No ano passado, quando a Câmara analisava o processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff, após votar contra o afastamento da petista, Jean Wyllys cuspiu em Bolsonaro, e o Conselho de Ética abriu um processo para apurar o caso.
Relator do processo, o deputado Ricardo Izar (PP-SP) havia proposto como pena a suspensão do mandato de Jean Wyllys por 30 dias, mas o parecer foi rejeitado por 9 votos a 4.
Após a rejeição do relatório, a comissão aprovou um parecer alternativo, apresentado por Julio Delgado (PSB-MG), que recomendou a advertência ao deputado do PSOL. Para Delgado, o cuspe representou uma “ofensa moral”, mas não foi premeditado.
Após a decisão do conselho, Jean Wyllys divulgou uma nota na qual afirmou que a tentativa de cassar o mandato dele “fracassou” em razão da mobilização da sociedade e do apoio de artistas e movimentos sociais e de direitos humanos contra a tentativa de “alguns homofóbicos”, da “bancada fundamentalista” e de aliados de Eduardo Cunha de “calar a voz” dele.
O deputado afirmou, ainda, que “a pressão social valeu a pena”. Para ele, o fato de não ter sido suspenso foi uma “vitória da democracia”.
“No dia da sessão do impeachment, tive uma reação espontânea, humana, contra os xingamentos e agressões que há anos recebo na Câmara por conta da minha orientação sexual e das minhas posições políticas. Nunca antes na vida tinha cuspido em alguém (e não é a forma em que eu costumo agir, nem na Câmara, nem na minha vida privada), mas sou humano, tenho sangue nas veias, e o grau de violência, desrespeito e ofensas que recebo desde que estou deputado é intolerável”, declarou o deputado.
O Deputado Sandro Alex (PSD-PR) disse: “Me parece que estamos aqui julgando alunos. Mas, como na escola, antes da suspensão vem a advertência”. De fato, a postura de Jean Wyllys parece de uma criança birrenta mesmo. Mas eis o problema: alunos mimados nunca aprendem só com a advertência. E foi o caso. O deputado socialista disse, com orgulho, sobre a decisão: “Guardo como um troféu. O que redimiu aquela noite pavorosa foi um cuspe na cara de um fascista. Foram seis anos sendo difamado e, quando fui chamado de ‘queima-rosca’ naquela hora por ele, cheguei ao meu limite. Cuspiria de novo, sim”.
Ou seja, nada aprendeu! Sente-se no direito de pairar acima das leis por ser gay. Banca a vítima e acredita que, por isso, pode “reagir” da forma que quiser, inclusive desrespeitando o decoro do Congresso e da civilidade. Quando essa turma se convence de que é “vítima” sempre, então pode perpetrar os atos mais bárbaros que sempre serão vistos como “reações legítimas e justas”. São eternos agredidos, jamais agressores!
Os rótulos já foram decididos antes. Logo, Jean Wyllys, por ser gay e de esquerda, será sempre o coitadinho, não importa o que faça, e Bolsonaro, por ser de direita, será sempre um “fascista” e “racista”. Os atos de cada um não serão mais julgados de forma independente, imparcial, por uma Justiça “cega” e objetiva. No limite, se um tirar uma vida e o outro salvar uma vida, o assassino ainda será “do bem” e o salvador “do mal”. O “julgamento” é a priori, ou seja, fruto do preconceito.
É irônico, portanto, que a esquerda fale tanto em preconceitos. A advertência para Jean Wyllys ficou muito barata, não ensinou nada ao deputado, que se sente vingado e afirma que faria tudo novamente. Enquanto isso, Bolsonaro é perseguido por qualquer fala, e pode realmente pagar um preço elevado por ter dito que uma deputada não merece ser estuprada. Também é atacado por ter elogiado Ustra, enquanto esquerdistas elogiaram abertamente terroristas e ditadores e ficou por isso mesmo.
É esse duplo padrão que mata. É esse salvo-conduto de que goza a esquerda que tanto incomoda. O cuspe passou a ser visto como símbolo de justiça. As leis e as regras só existem para a direita. A esquerda, por “ser sempre vítima”, pode tudo. Mobiliza sua claque organizada em prol da impunidade. E depois ridiculariza o sistema, zombando dele, pois se coloca acima do bem e do mal. O gay pode tudo. O capitão estará sempre lascado.
Num mundo com Lava Jato e Síria, o leitor tem todo direito de pensar que esse tema é irrelevante. Mas discordo. São nessas pequenas coisas que vemos o poder de fogo da esquerda organizada, a força dos “fracos”, a influência da “marcha dos oprimidos” e o alcance da “revolução das vítimas”. Esse é um dos temais mais relevantes da era moderna. Os que falam em nome das “minorias” podem tudo, estão blindados contra as leis que continuam valendo para os reles mortais.
E isso, claro, é sempre um enorme perigo, um convite a mais e mais abusos, a ponto de um ditador como Maduro ser protegido por ser socialista. É a desgraça da modernidade explicada por um cuspe impune!
Rodrigo Constantino