Nunca consegui entender bem por que chamamos de “acordo de livre-comércio” um tratado de centenas de páginas negociado e assinado por dezenas de burocratas do governo de cada lado. O nome certo deveria ser “acordo de burocratas”, ou algo do tipo. Mas feita a ressalva, claro que, como liberal, aplaudo qualquer acordo desses que signifique a redução da burocracia existente. É o caso do acordo negociado com o México.
Deixando de lado a entrevista tosca da presidente Dilma, que alguém poderia até imaginar ter sido concedida sob efeito da tequila, a verdade é que os dois países devem mesmo reduzir as barreiras protecionistas de suas economias e intensificar o comércio bilateral. A tentativa de aproximação já pode inclusive significar um abandono gradual da velha postura espelhada no fracassado Mercosul, hoje uma camisa de força bolivariana a amarrar nossa indústria.
O Brasil perdeu tempo demais por motivos ideológicos. O assessor de política externa e um dos principais “pensadores” do PT, Marco Aurélio Garcia, já causou estrago suficiente em nosso país e nossa economia devido à sua visão de mundo ultrapassada e abjeta, eivada de antiamericanismo infantil. Por conta disso, insistimos no Mercosul, ao lado de regimes fracassados que sequer respeitavam a cláusula democrática, como o caso venezuelano, em vez de negociar acordos bilaterais vantajosos para o país.
Enquanto brincávamos de ser “rabo de sardinha”, deixando países como a Bolívia abusarem de nossas empresas sem nada fazer, os países que compõem a Aliança do Pacífico seguiam à contramão, fechando acordos com a Europa e os Estados Unidos, e colhendo bons resultados. Antes tarde do que nunca! É cedo demais para dizer que houve de fato uma mudança estrutural, mas as negociações com o México apontam nessa direção e alimentam alguma esperança.
O veto do Senado na sabatina do irmão de Antonio Patriota, o embaixador Guilherme Patriota, para representar o Brasil na Organização dos Estados Americanos (OEA) foi uma sinalização importante ao governo Dilma. Marco Aurélio Garcia se sentiu diretamente atingido e acusou os senadores de “macarthismo”, uma reação patética, ainda que esperada, do estudioso de Gramsci. Mas o fato é que o país não aguenta mais pagar o elevado preço dos equívocos na política externa derivados da mentalidade tacanha de Garcia e companhia. É preciso mudar.
Mensagem que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) também reforça por meio de artigo de seu gerente executivo de comércio exterior publicado hoje no Estadão. Nele, Diego Bonomo tenta até salvar a defesa do protecionismo comercial feito pela CNI no passado, como se fosse adequado para um determinado contexto, mas constata a necessidade de mudança, de mergulhar em um ambiente mais livre para beneficiar a própria indústria nacional:
O que o Brasil e a indústria precisam, não só neste momento como sempre, é de livre mercado. Somente ele pode impor a pressão constante por melhoria na produtividade, por busca de excelência e competitividade. Somente ele coloca o adequado mecanismo de incentivos em jogo, premiando os acertos e punindo os erros. O intervencionismo estatal, o protecionismo comercial, isso só atrapalha. Pode gerar vantagens pontuais para certos grupos, mas ao longo do tempo pune a economia como um todo.
Tendo isso em vista, claro que não chega a ser uma solução ideal colocar o governo e seu aparato burocrático em jogo para “estimular” as exportações e negociar acordos bilaterais. O melhor mesmo seria tirar o governo da frente, liberar o caminho, e abraçar o liberalismo. Mas como isso parece distante, principalmente enquanto o PT estiver no poder, então os acordos bilaterais de livre-comércio representam uma alternativa razoável. Mesmo que incluam até a cachaça e a tequila como designações próprias e produtos típicos do Brasil e do México.
Rodrigo Constantino