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A origem do problema: um estado pantagruélico
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Já escrevi alguns textos, como esse, alegando que é absurdo focar nas empreiteiras como corruptoras e ignorar o cerne da questão, que é o estado obeso e corrupto, tomado por uma quadrilha. Infelizmente, não são poucos os que ainda dirigem sua revolta aos empresários ladrões, deixando em segundo plano os políticos, os que criaram a situação toda.

Alguns leitores chegaram a apontar para o escândalo da Fifa para mostrar que também há corrupção na iniciativa privada, ignorando que os negócios bilionários da Fifa são sempre com governos do outro lado. A origem do problema está invariavelmente no estado, principalmente no estado obeso.

Em sua coluna de hoje na Folha, Reinaldo Azevedo afirma exatamente isso, mostrando como adoramos insistir nos mesmos erros, sem nunca aprender com eles. Reinaldo mostra como o estado bandido acaba sempre absolvido pela população, que clama por mais estado para resolver os males criados por ele mesmo. Diz meu vizinho virtual:

Esses príncipes da roubalheira que infelicitam o Brasil encontram na estrutura do Estado as condições necessárias, mas ainda não suficientes, para exercer o seu ofício.

É preciso também que se respire uma esfera estatista, uma cultura do ódio à iniciativa privada, à empresa e ao lucro. Dados esses elementos, pronto! Esse país poderá continuar deitado eternamente em berço esplêndido. Seu apogeu coincidirá com a mediocridade.

No médio e no longo prazos, pior que o petrolão é o crime intelectual e moral que se está cometendo no Brasil. E a gama de culpados, nesse caso, é gigantesca, a começar da imprensa. Caímos no conto do vigário de que a Petrobras foi vítima de uma quadrilha e que não integra, ela própria, o grupo de malfeitores.

Sofremos, segundo Reinaldo, de uma “dependência mental do estatismo”, que traz sérios riscos ao país. Não poderia concordar mais, e tenho batido sempre que possível nessa tecla: o mal do Brasil, seu verdadeiro câncer, é a mentalidade estatizante, que olha para o estado como um Messias salvador da pátria. Por isso é tão importante o livro que acaba de ser lançado por Bruno Garschagen, explicando por que temos que parar de acreditar no governo como a resposta para tudo. Esse é “o” problema do Brasil.

Como exemplo temos a proposta “mágica” para acabar com a corrupção: impedir o financiamento das empresas para as campanhas eleitorais. É muita ingenuidade mesmo. É olhar a árvore e não enxergar a floresta. É sempre absolver o grande vilão da história, o estado obeso, intervencionista, poderoso demais em áreas que fogem de suas funções básicas. Reinaldo desabafa: “Não por acaso, essa é a proposta do PT, partido que mais arrecada e que é protagonista do petrolão. Segundo essa tese, políticos ladrões são apenas homens bons, que caíram em tentação, à espera de financiamento público. Lixo!”

Quem não tem sua parcela de culpa aliviada no julgamento do jornalista é a própria imprensa, sempre pronta para ser conivente com esse diagnóstico equivocado que isenta o estado de responsabilidade. Um exemplo citado pelo autor foi a reação da imprensa diante das propostas de maior controle das estatais pelo Congresso, dificultando de alguma forma sua captura e uso político. As propostas de Renan Calheiros e Eduardo Cunha foram recebidas “ou com frieza burocrática ou pelo viés da guerrilha particular promovida contra Dilma pela dupla de peemedebistas e pela oposição -como se ela não fosse só o que passa, e o Estado pantagruélico, o que fica”.

Eis o ponto-chave aqui: é esse estado pantagruélico que precisa ser combatido. É ele que permite tanto abuso quando uma quadrilha disfarçada de partido chega ao poder. É ele que representa um instrumento tentador e quase irresistível aos corruptos e corruptíveis, pois o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente, como sabia Lord Acton. Mas quem coloca como prioridade esse problema, à exceção dos poucos, ainda que crescentes, liberais? A discussão quase não se faz presente na imprensa. Discutimos o supérfluo e deixamos de lado o essencial.

“Não sairemos facilmente da lama”, conclui em tom sombrio, ainda que realista, Reinaldo Azevedo. De fato, não sairemos facilmente da lama, enquanto boa parte da população brasileira atacar apenas os sintomas dos problemas, sem jamais mergulhar em suas causas, suas raízes, suas origens. Parafraseando com adaptações o marqueteiro de Bill Clinton, eu diria: É o tamanho do estado, estúpido!

Rodrigo Constantino

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