Por Ricardo Bordin, publicado pelo Instituto Liberal e originalmente no blog do autor
A mera utilização da sigla da entidade servia como um selo de autenticidade da informação. Se o ritmo do aquecimento global era quase irrefreável devido à ganância dos capitalistas, segundo a ONU, então este fato era incontestável. Não havia fundamento para pôr em xeque a veracidade da afirmação: mais sensato era partir direto para o debate sobre como resolver o problema por ela apontado. Se a ONU havia dito, não havia porque desconfiar. Afinal, eles são uma instituição sem fins lucrativos que visa promover a paz mundial, e, portanto, totalmente confiável, correto?
Daí você descobre, depois de décadas, que tudo não passa de um grande engodo, que aquela junta de globalistas é, em verdade, a maior ONG do planeta, cuja atuação quer sobrepujar-se à soberania dos povos por meio de um governo mundial não eleito composto de burocratas sem rosto, incentivar o aborto, semear o ecoterrorismo e o antissemitismo, bem como interferir na economia, na educação e nas relações trabalhistas, centralizando em si mesma uma autoridade supranacional – isso tudo contando com um orçamento bancado quase que integralmente por Estados Unidos e Alemanha, e à sombra de bilionários como George Soros. Lá se vai ao chão um ídolo de barro.
Fazer maratona de filmes indicados para o Oscar da academia do Hollywood era passatempo garantido todo início de ano. Era bacana admirar a performance de atores e atrizes, bem como os enredos tão bem bolados e as produções esmeradas. Mais bacana ainda era ver as estrelas do cinema engajadas em causas humanitárias, adotando crianças da África e lutando por um mundo mais igual e justo. Ver em cena Angelina Jolie, DiCaprio, Brad Pitt, Cameron Diaz, Meryl Streep era garantia de grudar os olhos na tela e ficar encantado com a magia produzida nos estúdios.
Daí você descobre que todo aquele pessoal constitui a mais perfeita definição da Esquerda Caviar, que eles afirmam querer salvar nosso ecossistema enquanto voam de jatinho para todo lado, que fecham os olhos ou até mesmo prestam suporte a ditadores como os Castro, que ombreiam esforços com aqueles que querem ver o Ocidente tomado pela Lei da Sharia enquanto defendem gays e mulheres ao mesmo tempo. Não dá: não tem mais como olhar para este pessoal com os mesmos olhos inebriados de outrora. É outro ídolo de barro ruindo estrepitosamente.
Aquela banda irlandesa sempre foi presença garantida nas playlist desde os tempos das fitinhas K-7. Caetano e Chico representavam tudo de bom que a arte pode produzir – inclusive como instrumento de “luta contra repressão”. Ler Luis Fernando Veríssimo era sinônimo de escapar das mazelas do mundo nadando no bom humor do escritor por algumas horas. Ouvir Plebe Rude na festa era garantia de cantar a plenos pulmões aquela pergunta retórica “cadê minha fração de riqueza”.
E daí você descobre que este povo vive de braços dados com o MST enquanto mama na Lei Rouanet, que sonha com um sistema de governo que tenta dar certo há quase um século e vai ceifando vidas e a dignidade de indivíduos enquanto não param de deturpar Marx, que adoraria ver Luiz Inácio de volta ao Planalto, que gostaria que fosse implantado um bolsa-família em escala mundial. Eis outro ídolo de barro desmanchando-se na chuva da verdade.
A professora Ester, que ministrava aulas de História no ensino fundamental, era uma senhorinha simpática que me ensinou e a meus colegas que nosso país só é pobre porque os colonizadores malvados nos tiraram tudo que tínhamos à força, matando índios e escravizando negros pelo caminho. Que os imperialistas americanos estão sempre de olho em dominar outras nações mundo afora, e que até mesmo poderiam, um dia, invadir o Brasil de olho em nossos estoques de água potável – afinal, o capitalismo ainda vai acabar com os recursos naturais do planeta. Que a desigualdade em nosso país é fruto da ambição desmedida dos donos dos meios de produção – sempre sob o olhar atento de alunos que jamais sequer cogitariam duvidar daquilo tudo.
Que coisa lamentável olhar para trás e ser obrigado a constatar que a imagem que eu tinha da professorinha Ester não passa de outro ídolo de barro desabando diante dos fatos da vida real. Uma pena mesmo.
É complicado, sem dúvida. Dolorido muitas vezes. Quer dizer que tudo aquilo que acreditávamos era puro embuste? Que todos aqueles ídolos eram estátuas que não resistem ao menor empurrãozinho dos fatos sem estatelar-se no solo e partir-se em mil pedaços de ficção? Que coisa, viu. Vergonhoso deixar-se ludibriar tão facilmente.
Mas nunca é tarde para fazer uma faxina, remover todos os cacos espalhados no chão e não mais permitir que santos do pau oco invoquem para si tamanha autoridade moral e intelectual sem contestação. Faz parte do processo de amadurecimento do ser humano aceitar que errou, ainda que tenha permanecido errando por muito tempo. Persistir no erro e assistir a outros incorrendo nos mesmos enganos sem nada fazer é que é inaceitável.