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A obsessão com a desigualdade denota uma mentalidade equivocada de riqueza como jogo de soma zero
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A pesquisa da organização Oxfam International gerou espanto em muita gente. Um seleto grupo de apenas 85 pessoas concentraria a mesma riqueza que os 3,5 bilhões mais pobres do planeta. A fortuna desses bilionários seria de US$ 1,7 trilhão. Os 1% mais ricos do mundo concentrariam a metade da riqueza global. Diz a matéria:

Para a Oxfam, dedicada ao combate à pobreza, o alto nível de desigualdade está relacionado à concentração de poder, que garante mais oportunidades aos mais favorecidos. A entidade cita pesquisas realizadas em seis países, inclusive o Brasil, que mostram que a maioria das pessoas acredita que as leis são distorcidas em favor dos mais ricos. Segundo o estudo, paraísos fiscais, práticas anticompetitivas e baixo investimento em serviços públicos estão entre os fatores que dificultaram uma melhor distribuição de oportunidades.

A mim, o foco obsessivo na desigualdade sempre pareceu fruto ou do sentimento de inveja, o mais mesquinho de todos, ou da ignorância econômica, ao tratar a economia como um jogo de soma zero, onde José é rico porque Pedro é pobre. A típica mentalidade marxista tão disseminada por nossos ilustres professores.

Ofereço um outro ponto de partida. Que tal analisarmos as desigualdades comparando o presente com o passado? Ou seja, ao invés de comparar os mais ricos de hoje com os mais pobres de hoje, que tal comparar a vida dos pobres de hoje com a vida dos pobres de ontem, ou mesmo dos ricos de ontem?

Esse exercício mudaria bastante o quadro. Recomendo o livro The Rational Optmist, de Matt Ridley, sobre o assunto. O autor traz uma quantidade infindável de dados históricos mostrando como a riqueza evoluiu nos últimos séculos, como o comércio permitiu um grau de conforto material inimaginável para nossos antepassados.

Imaginem alguém voltar no tempo e falar para uma tradicional família campestre do século 19 que seus filhos não mais teriam de trabalhar duro para ajudar nas plantações, mas que poderiam apenas focar nos estudos. Que eles não precisariam mais dedicar boa parte do dia para colher lenha e ter alguma energia em casa, bastando apertar um botão em troca. Que o calor do verão seria combatido com uma máquina chamada ar condicionado. Que tudo isso seria possível com cada um do casal trabalhando apenas 8 horas por dia. Eles certamente questionariam onde está a pegadinha.

O avanço na produtividade do trabalho com o capitalismo tem sido brutal. Fazemos hoje muito mais com muito menos. Produzimos uma quantidade de energia absurda sem ter de devastar florestas inteiras para isso. Temos uma produção de alimentos crescente utilizando áreas cada vez menores e liberando um contingente gigantesco de trabalhadores do campo para fazerem outros serviços nas cidades.

Em resumo, o capitalismo tirou centenas de milhões da completa miséria, o estado natural da vida humana, e permitiu um aumento expressivo da população mundial. Se temos 7 bilhões de bocas podendo ser alimentadas hoje, isso se deve ao capitalismo.

Infelizmente, ainda há, sim, muita miséria, justamente por causa dos obstáculos impostos por governos ao funcionamento do mercado. Os locais mais pobres são também aqueles com menos liberdade econômica, menos empreendedorismo, menos concorrência de empresas na busca pelo lucro em ambiente com respeito às regras do jogo.

Quanto mais perto do modelo socialista, que só pensa em distribuir o que já existe, mais pobreza temos (alguns países que ficaram ricos conseguem bancar um modelo distributivista por algum tempo, mas não sem um alto custo e sem ameaçar seu próprio sucesso). É uma mentalidade ex post facto, que olha em retrospecto aquilo que já existe, que foi criado por outros, e exige sua parte como se fosse um “direito natural”, típico das crianças mimadas.

O objetivo de reduzir a pobreza, portanto, é louvável. Mas quando o foco se desvia disso para o combate à desigualdade em si, aí temos um grande perigo à frente. Afinal, tirar dos ricos para dar aos pobres é a fórmula mais certeira de aumentar a pobreza. Tire os bilhões do casal Gates e doe aos africanos, e teremos apenas mais dois miseráveis no mundo.

Muitos dos ricaços modernos vêm do setor de tecnologia, no Vale do Silício. Não é coincidência. Lá temos um ambiente extremamente competitivo, meritocrático, com bastante capital para investimento. Esses empreendedores bem-sucedidos não tiraram riqueza de ninguém para acumular seus bilhões; ao contrário: criaram riqueza para a humanidade!

Temos ganhos de produtividade, mais conforto, mais lazer, mais tecnologia, justamente porque essas empresas, muitas vezes começando com apenas mil dólares em garagens, foram capazes de inovar, de trazer ao mundo algo valorizado pelos próprios consumidores. Suas fortunas, portanto, são o reflexo dessas conquistas sociais que tivemos. São legítimas. Sobretaxar seus patrimônios seria injusto e ineficaz para combater a miséria.

Dito isso, há sim alguns instrumentos políticos que servem aos interesses dos mais ricos e são injustos. Representam o que se convencionou chamar de “capitalismo de estado” (mas prefiro fascismo ou socialismo light), em contraste ao capitalismo liberal. São subsídios, barreiras protecionistas, estímulos monetários que inflam o preço dos ativos, enfim, intervenções estatais que alteram as regras do jogo da livre concorrência.

Se desejamos viver em um mundo com menos pobreza em termos absolutos, desejo nobre que, creio, quase todos compartilham, então precisamos deixar o foco na desigualdade um pouco de lado e mirar mais nas causas da riqueza. Até porque as causas da pobreza conhecemos: é nosso estado natural. Basta olhar para trás para ver como era dura a vida de nossos antepassados, ao contrário da visão idílica e romantizada de muita gente.

A economia não é um jogo de soma zero. Temos claramente um aumento da riqueza mundial com o passar do tempo, que se tornou exponencial após a Revolução Industrial e o avanço do capitalismo. Isso se deve ao aumento da produtividade do trabalho, graças às várias inovações tecnológicas. Se quisermos que continuem, precisamos valorizar esses empreendedores inovadores, e não atacá-los como “exploradores”, como se sua riqueza fosse fruto da miséria alheia. Nada mais falso. E nada mais prejudicial aos pobres.

Rodrigo Constantino

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