Como não admirar quem chega aos 80 anos com a independência para dizer o que pensa, sem se curvar diante da maré politicamente correta? Se as feministas tivessem mais contato com a poesia, talvez fossem menos amarguradas, ressentidas, e deixassem de lado a visão marxista de luta de classes transportada para dentro do casamento. Eis um trecho da entrevista ao GLOBO:
O movimento feminista, que cada vez ganha mais força nas ruas, reunindo milhares de pessoas em marchas, já sendo chamado de “primavera das mulheres” a anima?
Não. Homicídio tornou-se uma palavra fraca. Por que “feminicídio”? Me lembra bandeiras, discursos irados, passeatas. O assassinato de mulheres é horrível não porque é de mulheres, mas porque a mulher é também uma pessoa. Qualquer assassinato é hediondo até prova em contrário. Enquanto nos distraímos com bandeiras e neologismos, o crime segue fagueiro e impune contra homens, mulheres, crianças, velhos, povos, contra a Humanidade. Dizer “feminicídio” não muda a questão. A revolução é de outra ordem. É moral, educacional, religiosa, civil, espiritual. Supõe um país que se dê ao respeito em suas instituições, um povo educado, igrejas não mercenárias. Onde está o líder civil ou um santo que nos leve a verdes pastagens e água pura?
Qual sua opinião sobre os projetos de lei que criminalizam todo tipo de aborto, como o PL 5069?
“Não matarás”. Salvo se em legítima defesa. Como tornar legal o aborto se a criança, inocente, incapaz, dependente da mãe para viver também é titular do direito inalienável à vida? Qual vida vale mais? É bom não esquecer: a vida de qualquer um é um valor em si mesma. Se a gravidez é uma ameaça real à vida da mãe, instala-se uma situação das mais terríveis e complicadas que conheci até hoje. Faz-se aborto por miséria, desespero, vergonha e egoísmo na maioria das vezes. As leis civis e religiosas se turvam diante deste problema, antes de tudo moral, de profunda complexidade e consequência. Necessita para sua resolução muita coragem e discernimento, que nem sempre andam juntos. As legislações, reconhecendo a natureza dramática do assunto, tentam contorná-lo para resolvê-lo. A letra é fria e muitas vezes mata. Apelo ao último juiz para o qual só existe um tribunal, o da consciência. Será sempre trágico agir contra a luz desse juiz. Não há, fora da minha consciência, quem me proíba ou me libere para o aborto. Obedecer a lei — para o sim ou para o não — nunca é garantia de paz interior. Decidir pela vida é obrigação do legislador. Considero “Meu corpo, minhas regras” uma empáfia, militância, cunha para extrair variadas vantagens, inclusive a tentativa de descartar a consciência com aval político.
A maior prova de que a legalização (e banalização) do aborto é uma bandeira ideológica e feminista está no fato de que repetem que o feto é parte do corpo da mulher, como se fosse uma unha encravada, ignorando totalmente o ponto de vista do pai da criança. Afinal, bebês não são concebidos em atividade independente só da mulher, e necessitam da contribuição masculina.
Como ignorar por completo a responsabilidade e os direitos do pai, então? Só mesmo feministas contraditórias, que depois de anularem o pai na decisão do aborto lhe cobram deveres sobre os filhos que nascem.
O feminismo pode ter sido, um dia, um movimento mais sério, em busca efetiva por mais direitos para as mulheres. Hoje se tornou algo bem diferente, raivoso, ideológico demais, intolerante com várias mulheres inclusive, e totalitário. Mais poesia, menos feminismo!
Rodrigo Constantino
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