Em artigo publicado hoje no GLOBO, o historiador Marco Antonio Villa toca na ferida e aponta para a postura acovardada de nossa “oposição” em meio aos infindáveis escândalos de corrupção envolvendo a mais alta cúpula do governo. O PT vai se esfarelando por conta de um juiz e sua equipe, que atuam de forma heróica, enquanto os políticos da “oposição” preferem uma postura acanhada, tímida e quase conivente. Diz Villa:
O significado mais perverso do projeto criminoso de poder e da crise econômica é a destruição dos projetos de vida de milhões de brasileiros. São projetos acalentados anos e anos e que a discussão da macropolítica acaba deixando de lado: os sonhos da casa própria, de obter um diploma universitário, de se casar, entre tantos outros, que, subitamente são inviabilizados. E os maiores atingidos são os mais pobres, que não têm condições de sequer vocalizar suas queixas, seus protestos.
A velocidade da crise não pode mais ser controlada. Quando o governo aparenta viabilizar um acordão negociado com o que há de pior na política brasileira, vem a Operação Lava-Jato para atrapalhar o negócio — pois não passa de um negócio. A ação do juiz Sérgio Moro é histórica. Age dentro dos estritos termos da lei e já obteve grandes vitórias. Até o momento, foram 75 condenações, 35 acordos de delações premiadas, 116 mandados de prisão e R$ 1,8 bilhão recuperados. E a 21ª fase da Lava-Jato acabou impedindo o acordão. Não é que a Justiça age na política. Não. É a política — entenda-se, os partidos e parlamentares de oposição — que não consegue estar à altura do grave momento histórico que vivemos. A oposição não faz a sua parte. Evita o confronto como se a omissão na luta fosse uma qualidade. Se estivesse no Parlamento inglês, em maio de 1940, defenderia negociar a paz com Adolf Hitler. O governo Dilma caminha para o fim sem que a oposição seja o elemento determinante.
É, de fato, uma pusilanimidade inaceitável. Por onde anda Aécio Neves? Resolveu escrever sobre o clima em sua coluna desta segunda na Folha. E FHC? Anda elogiando Dilma e lamentando o fato de que Lula não quis conversar com ele. Essa gente vive no mundo da Lua!
É uma total falta de conexão com a realidade do país, com os anseios do povo brasileiro. Pode até ser um cálculo político frio de que, se as coisas continuarem assim, o governo cairá no colo dos tucanos em 2018. Mas e o mínimo de responsabilidade civil e espírito patriótico?
“Não é apenas um caso de corrupção de enormes proporções. É mais, muito mais. O conjunto da estrutura de Estado está carcomido pelo projeto criminoso de poder”, escreve Villa. E, diante disso tudo, a nossa “oposição” vai fingir que está na Suíça e vivendo em condições normais de temperatura e pressão? Até quando?
Rodrigo Constantino