políticos, mas não definitivo.

Os políticos no Congresso, os membros do Tribunal de Contas da União (TCU) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que têm nas mãos processos que podem levar à interrupção do mandato da presidente Dilma, estão ansiosos para ver materializar-se nas ruas o tamanho da indignação da sociedade civil, já medida pelas pesquisas de opinião num número impactante e recordista na história recente: 71% de rejeição ao governo Dilma.

A voz rouca das ruas, na feliz expressão de Ulysses Guimarães, é um fator fundamental na decisão política por trás dos julgamentos dos órgãos de controle que representam justamente essa sociedade que se movimenta pelo país em busca de uma solução para a crise em que estamos metidos.

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[…]

O processo da história está em marcha irreversível, e as manifestações de hoje são um elemento a mais nesse intrincado jogo político. Ao contrário das similares anteriores, as manifestações dos últimos anos contra o governo Dilma são fruto da convocação pelas redes sociais e não obedecem a comandos partidários, mesmo que partidos de oposição tenham aderido a elas. 

Mas há comandos partidários tentando ajudar o governo Dilma atrapalhando as manifestações. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, do PMDB, por exemplo, manteve para hoje eventos testes da Olimpíada 2016, fechando diversas ruas da Zona Sul, depois de ter sido anunciado que eles seriam adiados por causa das manifestações.

Como disse, escrevo antes de saber o resultado das manifestações, mas mesmo com certos obstáculos acredito que não será desprezível e que o maçarico continuará ligado no cangote da presidente. Os petistas acenam com uma “vontade” de conversar, de falar, agora, em união, mas é só porque perceberam que o destino do partido e da presidente é incerto e arriscado. Trata-se de uma tática cínica, como de praxe, de quem não acredita realmente na união, na conversa, no diálogo construtivo e civilizado. É um ato desesperado de quem não enxerga mais alternativa, e precisa ceder um pouco para sobreviver. Vejam o que escreve o senador Humberto Costa hoje no jornal:

O momento atual é de séria instabilidade política. Ele exige de todas as lideranças esforço em favor de uma grande concertação nacional que estanque a crise e nos tire do imobilismo.

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O cenário não deve abrigar atitudes inconsequentes nem pode ser usado como justificativa para saídas sem amparo na Constituição. Atos dessa natureza denotam imaturidade política, reprovável falta de compromisso com a democracia e servem a diminuir o Brasil ante a comunidade internacional.

Os que agem com responsabilidade e altivez já começam a externar inquietude com os expedientes de que alguns têm se valido para atiçar a crise e incendiar o país. A nota das duas maiores federações de indústrias do Brasil — Fiesp e Firjan — é um exemplo. Há manifesto apoio à proposta de união das forças políticas e uma exortação à responsabilidade.

[…]

A oposição deve retomar seu papel de combater o governo dentro da legalidade e da legitimidade. O mandato da presidente Dilma só findará em 2018. Ela não vai renunciar nem vai ser impedida de governar. Qualquer tentativa de abreviar seu mandato não será aceita.

[…]

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A onda de cansaço com a política está nas ruas não é de agora, e não é apenas com o governo ou com o PT, como muitos querem fazer parecer. Os movimentos de 2013 evidenciaram a insatisfação dos brasileiros com o modelo de representação vigente.

Temos condições de dobrar a crise econômica e assegurar ao Brasil o caminho do desenvolvimento inclusivo. Mas não conseguiremos vencê-la enquanto interesses mesquinhos patrocinarem uma crise política. É o momento de construirmos essa ampla concertação para garantirmos a estabilidade institucional de que o país precisa para seguir em frente.

São palavras desesperadas de quem tenta reescrever os fatos. Foi o PT que fechou, com sua arrogância e sua retórica, todas as portas para qualquer diálogo. Foi o PT que segregou o país entre “nós” e “eles”. Foi o PT que demonizou qualquer adversário político, tratado como inimigo com más intenções. Foi o PT que praticou o maior estelionato eleitoral da história. Foi Dilma quem, depois de ser reeleita com muito abuso da máquina estatal, sequer mencionou em seu discurso o nome do segundo colocado, que recebeu 51 milhões de votos nas urnas. O PT destruiu todas as pontes, e agora olha, apavorado, para o vácuo existente.

Ninguém, ao contrário do que afirma o senador petista, luta contra Dilma fora da legalidade e da Constituição. Ela prevê o impeachment, o mesmo que o PT pediu quando Collor era o presidente. Não é irresponsabilidade se articular para a saída da presidente; ao contrário: irresponsável é mantê-la lá a todo custo, mesmo que seja o de implodir a nação, inviabilizando reformas necessárias. A oposição está combatendo o PT dentro da democracia. Foi o PT que tentou destrui-la, com o mensalão e depois o petrolão, tentando comprar todos os deputados. E agora também é o PT, com seus aliados, que fala em “pegar em armas” e coisa do tipo, ferindo novamente as regras do jogo.

O golpismo vem do PT, e o povo brasileiro já percebeu isso. A farsa acabou, mas os petistas ainda não querem aceitar a dura realidade. O texto de Humberto Costa é um misto de desespero com esperança, achando que ainda é possível reverter o quadro de total rejeição ao governo. Mas o recado das ruas é inequívoco, e o que o povo quer está bem claro, como destaca Murilo de Aragão em texto publicado hoje no jornal:

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O que as ruas querem? Considerando o perfil dos manifestantes de eventos passados, a maioria era de eleitores de oposição. Entretanto, a situação de hoje é bem diferente. A impopularidade do governo pegou em cheio eleitores e não eleitores de Dilma.

Para piorar, a cena econômica se deteriorou frente ao quadro de março. O que era apenas político e ético, agora passa a ser econômico também. É uma situação muito grave que tende a enfraquecer o governo, já que tudo conspira contra. Inclusive a precária capacidade de o Executivo se comunicar. E, pior, de reagir ao recado das ruas.

O que quer as ruas? Basicamente, três coisas que dependem da preferência (ou da não preferência) política dos manifestantes. São elas: uma atitude firme dos poderes públicos contra a corrupção; a substituição do atual governo; e/ou a retomada do crescimento econômico, com controle da inflação.

Concordo com a análise, e digo mais: essa gente toda já sabe que tais metas não podem ser alcançadas com Dilma lá, com o PT. A substituição do atual governo é o desejo de quase todos os brasileiros hoje. Quando o PT fala em união, portanto, finge-se alheio aos acontecimentos do país. Que essa mensagem fique mais transparente após as manifestações de hoje pelo Brasil: qualquer união do país passa pela saída de Dilma e do PT do governo. O resto é grito de desespero de quem faz o “diabo” para não largar o osso, ainda que isso coloque em risco nosso futuro. O PT populista nunca ligou mesmo para o futuro do povo brasileiro…

Rodrigo Constantino

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