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A coluna de Marcelo Freixo na Folha hoje é, como de praxe, fruto de uma tremenda cara de pau. O deputado socialista resolve fazer uma metonímia que transforma Eduardo Cunha em símbolo de toda a política nacional desde o regime militar. Cunha é o fisiologismo, a corrupção, a elite financeira tomando conta do estado. E o grande pecado do PT foi ter tido a chance de mudar isso, mas preferir alimentar o monstro.

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Com um pouco mais de óleo de peroba, Lula e Dilma acabam como quase vítimas dos malvados do PMDB. O mais nojento é que o próprio Freixo acusa os tucanos de “moralidade seletiva”, mas dedica todo o seu texto ao ataque a Cunha, poupando o governo e os petistas. Vai ser seletivo assim em Cuba! Diz o deputado do PSOL:

Cunha é fruto da despolitização, da intolerância e de uma lógica de governabilidade baseada em acordões fisiológicos que transformaram o parlamentarismo de coalizão em parlamentarismo de extorsão.

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O PT não quis enfrentar este modelo ao assumir a Presidência. Lula teve a chance de realizar reformas no sistema político, mas preferiu alimentá-lo. Dilma vive agora as consequências dessa omissão e corre o risco de ser derrubada pelo Congresso que já não se sacia com cargos.

Nem uma palavra de por que Dilma pode cair? Pedaladas fiscais que desrespeitam a Lei de Responsabilidade Fiscal, petrolão, estelionato eleitoral, nada disso merece ser citado pelo nobre e ético deputado? Dilma cairia só por não ter mais cargos a oferecer? E por que ela cairia? Silêncio. E quem liderou o petrolão? Silêncio. Cunha é o Capeta, e o PT é vítima nessa história. Eis a mensagem “oculta” do bastião da moralidade. Ele continua:

Enquanto isso, parte dos deputados petistas tenta um acordo com Cunha para salvar o pescoço de todos, já que o peemedebista também está na berlinda. A bancada do PSOL fez o mínimo que se espera de um partido, pediu ao Conselho de Ética a cassação de Eduardo Cunha.

Nossa, como o PSOL é firme na ética! Não faz acordos, como os petistas. Só tem um detalhe: por que o PSOL não pede a renúncia da própria Dilma? Por que o PSOL não condena o petrolão, liderado pelo governo petista? Claro, restava apelar para o “sempre foi assim” para inocentar os camaradas do PT:

As denúncias contra o governo precisam ser investigadas, mas o debate político precisa ir além do impeachment. Caso contrário, não conseguiremos compreender as raízes históricas da crise e discutir o futuro do país. Precisamos pensar novas formas de participação social, mecanismos para diminuir a influência do poder econômico na política e superar o fisiologismo.

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Vamos além do impeachment sim. Vamos reduzir o tamanho do estado, maior convite à captura pelos grupos financeiros. Vamos privatizar o BNDES, para acabar com a “seleção de campeões nacionais”. Vamos privatizar a própria Petrobras, para não ter mais petrolão (alguém viu o “valão” por aí?).

Mas vamos combater também a impunidade, maior fermento da corrupção. Ou seja, vamos focar na punição desses que roubaram agora, que ainda estão no poder, que tentaram tomar de assalto o estado brasileiro. Por que Freixo já quer pensar “além do impeachment”, de preferência o pulando? Por que não focar no que deve ser feito agora para punir os atuais safados no poder?

“Após 126 anos, diante de uma república que se permite ter Cunha na presidência da Câmara, não podemos ficar bestializados. Em nome da res pública, algo precisa ser feito”, conclui Freixo. E o que dizer de uma “República” que permite Lula e Dilma chegarem à presidência? Isso pode? Isso é sinal de sua vitalidade, solidez, integridade? Por que Freixo não se mostra indignado com toda a roubalheira do PT, preferindo focar no peixe pequeno do Cunha?

Ah, sabemos a resposta: porque o PSOL não passa da “linha auxiliar” do PT. É o PT “puro” de ontem – ou o sujo de amanhã, se chegar ao poder (Deus nos livre!). E ainda tem a pecha de falar em “síndrome da moralidade seletiva”…

Rodrigo Constantino

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