A prostituição, dizem, é a profissão mais antiga de todas. Reagan chegou a falar sobre sua semelhança com a segunda profissão mais antiga, a política. Brincadeiras (ou não) à parte, o fato é que cobrar por sexo é algo tão velho quanto o homem. E sempre foi alvo de duros ataques das moralistas de plantão.
Hoje, essas moralistas não são mais as senhoras carolas, mas as feministas. Estas se dividem em dois grandes grupos distintos: as que relativizam tudo para condenar o amor; e as que atacam a prostituição por seu lado “machista” e “opressor”.
O primeiro grupo quer nos convencer de que não há diferença moral alguma entre ser puta ou médica respeitável e mãe de família. Seu caminho é o relativismo moral exacerbado, e são aquelas que enaltecem a “terapeuta sexual” que transou com 900 caras, como se não houvesse distinção alguma entre isso e uma terapia, digamos, tradicional.
Esse foi o grupo que dissequei em meu Esquerda Caviar. São as feministas da Femen, “Marcha das Vadias” ou coisa do tipo. Em tempos onde é proibido julgar, pois ninguém mais tem preconceito, o pai que alega preferir ter uma filha advogada ou veterinária em vez de prostituta só pode ser um reacionário preconceituoso.
O segundo grupo é formado pelas novas moralistas, que mascaram sua inveja com a roupagem ideológica. Ao contrário do primeiro grupo, não querem enaltecer a prostituição, mas destruí-la com a força das leis. A prostituição vira, para elas, um instrumento de opressão do capitalismo.
É contra esse segundo grupo que Luiz Felipe Pondé escreveu sua coluna de hoje na Folha. Seguem os principais trechos:
A repressão ao sexo mudou de lugar, agora ela está ali onde se situa o discurso “por um mundo melhor”. As antigas “freiras” e senhoras protestantes de preto, que falavam de pecado e babavam de ódio das mais gostosas, agora propõem a extinção do sexo pago em nome da “justiça social”. Ou seja, a puta, a garota de programa, deve deixar de existir. Antes era o pecado, agora é a “exploração do corpo”.
O conceito de pecado implica em desejo reprimido (o que dá tesão), o de “exploração” não pressupõe o desejo, mas sim o papo-furado do “capital malvado”. Gente chata essa que fala de “controle político do corpo”.
Meu Deus, quando é que nos tornamos tão incapazes de entender um mínimo da natureza humana? Já sei: desde que criamos essa noção autoritária de “lutar por um mundo melhor”.
Se um dia não existir mais mulheres que cobram por sexo (de modo direto e sem rodeios), a violência no mundo será ainda maior. Sexo e amor sempre custam dinheiro, além de outras coisas. Aliás, a garota de programa é a mulher menos cara do mundo, custa só dinheiro.
[…]
Mas, eis que o Monsieur Normal, leia-se, o chato do François Hollande, presidente da França, resolveu multar quem for pego com uma dessas mulheres generosas. Não vai adiantar, só vai aumentar a violência, o crime, a distancia geográfica entre o homem e a mulher que querem fazer sexo sem complicações.
Mas, seguramente, vai aumentar a arrecadação do Estado, única coisa que socialista entende de economia. No resto, são analfabetos que só atrapalham o mundo. O que alimenta o socialismo como visão de mundo é a inveja dos que não conseguem ganhar dinheiro contra os que conseguem. De novo, o pecado (a inveja), ilumina melhor nossa natureza do que o blá-blá-blá da política como redenção do mundo.
Os “corretos” falam em “profissional do sexo”, porque consideram a expressão puta ou garota de programa um desrespeito com essas mulheres. Pura hipocrisia, como sempre, quando se fala de pessoas que querem “um mundo melhor”. Como dizia o filósofo Emil Cioran, vizinhos que são indiferentes são melhores do que vizinhos que têm uma “visão de mundo”.
Mas, graças a Deus (que nos entende melhor do que esses santinhos de pau oco), essa lei não vai adiantar porque quanto mais se castiga a nudez paga da mulher, mais deliciosa ela fica.
Ao final, a mulher que troca sexo por dinheiro, sempre é mais desejada quando encontrá-la fica ainda mais caro.
Como liberal com pitadas de conservadorismo no lado da moral, sou contra ambos os grupos. Não acho que prostituição seja uma “profissão” louvável como qualquer outra, e que tanto faz ser puta ou médica ou enfermeira. Acho que é um ofício degradante, que ninguém seria indiferente ou gostaria de ser um legítimo filho da puta, e que nossos valores morais deveriam refletir isso.
Por outro lado, não defendo em hipótese alguma a intervenção estatal nisso. Adultos responsáveis, cientes de suas escolhas, que resolvem trocar sexo por dinheiro, é algo da esfera estritamente privada. Não nos diz respeito. As leis não devem se intrometer nessa troca voluntária.
Em resumo, que a prostituição seja livre e, ao mesmo tempo, carregue sua estigma social de imoralidade. É assim, penso, que deve ser.
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