Tenho várias divergências com os tucanos, por considerar o PSDB um partido muito aquém do liberalismo que defendo. Trata-se, afinal, de um partido de centro-esquerda, social-democrata. Mas é inegável que Aécio Neves representa, dentro desse quadro, um perfil com viés mais liberal, ou seja, uma social-democracia mais esclarecida e civilizada. Já havia comentado isso aqui, após sua palestra no Fórum da Liberdade, em Porto Alegre.
Tal percepção foi reforçada após a entrevista no Roda Viva ontem. Logo no começo o candidato tucano reafirmou com todas as letras que no primeiro dia de mandato anunciaria ao povo brasileiro uma nova estrutura de estado, bem mais enxuta, com metade dos ministérios atuais. Para quem não viu a entrevista, segue o vídeo na íntegra:
httpv://www.youtube.com/watch?v=cd6WV_FhRZc&feature=share
Aécio merece crédito por enfrentar o jogo baixo do PT, por ser alvo predileto dos militantes virtuais pagos pela quadrilha, nesse submundo podre das redes sociais, e ainda assim tentar manter o bom nível do debate político. Está certo ao se manter afastado da baixaria em que o PT costuma chafurdar. Claro, outros dentro do partido ou da aliança precisam assumir o papel de combate mais direto, mas Aécio precisa pairar acima disso, apresentando propostas construtivas, agregadoras.
O Brasil não aguenta mais a segregação promovida pelo PT, a disseminação de ódio entre a população, esse racha entre “nós e eles” que faz parte da tática petista de dividir para conquistar. O que precisamos hoje é de um projeto comum que deixe tais picuinhas para trás e foque no avanço institucional e econômico do país. Um resgate da ética, uma união em prol de metas favoráveis ao Brasil.
O objetivo pregado por Aécio é iniciar um novo ciclo político no país, redesenhando o papel do estado e adotando a meritocracia no setor público, sem ser refém de conceitos como progressista ou conservador. Entendo o receio com rótulos, especialmente em um país como o Brasil. O importante é o resultado. Minas Gerais, vale notar, de fato conseguiu importantes conquistas nesse sentido.
“Qualquer que seja o próximo presidente da República terá que ter a responsabilidade de tomar as medidas corretas”, disse. Aécio tem dito que não irá pautar seu governo com base em pesquisas eleitorais, ou seja, terá a coragem de adotar medidas impopulares, mas necessárias.
A inflação mirada será a do centro da meta, de 4,5% ao ano. Não há essa dicotomia vendida pelo PT, de que ter mais inflação é necessário para crescer mais. O que vemos é a estagflação como resultado da negligência com a inflação. Com Armínio Fraga como homem de confiança na área econômica, podemos acreditar nessas metas, algo que é impossível com Guido Mantega.
O Mercosul ideologizado também foi alvo dos ataques de Aécio, que tem sido bem assessorado por Rubens Barbosa nesta área. Eis o ponto forte de Aécio, em minha opinião: ele tem se cercado de especialistas com ampla experiência em cada área importante. Não dá nem para comparar os nomes próximos de Aécio com aqueles ligados ao atual governo Dilma. É covardia demais!
Enfim, um discurso firme na direção correta, sem dúvida aquém do que um liberal como eu gostaria, mas ainda assim um grande avanço em relação ao atual modelo petista. Sem levar em conta a extrema necessidade que temos de abortar o aparelhamento estatal realizado pelo PT o quanto antes.
Aécio Neves vem tentando se vender como a alternativa a isso que está aí. Até agora, tem se mostrado bem preparado para o desafio, que não será pequeno. Espera-se, para o bem do Brasil, que tal projeto de estado mais moderno e com escopo mais limitado seja logo colocado em prática, pois o povo brasileiro não suporta mais carregar o peso excessivo do estado nas costas.
Rodrigo Constantino
