Logo após uma tempestade que deixou algumas ruas do centro histórico de Cartagena semi-alagadas, teve início às 17h (19h em Brasília) a cerimônia de assinatura do tratado de paz entre o governo colombiano e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
O local escolhido foi o centro de convenções da cidade, mas do lado de fora, aberto ao público. A praça diante do local estava tomada.
No palco, alguns dos mandatários latino-americanos convidados, entre eles Michelle Bachelet (Chile) e Nicolás Maduro (Venezuela) –ambos países observadores do processo–, Mauricio Macri (Argentina), Pedro Pablo Kuczynski (Peru), Rafael Correa (Equador), Enrique Peña Nieto (México) e Horacio Cartes (Paraguai), além do mandatário colombiano, Juan Manuel Santos, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, e o líder das Farc, Rodrigo “Timochenko” Londoño.
Após a assinatura, o líder guerrilheiro colocou em sua camisa um broche com uma pomba da paz na camisa, e os dois se cumprimentaram.
“Timochenko” disse “que ninguém duvide que entraremos na política sem armas, para conquistar mentes e corações”. E encerrou sua fala pedindo uma “paz negociada para os conflitos em Israel, na Síria e no mundo inteiro”.
Ele levantou o público no momento em que disse, em tom mais alto: “Nós das Farc pedimos perdão pela dor que causamos”.
Pedir perdão basta? Para dar conta de milhares de vidas destruídas, de inúmeros assassinatos, sequestros, vítimas do tráfico de drogas, tudo em nome de uma ideologia? Fica por isso mesmo? Qual a mensagem que isso transmite? A de paz, ou a de que pode praticar o crime que for em nome de uma ideologia, desde que depois diga que se arrependeu e peça perdão em público, pronto para virar um senador ou mesmo um presidente?
Já comentei aqui sobre esse acordo de paz. Entendo o desespero e o cansaço de quem não aguenta mais a guerra imposta pelas Farc, mas o caminho mais curto para o fim da guerra é a derrota. Em artigo publicado hoje na Folha, o chileno José Miguel Vivanco, diretor da ONG Humans Right Watch para as Américas, levantou questões importantes sobre a impunidade que esse acordo celebra:
Milhares de vítimas sofreram atrocidades sistemáticas nas mãos das Farc. As guerrilhas mataram e raptaram civis, foram responsáveis por desaparecimentos, promoveram violência sexual generalizada, usaram crianças como soldados e sujeitaram combatentes a tratamento cruel e desumano.
Pelo acordo, os combatentes das guerrilhas responsáveis por esses e outros abusos, incluindo crimes de guerra e contra a humanidade, conseguirão evitar a prisão. Aqueles que confessarem, imediata e integralmente, seus crimes terão restrições modestas e curtas a certos direitos, como o de livre circulação, e serão obrigados a trabalhar em projetos comunitários.
[…]
A experiência na Colômbia nos ensina que o ciclo de abuso e violência por todas as partes é perpetuado pela certeza da não punição. Com as deficiências do acordo, se mostra bastante evidente o risco da continuidade de violações aos direitos humanos em massa na Colômbia.
Não creio que se terroristas das Farc e ditadores como Raúl Castro e Nicolás Maduro estão festejando tanto esse acordo o lado decente, que respeita a vida humana, devesse celebrar em conjunto. Quando o diabo está feliz, é sinal de que há pouco para comemorar nesse pacto mefistofélico…
Rodrigo Constantino
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