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Aborto não pode ser dividido de forma simplista entre “liberais” e “conservadores”

Já mostrei aqui que é errado importar a divisão “liberais x conservadores” para o Brasil, incorporando certos “progressistas” claramente de esquerda ao time dos liberais. Nada mais falso. Mas é o que vem fazendo muita gente, talvez porque o termo “esquerda” ande um tanto desgastado. O jornal Folha e muitos de seus colunistas embarcaram nessa canoa furada.

É o caso de Hélio Schwartsman. E para piorar, ele usou tal divisão na questão do aborto, uma das mais cabeludas que existem. Conheço liberais que condenam veementemente o aborto. Libertários mesmo, como Ron Paul, são contra. Não dá para encaixar questão tão complexa nessa visão simplista. Diz Schwartsman:

Quanto mais leio sobre o cisma entre liberais e conservadores, mais me convenço de que estamos diante de visões de mundo com forte componente genético e que geram reações viscerais bastante resistentes a modificação. Quem percebe o aborto como direito da mulher não muda de ideia com facilidade, e quem o considera uma forma particularmente covarde de assassinato tampouco deixa de senti-lo como uma agressão.

Uma vez que não é realista esperar que um lado se dobre ao outro, só resta tentar desarmar o conflito. Na prática, isso implica, até por razões matemáticas, que, em sociedades multiculturais complexas como a nossa, é a posição liberal que deve prevalecer, já que ela autoriza cada grupo a viver segundo seus valores, enquanto a conservadora exige que a sua visão seja imposta aos demais.

Só há um “detalhe”: se, para liberais ou conservadores, o feto é uma vida humana, não está em jogo impor seus valores aos demais, e sim impedir um assassinato. Não faz sentido o argumento “liberal” de Hélio nesse caso, uma vez que não estamos falando de algo que diz respeito apenas à mulher, e sim a uma possível vida humana.

A linha de raciocínio do colunista seria tão absurda para um conservador ou mesmo um liberal que enxerga no feto uma vida humana, como se ele defendesse que o conservador não deve se meter num pai que quer matar seu filho, para não “impor seus valores aos demais”. Aqui, o argumento que serve para legalização de drogas não se aplica, pois há terceiros diretamente envolvidos.

O debate sobre aborto continuará sendo extremamente delicado, e a estratégia de “acordo pacífico” do colunista da Folha, em favor da visão “liberal”, não parece convincente. O problema continua…

PS: Se os “liberais progressistas” querem mesmo deixar os demais em paz em vez de impor sua visão de mundo, deveriam começar parando de defender imposto progressivo, taxação sobre herança e tudo mais, não é mesmo? Por que eles têm tanta tara pelo bolso alheio?

Rodrigo Constantino

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